Frutas inibem bactérias
Pesquisa em andamento pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) mostra que
é possível impedir a comunicação bacteriana com alimentos nativos brasileiras
Daniel Camargos
Estado de Minas: 01/12/2014Mirtilo |
Comprar uma bandeja de morangos vistosos e vermelhos na feira, guardar na geladeira e dois dias depois, quando você pretendia comê-los, todos já estão moles e quase apodrecendo. Um estudo em andamento na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) busca evitar situações assim. A aluna de mestrado em saúde e nutrição da universidade Adeline Conceição Rodrigues desenvolve uma pesquisa chamada “Quorum quenching activity of native brazilian fruits”, que, em português, é “Atividade de inibição da comunicação bacteriana por frutas nativas brasileiras”.
Equipe de mestrado da Ufop com o professor Uelinton Pinto, que coordena os trabalhos |
O professor do Departamento de Alimentos da Ufop Uelinton Pinto, que orienta a pesquisa, explica que as bactérias se comunicam por sinais químicos, em um processo denominado quorum sensing. Esse processo pode ser entendido como um senso de consciência coletiva. As bactérias esperam o momento certo para montar um ataque ao hospedeiro e causar uma doença, por exemplo. Essa comunicação ocorre quando elas estão em alta densidade celular e os fenótipos regulados são diversos e importantes, definindo a atividade bacteriana em diferentes hábitats, incluindo alimentos e o corpo humano.
Porém, vários alimentos têm moléculas com potencial de inibição da comunicação bacteriana e é esse o foco da pesquisa de Adeline. A mestranda, de 26 anos, é formada em nutrição pela Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM) e explica que a ideia central de seu trabalho parte do conhecimento de que as bactérias se comunicam umas com as outras. “Quando é feita a comunicação, elas sabem o número de bactérias que há ali e se baseiam nisso para ligar os mecanismos que ativam o que elas causam”, detalha a mestranda.
PITANGA A comunicação entre as bactérias, segundo Adeline, é feita por sinais químicos e as substâncias encontradas em algumas frutas podem inibir essa comunicação. Com isso, são capazes de impedir os efeitos danosos das bactérias às frutas e até aos seres humanos.
A aplicabilidade mais plausível da pesquisa é controlar a deterioração das frutas, mas não é descartada a possibilidade de as substâncias poderem impedir doenças humanas. Por enquanto, os estudos já foram feitos com pitanga, acerola, morango vermelho e grumixama, fruta típica da região de Ouro Preto. Os resultados, segundo Adeline, são significantes. “A ideia é que a substância possa aderir nos biofilmes que envolvem os alimentos”, explica Adeline. Outra opção, segundo a mestranda, é ser usada em uma solução sanitizante, que possa matar as bactérias, e até ser usada em embalagens de iogurtes e frutas.
CONHEÇA
Alguns alimentos que apresentam moléculas com potencial de inibição da comunicação bacteriana
» Mirtilo
» Manjericão
» Extrato de alho
» Broto de feijão
» Flavonoides de frutas cítricas
» Extrato de brócolis
» Óleo de orégano
» Extrato de Romã
» Resveratrol (uva)
» Alho
» Fenólicos de gengibre
» Mel
» Camomila
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