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Seja o que quiser!!!
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 25/01/2015Encontrar a satisfação plena. Alcançar tudo o que almejamos e sonhamos. Viver infinitas experiências. Abolir limites. Mudar o corpo. Alterar a cor da pele. Implantar próteses. Fazer preenchimentos deformadores. Liberdade plena e irrestrita.
Esses ideais rondam o imaginário coletivo enquanto todas as facilidades nos intimam a alcançar o impossível. Mesmo sabendo que a realização plena está fora de alcance, ainda assim insistimos em botar fé e pilha nesse imaginário. E as coisas vão se desenrolando até o extremo.
Temos crédito ilimitado! Podemos adiar as contas, pagar tudo a prazo com juros oferecidos como baixos, fazendo muito banqueiro feliz com a eternização das dívidas do sonhador. É muito fácil o acesso a todos os tipos de produtos e, assim, sustentar o sistema, que oferece gozo imediato e imperativo.
Podemos adiar as responsabilidades e as consequências de nosso imediatismo fingindo não ser preciso pagar por tudo o que fazemos. A ideologia “seja o que quiser” sustenta a ilusão de muitos. Como se cada um fosse seu próprio criador e pudesse manipular o próprio eu, reinventando-se.
Como se pudéssemos sair por aí promovendo a autocriação, rompendo limites, ultrapassando barreiras reais, limites legais de sociabilidade e do próprio corpo. Manuais de autoajuda não faltam: como ganhar dinheiro, como emagrecer, como fazer amigos, como ser feliz.
Pessoas para quem as proibições sociais e os limites do corpo não são operativos encarnam essa ilusão como possibilidade real. Isso expõe uma falha simbólica com consequências drásticas para si próprio e para aqueles com quem se convive. É a indústria da propaganda combinada com o alto capitalismo. Nesta aldeia global, temos a impressão de que o mundo pirou e quem compra essa pílula perde a noção.
Um exemplo disso é veiculado por jornais, TVs e internet a cada instante, em tempo real. A grande polêmica do último sábado foi a execução de Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, na Indonésia, por crime de tráfico de drogas. A oportunidade de grandes lucros e a promessa de enriquecimento o levaram a ignorar a lei da pena capital daquele país. Ignorou o perigo e o resultado foi nefasto. Tentou escapar, mas a lei foi cumprida. É função da lei conter excessos e abusos.
Não discuto aqui a pena de morte, e sim a atitude de desafio à lei na qual o sujeito se joga quando acredita que pode tudo. As coisas não funcionam assim no real, embora no Brasil nem sempre tenhamos essa impressão.
Outro “sem noção”: o americano que se submeteu a quase uma centena de intervenções cirúrgicas (implantes de silicone nas nádegas, tríceps e bíceps; redução e afinamento do nariz) para ficar parecido com o boneco Ken, namorado da Barbie. “Adoro me metamorfosear. Quanto mais estranha é a cirurgia, melhor”, disse. E continuará tentando...
Esses exemplos extremos fazem parte do cotidiano, embora em menores proporções. O culto ao corpo, ao luxo e à felicidade total faz muitos reféns, pois realizar esses ideais é missão impossível.
Viver é perigoso, disse Guimarães Rosa. Para viver, é preciso fazer escolhas, mesmo que cada uma delas implique em perdas necessárias. Acatar limites e perdas em tempos de excesso é um grande desafio.
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