sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Carlos Herculano Lopes - A falta que ela lhe faz‏

A falta que ela lhe faz - Carlos Herculano Lopescarloslopes.mg@diariosassociados.com.br

Estado de Minas: 29/11/2013


Há mais de 20 anos casados, sem nunca se separar por muitos dias, Luiz Alberto, como uma criança, não vê a hora da volta de Maria Carolina. Por motivos profissionais, ela é arquiteta, Carol teve de ir passar três meses em Nova York, onde a empresa em que trabalha está envolvida em um projeto. A princípio relutante, ela tentou recusar o convite, mas o diretor foi enfático quando a chamou ao seu escritório naquela segunda-feira de manhã: “Não tenho ninguém mais com sua experiência para nos representar, doutora. É só você para ajudar a resolver esta questão, que é fundamental para nós”.

Então, Maria Carolina, com quem Luiz Alberto convive desde a adolescência, quando se conheceram no pátio do Colégio Estadual Central, em Belo Horizonte, algum tempo depois de ela ter chegado de Araguari, teve de providenciar o passaporte. Depois foi a hora de comprar roupas novas, fazer as malas, checar os cartões de crédito, para prováveis despesas extras, e algumas coisas mais. Não queria que nada saísse fora do planejado. No dia da viagem, Luiz Alberto, que estava quase ou tão ansioso quanto a mulher, a acompanhou até Confins, onde Carol tomaria um avião para Miami e de lá seguiria para Nova York.

“Assim que chegar telefono ou mando uma mensagem pelo Face, querido. Te amo muito, se cuide, tá?”, ela ainda disse ao seu ouvido, quando, sem conseguir disfarçar a emoção, se abraçaram na despedida, em frente ao portão de embarque. Muitas pessoas assistiram à cena. Depois, Luiz Alberto, como um adolescente apaixonado, ainda foi para o último andar e ficou esperando o avião decolar, até se perder entre as nuvens. Em seguida, tomou o ônibus, que o deixou na Avenida Álvares Cabral, e foi trabalhar.

No fim da tarde, quando voltou para casa, depois de ter passado no bar de sempre, onde se encontrou com os amigos, só então aquele homem, que pela primeira vez iria ficar tanto tempo longe da mulher, começou a perceber que estava sozinho. Foi à cozinha, tomou um copo d’água, abriu a geladeira e tirou a salada para que esquentasse um pouco. Havia engordado e vinha tentando controlar a alimentação.

Daí a pouco, depois de um banho frio, para ver se relaxava, Luiz foi para a sala, se deitou no sofá e ligou a televisão. Pulou de canal em canal, assistiu a parte de um faroeste e o fim de outro longa, Baile perfumado, no qual se contava a história do libanês Benjamim Abrãao, que havia feito o único filme com Lampião e seu bando. Mas não estava achando graça em nada. Só tinha pensamentos para Maria Carolina.

E qual não foi sua alegria quando, logo na manhã seguinte, assim que se levantou, leu uma mensagem dela no celular. “Cheguei bem, meu amor, ainda hoje sigo para Nova York”. Desde então, já se passaram mais de dois meses, com Luiz Alberto e sua mulher, a Carol, se falando todos os dias. Mas foi preciso tempo e distância para, só então, o marido se dar conta, para todo o sempre, da falta que ela lhe faz. 

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