quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Vias aéreas liberadas - Carolina Lenoir‏

Diante da pouca prática de visitar um pneumologista como rotina, muitas pessoas subestimam a asma e a doença pulmonar crônica, que matam, juntas, 42,5 mil pessoas anualmente no Brasil 

Carolina Lenoir
Estado de Minas: 12/12/2012 

Quando se pensa nos médicos especialistas que devem constar na lista de consultas e checapes periódicos, é fácil lembrar do cardiologista, do ginecologista ou mesmo de um clínico. Dificilmente alguém incluiria um pneumologista, mesmo com um histórico de tabagismo ou de dificuldades respiratórias. O universo de enfermidades com as quais a especialidade lida é grande, desde pneumonia até câncer de pulmão, passando pela tuberculose. Mas duas doenças em especial têm impacto na população que é constantemente subestimado: a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Dados do Ministério da Saúde (MS) indicam que, no Brasil, a asma mata cerca de 2,5 mil pessoas por ano, ou seis por dia. Já a DPOC é responsável pela morte de aproximadamente 40 mil pessoas anualmente, o equivalente a quatro pacientes por hora.

De acordo com o pneumologista Renato Maciel, que presidiu o Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia, realizado em Belo Horizonte no começo do mês, a asma, uma doença inflamatória das vias aéreas que afeta o sistema respiratório, acomete cerca de 20 milhões de brasileiros, uma prevalência de 10% da população. Porém, os pacientes, em geral, consideram a doença pouco grave: apenas 20% a 30% deles seguem o tratamento corretamente. “Metade dos casos de asma é leve e, por isso, as pessoas sequer vão ao médico e a confundem com outras doenças, como bronquite. Nas crises, têm que ir para o pronto-socorro, com tosse, falta de ar e expectoração. Os asmáticos moderados ou graves precisam ter acesso frequente e facilitado ao médico e ao medicamento. As complicações podem ser prevenidas desde que haja um tratamento constante”, explica o pneumologista.

Atualmente, a asma é a quinta maior causa de internação no país e a prevalência da doença tem aumentado em crianças e adolescentes. Para o pneumologista Adalberto Sperb Rubin, diretor da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a maior preocupação é com os pacientes com asma grave de difícil controle, que correspondem a 5% dos asmáticos e demandam um cuidado mais complexo. “A asma grave deve-se a dois fatores. O primeiro é quando a pessoa já nasce com uma tendência a desenvolver o tipo de difícil controle, e o segundo, por não ter tratado a doença corretamente.” Os principais sintomas são falta de ar, chiado no peito e dificuldade para fazer atividades diárias, sinais comuns à asma, mas com o diferencial da intensidade e da frequência das crises, bem maiores nos casos graves.

De acordo com levantamento do MS, os portadores da forma mais grave da doença procuram 15 vezes mais as unidades de emergência médica e são hospitalizados 20 vezes mais do que os asmáticos moderados. As crises são súbitas e podem ser agravadas por fenômenos externos, como fatores alérgicos (pólen, ácaros e fungos, por exemplo), infecciosos (viroses), climáticos (clima mais seco ou mais úmido) e até emocionais. “Pacientes com asma têm que ter, obrigatoriamente, o seu pneumologista, para fazer revisões periódicas do tratamento, mesmo que esteja se sentindo bem. É errado que nos momentos de crise tenham que viver do atendimento emergencial”, afirma Rubim, esclarecendo que o tratamento da asma é feito basicamente por inalação de medicamentos broncodilatadores, que desobstruem as vias e facilitam a entrada de ar, e de anti-inflamatórios por meio de inaladores, as chamadas bombinhas.

EFISEMA Outro mal pneumológico grave é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), antigamente conhecida apenas como efisema pulmonar. A prevalência da enfermidade em pessoas acima de 40 anos é de 15,9% da população, mas estima-se que mais de 80% não saiba que têm a doença, por ser pouco reconhecida e frequentemente confundida com envelhecimento ou falta de atividades físicas. “No início, os sintomas são muito discretos e a progressão é lenta, por isso muitos pacientes não percebem que estão com uma limitação grave”, explica Renato Maciel.

Intimamente ligada ao tabagismo – causa de 85% dos casos da doença –, a DPOC aumenta em até duas vezes a probabilidade de uma pessoa ter infarto ou acidente vascular cerebral (AVC, popularmente conhecido como derrame). No Brasil, especialmente em Minas Gerais, outra causa conhecida da enfermidade é a inalação da fumaça saída do fogão a lenha. “Temos pacientes de 60 anos que vivem no interior ou na roça e inalaram essa fumaça por pelo menos quatro décadas”, conta Maciel. 

O diagnóstico da DPOC é feito por meio de um exame chamado espirometria, que avalia a capacidade respiratória (velocidade do ar ao entrar e sair dos pulmões), por meio de um aparelho no qual a pessoa sopra em um bocal (o espirômetro). O resultado pode indicar um quadro de DPOC e a necessidade de outros exames confirmatórios. Durante o congresso em Belo Horizonte, a SBPT, em parceria com o laboratório Novartis, realizou a campanha “Inspire respire”, que ofereceu o exame gratuito a 150 pessoas acima de 40 anos. O objetivo da iniciativa foi alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce de uma doença extremamente debilitante.

Em Minas, além dos particulares, cinco serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) realizam a espirometria, considerada tão importante quanto um eletrocardiograma: os postos de atendimento médico (PAM) Padre Eustáquio, Sagrada Família e Campos Sales, o Hospital Júlia Kubitschek, o Hospital das Clínicas e a Santa Casa. Para realizá-los, é preciso antes passar por um posto, fazer uma triagem e ter o encaminhamento de um pneumologista.

A DPOC piora a qualidade de vida dos pacientes, com reflexos em ações cotidianas, como subir alguns lances de escada ou trocar de roupa. Os sintomas mais comuns são falta de ar excessiva, além de tosse e produção de catarro – com ou sem chiado no peito – e são eventualmente confundidos com o envelhecimento natural. Apesar de não ter cura, a doença pode ser prevenida e controlada. A retirada do fator de risco, principalmente o tabagismo, as mudanças nos hábitos de vida e a adoção do tratamento com medicamentos broncodilatadores retardam a progressão da doença. A recomendação da SBPT é que fumantes e ex-fumantes principalmente acima dos 40 anos consultem um pneumologista anualmente para avaliação médica. 

Estudo atesta eficácia da
união de medicamentos


O número de internações causadas pela asma poderia ser menor se o tratamento correto fosse adotado. A escolha do medicamento adequado, que facilita a adesão do paciente com ação rápida e efetiva, é um diferencial para obter melhores resultados e evitar crises, quadro que leva muitos pacientes ao serviços de pronto-socorro. Um estudo inédito no país, realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia e apresentado no Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia, comprovou a eficácia na associação das substâncias formoterol (broncodilatador) e budesonida (anti-inflamatório hormonal) em cápsula única no tratamento da asma. Isoladamente, o broncodilatador dá a sensação de alívio e o corticoide (anti-inflamatório) trata a base da doença, que é a inflação das vias aéreas. É comum aos asmáticos fazer uso de vários medicamentos conjuntamente.

Porém, já existem no mercado medicamentos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que unem as duas substâncias, com a proposta de facilitar a vida dos portadores de asma com a administração de uma cápsula única, inalada diariamente de manhã e à noite. “A proposta do estudo foi saber se a união de dois medicamentos amplamente prescritos no país funciona melhor quando se coloca em uma cápsula única, ou seja, se é mais eficaz que isoladamente e se é seguro. Os resultados dão uma sustentação científica de que é mais eficaz e tão seguro quanto”, explica o pneumologista Roberto Stirbulov, presidente da SBPT e líder da equipe que realizou a pesquisa, feita com 181 pacientes durante 12 semanas. Basicamente, a associação das duas moléculas tem efeito terapêutico melhor nas pequenas vias aéreas, melhora a expiração e inspiração matinal e é eficaz no controle da asma. (CL)

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