domingo, 8 de março de 2015

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Por que a matemática?

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Por que a matemática?

Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 08/03/2015


Jacques Lacan usou os números para compreender os homens (Larc/reprodução
)
Jacques Lacan usou os números para compreender os homens

Ainda é novidade para muitos a estreita aproximação entre a psicanálise e a matemática. Mais exatamente com a lógica e a topologia, um ramo da geometria tomado pelo psicanalista francês Jacques Lacan de empréstimo pela necessidade de fazer entender a relação espacial não métrica entre elementos.

Em carta endereçada ao colega Breuer, em 1892, Freud diz: “Atormenta-me o problema de saber como seria possível representar de maneira plana, bidimensional, algo tão corporal como nossa teoria da histeria. De fato, as superfícies planas são insuficientes para dizer o real”.

Em sua releitura de Freud, Lacan, com objetivo de formalizar um saber sobre a estrutura psíquica do ser falante, transformou o encontro com a matemática em uma forma profícua de fazer avançar a transmissão da psicanálise. Ele promoveu essa aproximação na articulação entre o sujeito do inconsciente, que se constitui no lugar do outro, e a dependência radical da cadeia simbólica significante, isto é da linguagem recebida desse outro que é, afinal, o grande tesouro de onde vêm as palavras fundadoras do que seremos.

Lacan usou o recurso da teoria dos conjuntos e noções como a do conjunto vazio para dizer desse sujeito constituído a partir de um outro que poderia, enquanto tesouro do significante, ser considerado um conjunto em relação com o sujeito, mediante o recurso da noção de conjunto vazio.

Buscou igualmente a topologia, que naquela época estava no auge no meio cultural parisiense, pelo fato de pretender entender tais relações entre elementos não por suas medidas, mas porque eles se relacionam de uma certa forma e não de outra. Contou com o suporte de um profissional para este fim e dizia que ia ao matemático como os outros vão ao cabeleireiro.

Lacan introduziu a linguagem matemática em seus escritos e seminários, trazendo questões tais como: “Para que quero as superfícies ou as linhas?”. E responde: para usá-las como linhas de corte. Corte é um conceito muito valioso na psicanálise quando nos permite romper com um certo tipo de funcionamento e passar a outro. É o que se espera advir de uma psicanálise.

A topologia, de acordo com J. D. Nasio, tem mais a ver com o desenho do que com o cálculo, mais com o quadro negro do que com o papel, e mais com o mostrar do que com o demonstrar.

A Aleph – Escola de Psicanálise convidou Pablo Amster, doutor em matemáticas pela Universidade de Buenos Aires (UBA), diretor e professor do Departamento de Matemática da Facultad de Ciencias Exatas y Naturales, para ministrar um seminário este mês em BH. Ele nos mostra de forma admirável o quanto a matemática e a geometria podem dizer verdades relativas a um universo determinado. Pode dizer como são as coisas e que a forma de dizer as coisas pode mudar a forma de vê-las.

Dia 14, o caderno Pensar deste jornal publica uma entrevista com o professor, que também é músico. No fim do seminário, ele fará uma charla – conversa sobre matemática e tango –, que pode ser assistida independentemente do seminário. É preciso fazer inscrições. O evento “Lacan e as matemáticas: da lógica à topologia” será realizado dia 20, das 16h às 20h, e dia 21, das 9h às 13h, na Avenida Getúlio Vargas, 291, térreo, Bairro Funcionários. Informações: (31) 3281-9605. E-mail: aleph.psicanalise@terra.com.br.

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