Mutirão de jovens
artistas recria as canções com que Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Galvão e
Baby Consuelo revolucionaram a MPB. O disco duplo Tinindo e trincando
reúne 30 faixas
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 31/12/2014
O grupo Urucum regravou a canção Só se não for brasileiro nessa hora |
Formado em 1969, o grupo Novos Baianos se tornou rapidamente referência central da música brasileira com álbuns importantes, sobretudo o antológico Acabou chorare (1972), que trouxe sucessos como Brasil pandeiro e Preta pretinha. O segredo da receita de Pepeu, Baby Consuelo e da trupe hippie era a mistura irreverente de rock com ritmos nacionais. Prova da relevância dessa obra, o coletivo Jardim Elétrico acaba de tirar do forno o disco duplo Tinindo e trincando, tributo que reúne 28 cantores e bandas.
Quase todos os participantes são jovens, entre nomes mais e menos conhecidos, como A Banda Mais Bonita da Cidade, Pitanga em Pé de Amora, Cícero, Marcelo Perdido, Larissa Baq, O Padre dos Balões e Thamires Tannous. Três mineiros integram o time: o grupo Urucum e os cantores e compositores César Lacerda e Thales Silva (da banda A Fase Rosa). No total, o mutirão mobilizou 120 artistas.
“Entre uma cerveja e outra com o Di Pietro, coordenador do Jardim Elétrico, pensamos num tributo aos Novos Baianos para alavancar os trabalhos do coletivo. Essa banda sempre esteve presente na minha vida e na de todo mundo. Além disso, há a ideia de coletividade, o que também tem a ver conosco. Sentimos a necessidade de ouvir versões deles, e não covers”, explica o jornalista Carlos Nascimento Jr., que trabalha com o Jardim Elétrico.
Inicialmente, a ideia era focar apenas no clássico Acabou chorare, mas, depois de ouvir toda a discografia do grupo, foi impossível não pinçar ótimas canções dos demais trabalhos. Os organizadores partiram de 50 faixas, sugerindo nomes que combinavam com cada uma. Os convites começaram a ser feitos em abril e as gravações terminaram em setembro.
A cantora carioca Guidi Vieira foi a única que fez o caminho inverso. Em vez de ser convidada, ela ofereceu ao projeto a versão de Cosmos e Damião – inédita guardada para seu disco de estreia, Temperos. “Ela ficou sabendo do nosso projeto, mandou a música e resolveu segurá-la para lançar com a gente”, comemora Nascimento. Há apenas duas instrumentais: Preta pretinha (com Eduardo Cruz) e Isabel (com Flávio Tris).
ATUALIDADE
Carlos Nascimento Jr. acredita que os Novos Baianos atraem a atenção das novas gerações porque sua obra é atual. “Eles cantam o Brasil e estamos numa fase nacionalista muito bacana no país”, afirma. Ele comemora a participação mineira no projeto. “BH é um novo polo musical. O que é feito em Minas é leve e, ao mesmo tempo, pulsante”, elogia.
O disco duplo está disponível apenas para download gratuito (www.ojardimeletrico.com.br). Desde quarta-feira, cerca de quatro mil pessoas já haviam baixado as canções. Os organizadores estudam versões reduzidas do show de estreia, realizado em novembro, que contou com 19 dos 28 participantes do CD. A ideia é promover apresentações no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Sul do país.
Cesar Lacerda diz que a importância dos Novos Baianos vai além da música |
Espelho contemporâneo
“Ouvia muito Novos Baianos quando era adolescente e me identificava com a estética, as letras e, principalmente, a forma como eles produziam e viviam a música. Era algo muito similar ao que vivia naquele momento com meus amigos. Ninguém ainda era músico profissional e nem ambicionava ser. A gente se encontrava para compor, tocar e criar peças de teatro. De alguma forma, nos espelhávamos no Novos Baianos”, conta Irene Bertachini, cantora do grupo Urucum, que interpretou Só se não for brasileiro.
Para o cantor e compositor César Lacerda, autor da releitura de Mistério do planeta, o modo de vida do grupo transcendia a música. “Questões como sustentabilidade e comunidade, atuais hoje, foram lançadas por eles no passado. Há algo de mais potente naquele gesto hippie”, analisa. “Como fã do João Gilberto, percebo que há uma mistura dele com a vida hippie e rock and roll naquela música. É bastante inspirador”, diz. “Aquela mistura de rock com o Brasil caiu como uma luva para mim”, revela a cantora Guidi Vieira, que gravou Cosmos e Damião.
Novos Baianos mesclaram clássicos do cancioneiro brasileiro à estética hippie e ao rock%u2019n%u2019roll |
Repertório
DISCO 1
. TININDO
» Dê um rolê – Mariana Volker
» Linguagem do alunte – Bernardo Bravo
» Vagabundo não é fácil – Uns Zansoutros
» Colégio de Aplicação – Daniel Peixoto
» Preta pretinha – A Banda Mais Bonita da Cidade
» Tinindo trincando – Clara Valente e Mocambo
» Guria – Thales Silva
» Tangolete – O Padre dos Balões
» Mistério do planeta – César Lacerda
» A menina dança – Léo Fressato e Omelô
» Quando você chegar – Lício
» Besta é tu – Marcelo Perdido
» 29 beijos – Rodrigo Del Arc
» Preta pretinha no carnaval (1974) – Eduardo Kusdra
» Eu não procuro som – Larissa Baq
DISCO 2
. TRINCANDO
» Swing de Campo Grande – Matheus von Krüger
» Na cadência do samba – Thamires Tannous
» Ladeira da praça – Pitanga em Pé de Amora
» Eu sou o caso deles – Cria
» Sorrir e cantar como Bahia – Daniel Andrade
» O samba da minha terra – Diogo Poças
» Sensibilidade da bossa – Camará
» Só se não for brasileiro nessa hora – Urucum
» Cosmos e Damião – Guidi Vieira
» Isabel – Flavio Tris
» Os pingos da chuva– Os Criaturas
» Acabou chorare – Cícero
» Brasil pandeiro – Leo Versolato e Fuleragem
» Com qualquer dois mil réis – Fernando Temporão
» Dê um rolê – Carlos Posada
O grupo Urucum regravou a canção Só se não for brasileiro nessa hora |
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