Alvíssaras
"Homicídios, estupros e outros crimes são
inconhos da espécie humana, nasceram pegados à nossa espécie, que deve
ter cerca de 200 mil anos"
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 29/12/2014
Eta semana que começa
bem para quem não gosta de trabalhar. Quarta-feira temos réveillon,
quinta-feira é o dia 1º de 2015, sexta-feira é dia de descansar da
farra, sábado e domingo continuam sendo sábado e domingo. O país é rico,
faz parte dos Brics, um gerente da Petrobras economiza 100 milhões de
dólares, mora na Joatinga, bairro classe AAA do Rio, enquanto os donos
das maiores empreiteiras, coitados, têm R$ 0,00 em suas contas bancárias
bloqueadas pela Operação Lava-Jato, que tem hífen como aprendi no
programa de Maria Beltrão.
Ano que vem, se conseguir patrocínio, pretendo lançar o Prêmio Edadicilbup, publicidade ao contrário, para laurear as agências que se destacarem no processo de avacalhação da outrora brilhante propaganda brasileira.
Presumo que o leitor já tenha visto aquele comercial da Caixa com figuras grotescas, gordinhas, num campo de futebol chutando moedas de 1 real. Que é aquilo? Qual é a graça? Que mensagem transmite ao público-alvo? Existe público-alvo para aquele pavor veiculado exaustivamente numa porção de canais de tevê?
Além do prêmio, os gênios que inventaram os tais comerciais merecem a Medalha Edadicilbup: brasileiro adora medalha, comenda, colar, condecoração, qualquer coisa do gênero. É fenômeno que não consigo entender: sentir-se honrado com uma condecoração que já foi outorgada a todos os bandidos brasileiros. Meu saudoso amigo e confrade Murilo Badaró, que podia indicar como presidente da Academia Mineira de Letras alguns nomes para a Medalha da Inconfidência, certa vez me disse: “Eduardo, vi que você não tem a Medalha da Inconfidência. Vou indicar o seu nome”.
Respondi: “Por favor, presidente, não faça isso. Se você fizer vou ser obrigado a explicar pelo jornal os motivos pelos quais não aceito a indicação”. Ainda agora, em novembro de 2014, ficamos sabendo que o Ministério Público Federal cobrou do comandante do Exército, general Enzo Peri, a cassação das medalhas concedidas pela Força a cinco dos condenados no processo do Mensalão. Condenados e presos, vale notar, pelo Supremo Tribunal Federal.
Os ex-deputados José Genoíno (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) receberam nos últimos anos a Medalha do Pacificador. E José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, foi agraciado como Grande Oficial da Ordem do Mérito Militar. Por aí dá para sentir o tamanho da desmoralização do Exército, do Pacificador, do Mérito Militar, achincalhe que também se vê nas demais condecorações civis ou militares. Se há brasileiros ilustres, a maioria dos agraciados é a fina flor da bandidagem.
Ladroeira
É dos mais originais o argumento petista para justificar sua roubalheira na Petrobras: a corrupção sempre existiu. Não é verdade. O ato ou efeito de subornar uma ou mais pessoas em causa própria ou alheia, geralmente com oferecimento de dinheiro, o suborno dos dirigentes de uma estatal pressupõe a existência da empresa. A Petrobrás (com acento) foi criada em outubro de 1953.
Homicídios, estupros e outros crimes são inconhos da espécie humana, nasceram pegados à nossa espécie, que deve ter cerca de 200 mil anos. Há quem diga que o “homem moderno” data de 50 mil anos, mas ainda hoje há diversos tipos de modernidades modernosas ou não.
Na verdade, homicídio só passou a ser crime depois que foi enquadrado como tal: nullum crimen sine lege, não há crime sem lei – é imprescindível que a conduta delituosa tenha sido definida como tal pelo Estado. Jean de Léry, jovem sapateiro e seminarista, acompanhou missão francesa ao Brasil ali por volta de 1556. Convidado por alguns silvícolas, disse ter participado de um churrasco de carne humana, que não era crime entre os nossos irmãos indígenas. Outro dia, como vimos no noticiário, os três canibais de Garanhuns, PE, foram condenados a 16 ou 17 anos de reclusão só porque mataram e comeram uma jovem de 17 aninhos: o consumo de alimento proteico virou crime.
Consola-nos saber que em pouquíssimo tempo a trinca estará solta por “bom comportamento”, em condições de matar e comer outras pessoas. Valdemar Costa Neto já está em casa festejando a gravidez de sua nova companheira. Se for menino, o Brasil vibrará com o nascimento de Valdemar Costa Bisneto, que uma linhagem como a dos Costas merece preservação e louvor.
O primeiro Ali Babá, personagem fictício baseado na literatura da Arábia pré-islâmica, só tinha 40 ladrões, enquanto o moderno Ali Babá, nascido pertinho de Garanhuns, PE, tem centenas, milhares de operosos colaboradores, que não se acanham de recorrer ao homicídio, como no episódio do prefeito Celso Daniel “retirado” de um carro blindado dirigido por um comparsa apelidado Sombra.
O mundo é uma bola
29 de dezembro de 1482: a Ilha do Pico é integrada à capitania do Faial, data importantíssima porque foi na Ilha do Pico que nasceu, alguns séculos depois, o advogado Artur Tavares Bettencourt, açoriano de velha e boa cepa, que emigrou menino para o Brasil, foi juiz de direito e hoje advoga em Pouso Alegre, Minas Gerais.
Em 1891, Thomas Edison patenteia o rádio. Em 1992, Fernando A. Collor de Mello renuncia à Presidência do Brasil.
Ruminanças
“Nada é mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
Ano que vem, se conseguir patrocínio, pretendo lançar o Prêmio Edadicilbup, publicidade ao contrário, para laurear as agências que se destacarem no processo de avacalhação da outrora brilhante propaganda brasileira.
Presumo que o leitor já tenha visto aquele comercial da Caixa com figuras grotescas, gordinhas, num campo de futebol chutando moedas de 1 real. Que é aquilo? Qual é a graça? Que mensagem transmite ao público-alvo? Existe público-alvo para aquele pavor veiculado exaustivamente numa porção de canais de tevê?
Além do prêmio, os gênios que inventaram os tais comerciais merecem a Medalha Edadicilbup: brasileiro adora medalha, comenda, colar, condecoração, qualquer coisa do gênero. É fenômeno que não consigo entender: sentir-se honrado com uma condecoração que já foi outorgada a todos os bandidos brasileiros. Meu saudoso amigo e confrade Murilo Badaró, que podia indicar como presidente da Academia Mineira de Letras alguns nomes para a Medalha da Inconfidência, certa vez me disse: “Eduardo, vi que você não tem a Medalha da Inconfidência. Vou indicar o seu nome”.
Respondi: “Por favor, presidente, não faça isso. Se você fizer vou ser obrigado a explicar pelo jornal os motivos pelos quais não aceito a indicação”. Ainda agora, em novembro de 2014, ficamos sabendo que o Ministério Público Federal cobrou do comandante do Exército, general Enzo Peri, a cassação das medalhas concedidas pela Força a cinco dos condenados no processo do Mensalão. Condenados e presos, vale notar, pelo Supremo Tribunal Federal.
Os ex-deputados José Genoíno (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) receberam nos últimos anos a Medalha do Pacificador. E José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, foi agraciado como Grande Oficial da Ordem do Mérito Militar. Por aí dá para sentir o tamanho da desmoralização do Exército, do Pacificador, do Mérito Militar, achincalhe que também se vê nas demais condecorações civis ou militares. Se há brasileiros ilustres, a maioria dos agraciados é a fina flor da bandidagem.
Ladroeira
É dos mais originais o argumento petista para justificar sua roubalheira na Petrobras: a corrupção sempre existiu. Não é verdade. O ato ou efeito de subornar uma ou mais pessoas em causa própria ou alheia, geralmente com oferecimento de dinheiro, o suborno dos dirigentes de uma estatal pressupõe a existência da empresa. A Petrobrás (com acento) foi criada em outubro de 1953.
Homicídios, estupros e outros crimes são inconhos da espécie humana, nasceram pegados à nossa espécie, que deve ter cerca de 200 mil anos. Há quem diga que o “homem moderno” data de 50 mil anos, mas ainda hoje há diversos tipos de modernidades modernosas ou não.
Na verdade, homicídio só passou a ser crime depois que foi enquadrado como tal: nullum crimen sine lege, não há crime sem lei – é imprescindível que a conduta delituosa tenha sido definida como tal pelo Estado. Jean de Léry, jovem sapateiro e seminarista, acompanhou missão francesa ao Brasil ali por volta de 1556. Convidado por alguns silvícolas, disse ter participado de um churrasco de carne humana, que não era crime entre os nossos irmãos indígenas. Outro dia, como vimos no noticiário, os três canibais de Garanhuns, PE, foram condenados a 16 ou 17 anos de reclusão só porque mataram e comeram uma jovem de 17 aninhos: o consumo de alimento proteico virou crime.
Consola-nos saber que em pouquíssimo tempo a trinca estará solta por “bom comportamento”, em condições de matar e comer outras pessoas. Valdemar Costa Neto já está em casa festejando a gravidez de sua nova companheira. Se for menino, o Brasil vibrará com o nascimento de Valdemar Costa Bisneto, que uma linhagem como a dos Costas merece preservação e louvor.
O primeiro Ali Babá, personagem fictício baseado na literatura da Arábia pré-islâmica, só tinha 40 ladrões, enquanto o moderno Ali Babá, nascido pertinho de Garanhuns, PE, tem centenas, milhares de operosos colaboradores, que não se acanham de recorrer ao homicídio, como no episódio do prefeito Celso Daniel “retirado” de um carro blindado dirigido por um comparsa apelidado Sombra.
O mundo é uma bola
29 de dezembro de 1482: a Ilha do Pico é integrada à capitania do Faial, data importantíssima porque foi na Ilha do Pico que nasceu, alguns séculos depois, o advogado Artur Tavares Bettencourt, açoriano de velha e boa cepa, que emigrou menino para o Brasil, foi juiz de direito e hoje advoga em Pouso Alegre, Minas Gerais.
Em 1891, Thomas Edison patenteia o rádio. Em 1992, Fernando A. Collor de Mello renuncia à Presidência do Brasil.
Ruminanças
“Nada é mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).
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