Zero Hora - 14/12/2014
Tudo
começou quando Yann Arthus-Bertrand, criador da Fundação GoodPlanet, passou um
dia com um aldeão enquanto esperava o conserto do helicóptero em que viajava
pelo Mali. Ele estava lá para fotografar paisagens, mas se encantou pelas
expressões e pela humildade do aldeão, e foi assim que teve a ideia do projeto 7
Mil Milhões de Outros, que exibe o que pensam, sentem e sofrem habitantes de
todas as raças, idades e gêneros do mundo inteiro. Parece simplório, mas é apenas
simples e comovente.
Assisti
à exposição de vídeos no Museu da Eletricidade, em Lisboa, e, coincidência ou não,
os depoimentos liberam uma energia que faria levantar um morto. Não estaremos
todos meio mortos quando se trata de enxergar profundamente os nossos vizinhos
no planeta?
Não
há como não se emocionar vendo, em salas escuras, o rosto em plano fechado e
hiperampliado de homens e mulheres falando de suas tristezas, alegrias,
recompensas, tudo com a honestidade das confissões, coisa que rede social
alguma consegue igualar. Sei que o Facebook é divertido, uma cachaça, mas
estamos todos ali nos exibindo através dos nossos posts. Sim, fazendo conexões
também, mas estimulados, em algum grau, pela vaidade, o que não é pecado, mas
evita que nosso eu sensitivo e falível se comunique olho a olho.
Os
depoimentos estão todos disponíveis no site www.7milmilhoesdeoutros.org,
separados por temas. Se não tiver tempo de ouvir todos, espie ao menos o
mosaico. Não sentirá o mesmo impacto que a exposição proporciona, mas perceberá
a riqueza emocional de cada pessoa, que é raramente manifestada e de uma beleza
que ultrapassa padrões estéticos.
E
também irá refletir sobre o que de fato nos define: nossas superações, nossa fé,
nossos meios de sobreviver às adversidades e a potência bombástica da dor e do
amor, os dois poderes que nos regem. Não há como sair dessa experiência sem se
sentir um pouco miúda e envergonhada por focarmos apenas em nossos próprios
problemas, como se nada mais existisse no mundo além do nosso umbigo.
Num
dos depoimentos, um árabe conta que nunca havia chorado, que em sua cultura o
homem sempre foi o leão da selva, até o dia em que ele colocou sua mãe num caixão
e a levou ao túmulo, recordando o quanto ela detestava sair de casa. Naquele
momento, ele chorou pela primeira vez e percebeu que não passava de um rato da
selva.
Quando
é que as pessoas revelam o seu real tamanho? Talvez não seja quando resistem, e
sim quando se entregam. Os “ratos” são desprovidos de juba e majestade,
reconhecem a própria fraqueza e respeitam as fraquezas alheias. Quando todos nós
nos enxergarmos pra valer e descobrirmos que somos diferentes por fora, mas
constituídos das mesmas emoções, aí talvez encontremos a nossa verdadeira força.
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