sábado, 24 de janeiro de 2015

Philosophar - Eduardo Almeida Reis

 A espécie humana, em seus presumíveis 200 mil anos, sempre se drogou


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 24/01/2015






Álcool é droga? É. Cafeína é droga? É. Nicotina é droga? Claro que é. No entanto, bebidas alcoólicas, cafés finíssimos e produtos com nicotina, pagando impostos, podem ser produzidos e vendidos no Brasil. Com os nicotínicos vem acontecendo fenômeno curioso. Podem ser fabricados, comercializados, pagam impostos altíssimos e o tabagismo, toxicomania caracterizada pela dependência psicológica do consumo de tabaco, está sendo transformado em crime. Enquanto isso, o Santo Daime é “religião”. Não invento. A ayahuasca, bebida alucinógena preparada com o caule do caapi (Banisteriopsis caapi) e folhas de chacrona (Psychotria viridis), é usada ritualmente por populações amazônicas e milhares de adeptos de diversas seitas em todo o Brasil e no exterior. Vou acabar fundando a Igreja Evangélica Tabagista para ficar riquíssimo e fumar charutos de 150 dólares a unidade, como aqueles que os chineses compram em Cuba.

O problema da droga começa pelo fato de não ser uma droga no sentido de gosto ruim, de comida ou bebida de má qualidade, de algo insignificante. Saudoso amigo/irmão, brasileiro notável, inteligentíssimo, cultíssimo, viajado e rico, me disse que experimentou a heroína injetável e a sensação imediata foi a de estar entrando no paraíso.

A espécie humana, em seus presumíveis 200 mil anos, sempre se drogou, o que não impede os animais irracionais de se drogarem. Você já deve ter visto aqueles vídeos com elefantes, macacos e outros bichos cambaleantes de tão bêbados depois de comer os frutos da Sclerocaraya birrea, árvore de tamanho médio originária do bioma das savanas da África Oriental. Tenho aqui na adega um litro ainda virgem do licor Amarula, produzido com os frutos daquela árvore, importante fonte de alimentos para diversos animais da região. A Sclerocraya birrea foi espalhada pela África seguindo as migrações do povo banto.

Existe algo melhor do que boa cerveja, de alto teor alcoólico, ou um chope bem tirado? Que existe, existe, mas não posso explicar neste espaço imaculado de nossa mídia porque sou de uma pudicícia que encanta e comove. Fiquemos na cerveja, no uísque, nos vinhos, nos champanhas e assemelhados. O pilequinho social é muito gostoso. E você contribui para o bem do povo e felicidade geral da Nação pagando impostos altíssimos, criando empregos, fazendo amigos.

Todos sabemos das consequências da Lei Seca norte-americana. Daí a pergunta que lhes faço: por que não liberar a produção e comercialização de todas as drogas? Quem quiser cheirar, fumar, injetar-se, que cheire, e fume e se injete pagando impostos. O sistema que aí está não funciona, o tráfico está cada vez mais violento e organizado, o Brasil, com 3% da população mundial, responde por 10% dos homicídios cometidos no planeta. Creio desnecessário repetir que sou virgem de pós, fuminhos e drogas injetáveis. Bastam-me os uisquinhos e os charutinhos ainda permitidos. Portanto, não estou advogando em causa própria.

Tristeza

Nada mais fácil e mais feio do que ficar sentado numa poltrona, em casa, criticando os jornalistas que lá estão maquiados nos estúdios das tevês, ao vivo, em cores, de improviso, tentando fazer o seu trabalho honestamente. Sobretudo quando a jornalista é um docinho de coco, linda, voz aveludada, objeto dos sonhos de onze entre dez cavalheiros sérios solteiros, casados, viúvos ou divorciados.

Faz mais de uma hora que estou aqui diante do computador, depois de desligar a tevê na sala, me perguntando: escrevo, não escrevo, comento, não comento, critico, não critico? Nesse meio tempo, aproveitei para cortar as unhas das mãos e aceitei o copo com água gelada que a comadre me ofereceu.

A mesma comadre que veio correndo ao living onde fica o televisor, com os gritos que dei diante da ignorância da jornalista que é um docinho de coco, linda, voz aveludada, objeto dos sonhos de onze entre dez cavalheiros sérios solteiros, casados, viúvos ou divorciados.

De unhas cortadas, copo vazio da água que bebi, acabo de tomar uma sábia decisão: não vou falar o nome da moça nem comentar o assunto. Não sou palmatória do mundo. Reservo-me o direito de ficar calado e triste, muito triste mesmo, porque a derrapada foi de entristecer um continente, ou dois, ao vivo e em cores com um interlocutor que falava diretamente da Austrália.

O mundo é uma bola


24 de janeiro de 41: Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, o Calígula, é assassinado aos 28 anos por sua Guarda Pretoriana, algo assim como a guarda presidencial matar um presidente da República Federativa do Brasil. O apelido Calígula, ou “botinhas”, veio dos legionários comandados por seu pai, que se divertiam vendo o menino calçando pequenas caligae (sandálias militares) ao acompanhar as tropas. Germanicus, o pai do guri, é considerado um dos maiores generais da história de Roma. Militar supimpa, teve um filho maluco, que foi imperador romano durante quatro anos, de março de 37 a janeiro de 41. Hoje é o Dia da Previdência Social e o Dia dos Aposentados.

Ruminanças


“No Reino Unido, água mineral está custando mais que o leite. Para salvar a pecuária britânica, só dando um jeito de botar leite na água” (R. Manso Neto).

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