ESCÂNDALO DA PETROBRAS »
Em dia de ratos na CPI, respostas vazias de Vaccari
Roedores soltos no plenário atrasam
sessão. Tesoureiro do PT presta depoimento burocrático, admite que
esteve no escritório de doleiro e volta a defender legalidade das
doações ao partido
João Valadares e André Shalders
Estado de Minas: 10/04/2015Ao longo de todo o depoimento na CPI da Petrobras, João Vaccari Neto repetiu que era inocente. Ele voltou a afirmar que tem apoio interno do PT para continuar como tesoureiro da legenda |
A captura de um hamster, dois esquilos-da-mongólia e dois ratos cinzas provocou correria e troca de acusações entre deputados |
Brasília – O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, admitiu ter ido ao escritório do doleiro Alberto Youssef, o principal operador do esquema de corrupção na Petrobras. Alegou que foi convidado pelo próprio Youssef e informou, durante depoimento conturbado ontem na CPI que apura irregularidades na estatal, não saber o motivo do convite. Nervoso, com respostas automáticas para qualquer questionamento e classificado de “ladrão” por oposicionistas, Vaccari defendeu a legalidade das doações eleitorais recebidas pelo partido e negou ter tratado sobre finanças da legenda com o doleiro ou com qualquer diretor da Petrobras.
O comportamento dele irritou a oposição. Na véspera, Vaccari recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ser liberado de dizer a verdade. O receio dos petistas era de que algum deputado tentasse dar voz de prisão ao tesoureiro, criando um fato político. Principal depoimento realizado até agora pela CPI, a fala do tesoureiro do PT começou em meio a tumulto e bate-boca entre parlamentares. Logo após a entrada de Vaccari, acompanhado de seu advogado, um homem abriu uma caixa e soltou cinco ratos no plenário da CPI. Ele foi identificado como Márcio Martins Oliveira, servidor da segunda vice-presidência da Câmara (leia texto abaixo).
Chamado de “um dos maiores ladrões da história do Brasil” pelo deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), Vaccari manteve a calma e repetia o mantra combinado com o advogado. Disse que não tinha intimidade com a presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Afirmou que só deixará o cargo de tesoureiro do partido quando o diretório nacional assim decidir. “Reafirmo que os termos das delações premiadas em relação à minha pessoa não são verdadeiros.” A repetição irritou o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). Nervoso, o tucano afirmou que a prisão dele estaria perto e que o PT seria extinto. Em seguida, se retirou da CPI. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) protestou e chegou a dizer que o líder saiu correndo feito um rato, numa alusão aos roedores soltos no início da sessão.
Vaccari iniciou o depoimento apresentando slides sobre a arrecadação dos partidos para mostrar que outras legendas também ganharam recursos das empresas investigadas na Lava-Jato. “Em 2014, foram R$ 222 milhões para todos os partidos das empresas investigadas. O PT obteve 25%, o PSDB obteve 24%, o PMDB obteve 21%”, afirmou. Quando questionado sobre a afirmação do ex-diretor de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco que o PT haveria recebido US$ 200 milhõess em propina mascarada de doação oficial, o tesoureiro deu respostas evasivas e repetidas.
Durante a sessão, disse que estaria à disposição para uma acareação com os delatores. Concordou em passar por um detector de mentiras, em resposta à deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO). Ao ser interrompido pela deputada, Vaccari chamou a atenção dela afirmando ainda não ter tido tempo de responder o que foi indagado. Mariana, então, ironizou: “Não tem problema, o senhor não respondeu nenhuma desde as 9h30, não faz diferença”. Também a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) perdeu a paciência. Primeiro perguntou a Vaccari se ele era inocente. O tesoureiro respondeu que sim. Depois, a deputada emendou: “O senhor veio para mentir. Ficou muito claro”. (Com agências)
As acusações
João Vaccari Neto, tesoureiro do PT desde 2010, foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Ele é apontado como operador do PT no esquema de pagamento de propina oriunda de contratos firmados entre empreiteiras e a Petrobras.
Conforme os investigadores, Vaccari articulava reuniões com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque para fazer o acerto das propinas.
Os subornos, segundo o Ministério Público Federal, eram pagos por meio de doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores. Segundo a investigação, Vaccari seria o responsável pela manobra para “lavar” o dinheiro sujo.
Os procuradores da República identificaram 24 doações em 18 meses.
Vaccari é apontado como o responsável por indicar as contas onde os recursos deveriam ser depositados. Conforme o MPF, ele tinha consciência de que os pagamentos eram feitos a título de propina.
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Câmara demite servidor
Isabella Souto
Márcio Oliveira detido após soltar os ratos: ele nega responsabilidade, diz um deputado |
A presença inesperada de cinco roedores – um hamster, dois esquilos-da-mongólia e dois ratos cinzas sem raça aparente – provocou tumulto e correria na reunião de ontem da CPI da Petrobras. Os animais teriam sido levados à sala por Márcio Martins de Oliveira, funcionário de cargo comissionado da segunda-vice-presidência da Câmara, pelo qual recebia salário mensal de R$ 3.020,85. Ontem mesmo, foi assinada a exoneração dele.
Os animais foram soltos por volta das 10h, logo que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no plenário. Agora ex-chefe de Márcio, o deputado federal Giacobo (PR-PR) afirmou ao Estado de Minas que o funcionário negou ser o responsável pela soltura dos ratos. “Ele já disse que não foi ele, mas, se foi, foi uma atitude isolada dele e terá que arcar com as consequências”, disse o parlamentar, que o empregava há apenas um mês. Antes de trabalhar com Giacobo, ele foi secretário legislativo do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, entre abril de 2014 e 8 de março de 2015.
Os roedores foram apreendidos e levados para o Departamento de Polícia Legislativa da Câmara. O esquilo-da- mongólia é comercializado no Brasil há cerca de 30 anos e é considerado doméstico. A venda do animal – cujo valor é em torno de R$ 30 – só é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) em criadouros e lojas especializadas. A estimativa de vida é de 4 a 5 anos. Já o hamster e os ratos são comercializados por valores entre R$ 10 e R$ 20.
Dois deputados integrantes da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, Ricardo Izar (PSD-SP) e Laudívio Carvalho (PMDB-MG) solicitaram a guarda dos roedores. Apenas o hamster aparentava ter sido ferido durante a confusão na CPI. A CPI já requisitou imagens da Câmara para saber como os animais chegaram à Casa. “Não podemos de forma alguma permitir que isso passe em branco”, avisou Valmir Prascidelli (PT-SP). O objetivo é apurar se os ratos foram levados pelo próprio Márcio Oliveira ou se ele estava em conluio com alguém.
Logo depois da confusão, policiais legislativos passaram a barrar a entrada de pessoas não-credenciadas no plenário. Relator da CPI, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) fez o registro de “descontentamento” com a soltura dos ratos e afirmou desconfiar de uma “ação encomendada”. “O circo armado mostra o nível em que nos encontramos” , reclamou. (Com agências)
"Não somos iguais ao PT"
O presidente do PSDB,
senador Aécio Neves (MG), rebateu ontem a declaração do tesoureiro do
PT, João Vaccari Neto, de que o PSDB e outros partidos receberam
recursos de empresas investigadas pela Operação Lava-Jato. Aécio disse
que o PT faz um “esforço enorme” para se mostrar igual a partidos que
combatia no passado, mas que o PSDB não pode ser comparado à sigla. “O
PT passou boa parte da sua existência querendo provar que era diferente
dos outros. Hoje faz um esforço enorme para se mostrar igual aos outros.
Mas nós não somos iguais ao PT. Nós não recebemos financiamento em
troca de superfaturamento de obras, como aconteceu com o desvio de
recursos públicos e, segundo as inúmeras delações premiadas, com o PT”,
disse Aécio.
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