domingo, 15 de fevereiro de 2015

Francisco - Eduardo Almeida Reis

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 15/02/2015



Biblicista é o indivíduo versado em assuntos bíblicos. Tive a esperança de que papista fosse indivíduo versado em declarações papais para entender o que diz o papa argentino, que fala pelos cotovelos. Descobri no Houaiss que papista, regionalismo brasileiro, é o indivíduo que sofre de geofagia, mania de comer terra ou barro. Nosso jornalismo também come mosca quando não entende o que diz o papa.

Vejam-se as suas declarações sobre o sexo dos coelhos: “Os católicos não precisam se reproduzir como coelhos”. Papistas que comem terra, barro e mosca interpretaram a declaração pensando na multiplicação dos indivíduos da família dos leporídeos, enquanto o papa, argentino culto, pensava no ato sexual dos mamíferos Oryctolagus cuniculus, conhecidos pela velocidade com que fazem amor.

Em vez de curtir, de mordiscar a orelhinha da coelha amada, ouvindo-a gritar “me bate!”, “me mata!”, “me chama de coelhinha Playboy!”, o sexo leporídeo é complicadíssimo porque têm uma libido meio marota como explica Robert A. Wallace, ph.d em sexo animal. A transa dos coelhos selvagens pode ser resumida em um bando de machos seguindo uma fêmea, cada um deles tentando montá-la – e me parece que Francisco não pensa no seu rebanho agindo assim.

Se a coelha selvagem não simpatiza com a ideia dos machos, sai correndo ou fica sentada. Contudo, se estiver disposta a aceitar o parceiro, tudo que faz é mostrar-lhe o rabinho. Ele, por seu turno, mostrará o seu. Na verdade, exibem suas partes brancas, geralmente ocultas, que aparecem quando as pernas se esticam. Não raras vezes o macho recorre ao galanteio supremo de urinar sobre a fêmea, impregnando-a do seu cheiro – que Wallace considera um rasgo de exaltado romantismo entre os coelhos.

Ainda aí, tenho a certeza de que não foi disso que Francisco falou no avião que o levava de volta para Roma. O coelho sofre de ejaculação precoce mais que necessária para cair fora, quando se sabe que há outros machos em volta querendo mordê-lo e escoiceá-lo. A coelha geralmente aceita as homenagens de um fluxo constante de admiradores. Os espermatozoides dos confrades podem esperar até 30 horas, di-lo Wallace, “dentro do útero agasalhador da coelha”. Em um mês, ela dará à luz uma ninhada de até cinco filhotes.

Cultura
Na rubrica antropologia, cultura é o conjunto de padrões de comportamento, crença, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social. Está na forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais do Brasil atual: é a “civilização” brasileira de 2015. Vosso país tem um Ministério da Cultura, hoje comandado pelo sociólogo baiano João Luiz Silva Ferreira, nascido em 1949, conhecido como Juca Ferreira.

Juca sucedeu a ministra Marta Suplicy, mãe do Supla, ex-senhora Felipe Belisario Vermus, num casamento que eletrizou a administração pública do país. Diz ela que tem sobre o seu sucessor informações capazes de horrorizar 200 milhões de brasileiros.

O ministro Juca, que usa brinquinhos de ouro no lóbulo de sua orelha direita, tratou de se proteger do bombardeio da ex-senhora Vermus recorrendo à pajelança de um índio da tribo acreana achaninca, benzedura com o objetivo de cura, prognóstico de acontecimentos, intercessão de poderes sobrenaturais que devem poupar o sociólogo soteropolitano das ameaças da ex-ministra.

Os achanincas, que se expressam em língua campa, da família linguística aruaque, são povo indígena que vive no Acre (cerca de mil), no Peru e na Bolívia (cerca de 68 mil), também conhecidos como campa, Ande, Anti, Chuncho, Pilcozone, Tamba, Campari, asheninka, acháninca e asháninka, e se fizeram representar, junto com a presidente Dilma Vana Rousseff, na posse do presidente boliviano Evo Morales.

Em trajes típicos ou na falta deles, o indígena acreano benzeu o ministro Juca bem benzido, que, bento, de brinquinho na orelha, está em condições de conduzir nossa cultura ao topo do mundo civilizado juntamente com Sua Excelência, o ministro da Ciência e Tecnologia, que é contrário à tecnologia, e Sua Excelência o ministro dos Esportes, que não sabe distinguir uma partida de vôlei de um jogo de basquete, e não aceita pajelança porque é afamanado pastor neopentecostal.

O mundo é uma bola

15 de fevereiro: que adianta falar da eleição do papa Eugênio III em 1145, da assinatura do Tratado de Hubertusburgo entre a Prússia e a Áustria em 1763, da descoberta da nebulosa Olho de Gato em 1768 por William Herschel, da eleição do papa Pio VI em 1775, da Batalha de Nive em 1814, se o leitor do Estado de Minas, em 2015, está se lixando para esses fatos, a exemplo do seu philosopho. Vivemos preocupados com o espantoso ministério, o estado catastrófico da das nossas estradas federais, a seca, a violência, a crise energética e o mais que se vê por aí.

Preciso preencher este espaço imaculado de nossa mídia impressa, motivo pelo qual peço licença para falar dos nascimentos no dia 15 de fevereiro. Em 1564, Galileu Galilei; em 1710, Luís XV de França; em 1811, Domingo Faustino Sarmiento, que foi presidente da Argentina e deve ter sido muito melhor do que os peronistas, até porque, igual ou pior seria impossível; em 1877, Louis Renault, o fundador da fábrica de automóveis, magro e bigodudo, que morreria aos 67 anos.

Ruminanças

“A imprensa é a artilharia do pensamento” (Antoine de Rivarol, 1753-1801).

Nenhum comentário:

Postar um comentário