A minirreforma eleitoral que o Senado
deve aprovar traz mais facilidades para os políticos do que respostas
para os eleitores insatisfeitos
Estado de Minas: 10/09/2013
O Senado deve
aprovar hoje um mal embrulhado pacote de mudanças nas regras eleitorais,
à guisa de justificativa para a recusa do Congresso a realizar
plebiscito ou referendo, ou mesmo a aprovar, sem consulta popular, uma
reforma política que respondesse às insatisfações dos cidadãos eleitores
com o sistema e a crise de legitimidade da representação popular. Com
algum atraso, a sociedade civil, que agora deixou as ruas aterrorizada
pelos radicais violentos, começa a levantar a bandeira da reforma
política, convergindo apoios para o projeto do Movimento Eleições
Limpas, elaborado sob a coordenação do juiz Márlon Reis, que puxou a
mobilização pela ficha limpa.
A chamada minirreforma eleitoral,
que tem como relator o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), traz mais
facilidades para os políticos do que respostas para os eleitores. Um dos
poucos avanços decorreu da emenda do senador Humberto Costa (PT-PE),
proibindo a contratação de cabos eleitorais. Já a emenda do senador
Pedro Taques (PDT-MT), tornando obrigatória a divulgação dos nomes dos
financiadores de cada campanha, não deve passar. Restarão mudanças
cosméticas, como a proibição de envelopagem de carros, uso de faixas,
placas e cavaletes nas campanhas. E ainda permite que os candidatos
paguem as multas por propaganda irregular com recursos do Fundo
Partidário.
O projeto do Movimento Eleições Limpas permitiria
mudanças substantivas, já para 2014. O financiamento seria misto,
ficando proibidas as doações de empresas e limitadas a R$ 700 as de
pessoas físicas. Tudo legal, com cartão ou transferência bancária.
Haveria também um fundo público, que seria distribuído aos partidos,
proporcionalmente ao tamanho das bancadas. Candidatos sem dinheiro ou
patrocinador teriam alguma chance de concorrer, o que traria alguma
renovação.
O modo de escolha dos deputados e dos vereadores é
que mudaria radicalmente, para melhor. Eles seriam eleitos em dois
turnos. No primeiro, cada partido apresentaria seu programa e uma lista
de nomes com número equivalente ao dobro das vagas em disputa. Os
eleitores votariam nos partidos, e os votos recebidos indicariam quantas
cadeiras o partido conquistou. No segundo turno, o eleitor escolheria o
nome de sua preferência dentro da lista do partido. A proposta será
entregue nos próximos dias, com as assinaturas necessárias para tramitar
como iniciativa popular. Mas o Congresso, a seu favor, não dará um
passo.
Espionagem: aqui e alhures
O
petróleo sempre despertou a cobiça e motivou ações políticas e militares
dos Estados Unidos. Em maio, o primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana
Gusmão, denunciou à Agência Lusa que foram espionadas as negociações
entre seu país e a Austrália para a exploração pactuada do campo de
Greater Sunrise, no Mar do Timor, que banha os dois países. A Austrália,
talvez pelos laços de amizade com os Estados Unidos, havia silenciado.
Xanana foi firme: “Eu não teria tomado decisão tão grave (a de denunciar
o fato) se não tivesse bases sólidas”.
No início do mês, antes,
portanto, das revelações do programa Fantástico, da TV Globo, de que a
Petrobras foi alvo da espionagem americana, a presidente Dilma Rousseff
disse a auxiliares que, a seu ver, a coleta de informações sobre o
pré-sal seria um dos principais objetivos da grande arapongagem. Sabia
do que falava. Ontem, ao sancionar a lei que destina 75% dos recursos
dos royalties do petróleo à educação, Dilma deitou falação sobre o
petróleo brasileiro, mencionando as grandes reservas e a tecnologia
nacional de exploração submarina, como quem dissesse: “Sim, temos muito
petróleo”. Mas, como no pronunciamento de sexta-feira, silenciou sobre a
espionagem, talvez para evitar acusações de que estaria insuflando o
sentimento antiamericano que, pelo visto, deixou de existir. Não aparece
nem nos protestos em que o que se queima agora é a bandeira brasileira.
O
que precisa ser esclarecido é o quê exatamente procuravam os espiões.
Se informações sobre reservas, sobre os próximos leilões, que incluem o
megacampo de Libra, ou sobre a tecnologia brasileira de exploração em
águas profundas. Edward Snowden deve saber mais do que já informou.
Dois pontos
Duas
ocorrências do 7 de Setembro continuam ecoando como avisos. Uma, sobre o
despreparo das polícias, que, ao reprimir protestos violentos, atacaram
também jornalistas e fotógrafos. A flagrante violação da garantia
constitucional da liberdade de imprensa repercutiu negativamente mundo
afora e, aqui, gerou protestos tanto da Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj), que congrega os profissionais, quanto da Associação
Nacional de Jornais (ANJ), que reúne as empresas.
O segundo
aviso foi dos grupos violentos e radicais, que contribuíram para o
refluxo das manifestações pacíficas e portadoras de reivindicações
claras, ainda que difusas. Isso ficou claro em diversas cidades em que
os pequenos grupos de radicais anarquistas atuaram de forma violenta. No
Rio de Janeiro, segundo o jornal O Globo, quando os black blocs
passaram pelo Largo do Machado, os moradores gritaram das janelas dos
prédios: “Atira, atira”, incitando a PM a usar balas de borracha.
Isolando-se,
os radicais passaram a justificar a repressão, por ora comandada pelos
governos estaduais. O governo federal, que vinha só assistindo, agora
vai dar sua contribuição.
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