quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Família - Eduardo Almeida Reis

Família é tudo aquilo que a gente chama de família. E não se fala mais nisso


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 24/12/2014



Em nosso idioma desde o século XIII, o substantivo feminino família veio do latim familìa,ae, que significava “servidores, escravos, séquito, casa, família”. Não me lembro quem foi que disse que “definir é limitar”, verdade que pode ser vista nas várias famílias que vemos por aí: de tipos, conjugal, de orientação, de palavras, de procriação, elementar, etimológica, extensa, ideológica, léxica, linguística, natal, nuclear, radioativa, a Santa Família e o fato de ser família, isto é, ser honesto, recatado.

Fernando Sabino, brilhante cronista, disse que crônica é tudo aquilo que a gente chama de crônica. Sua definição nos serve: família é tudo aquilo que a gente chama de família. No Congresso Nacional de um país grande e bobo há dois projetos de lei (PL) que vêm dando pano para mangas, um Estatuto da Família e um Estatuto das Famílias, nomes parecidos para propostas diferentes.
Na Câmara tramita o PL 6.583/13, Estatuto da Família, relatado pelo deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), que define família como o núcleo formado a partir da união entre homem e mulher por meio de casamento, união estável ou comunidade formada pelos pais e seus descendentes. No Senado tramita o Projeto de Lei Suplementar (PLS) 470/13, Estatuto das Famílias, que reconhece a relação homoafetiva como entidade familiar revendo o instituto da união estável e ampliando sua conceituação.

A partir daí a briga é muito divertida envolvendo bancada evangélica, bancada gay, bancada enrustida e outras bancadas, como se o país não tivesse centenas de coisas mais importantes com que se preocupar: PIB, violência, roubalheira, saúde, miséria, seca e os demais problemas que o leitor conhece de cor. Daí a sugestão que faço, com pureza d’alma, para adotarmos a definição de Fernando Sabino, mineiro de Belo Horizonte, amigo de infância de Ivo Pitanguy, tio de June Sabino: família é tudo aquilo que a gente chama de família. E não se fala mais nisso.

Dinamarca
Shakespeare (1564-1616) em Hamlet, sua peça mais estudada e representada até hoje, caprichou: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, Ato I, Cena IV. A fotógrafa Benita Marcussen, de Copenhagen, na Dinamarca, que ainda é um reino, mostrou que a maluquice continua adiantada em seu país. Não basta ser maluco, é preciso mostrar a maluquice. Benita divulgou uma série de fotos baseada na vida de homens que vivem com bonecas de silicone, como informou o Daily Mail.
Com cabelos brilhantes e sedosos, maquiagens pesadas e peles perfeitas, as bonecas, em alguns casos, substituem a mulher na existência de homens dinamarqueses, que levam um estilo de vida diferente e inusitado (sic). A matéria vem com as fotos, como vi no provedor Terra e não tenho como estampar aqui, mas os dinamarqueses embonecados vêm com pseudônimos.

A fotógrafa conheceu esses homens através de fóruns na internet. Alguns têm na boneca a única companhia. Outros são casados e têm filhos. Há ainda aqueles que perderam um ente querido e usam a boneca para aliviar a dor da perda. Shadowman (pseudônimo) dorme ao lado de sua boneca Carly. Ela tem a pele mais macia e foi feita justamente para ser uma boneca companheira de cama. Shadowman é viúvo e usa a boneca para amenizar a falta que a mulher lhe faz.

Embora tenha muitos homens, a exposição de fotos também conta com mulheres que compram bonecas. Angela comprou a boneca Anna em 2014 e diz que, desde então, ela é a sua melhor amiga. Kharn, à direita numa foto em que aparece com os seus pais, tem 56 anos e encomendou a boneca Alektra baseado em uma atriz de filmes adultos norte-americanos. Kharn é divorciado há 20 anos e diz que não trata Alektra como namorada, mas gosta de tirar fotos ao lado da boneca. Afirma ainda que está à procura de um “verdadeiro amor”.

Depois que perdeu a mulher de câncer, Deerman diz que tentou conhecer outra companheira, mas não conseguiu esquecer a falecida. Por isso, comprou uma boneca semelhante a ela e vive a seu lado relembrando os momentos em que a mulher estava viva. A série Men & Dolls está em exposição na Dinamarca. As bonecas custam cerca de mil libras, algo como R$ 4 mil, e podem ser feitas sob encomenda, com as características escolhidas pelo maluco.

O mundo é uma bola

Oba!, véspera de Natal, é noite de reencontrar sua família, que deve ter, como todas as outras, primos chatos, tias complicadas, avós senis: ninguém escapa. Se há inventário, então, é hora de reencontrar inimigos ligados pelo sangue. No dia 24 de dezembro de 640 foi eleito o papa João IV. Em 1294 foi eleito o papa Bonifácio VIII. Em 1734 foram publicadas as Cartas Filosóficas de Voltaire, pensador supimpa. Em 1768 fundação em Lisboa da Imprensa Régia. Em 1779 a rainha Maria I funda a Academia Real de Ciências de Lisboa. Em 1878 elevação de Guarapari à categoria de município para alegria da mineiridade, que curte férias praianas dormindo em colchonetes e fazendo fila para comprar água mineral. Hoje é o Dia do Órfão.

Ruminanças
“Se não tivéssemos orgulho, não nos queixaríamos do orgulho dos outros” (La Rochefoucauld, 1613-1680).

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