segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Eduardo Almeida Reis - Divertimento‏


Divertimento 

 
Eduardo Almeida Reis - eduardo.reis@uai.com.br
Estado de Minas: 16/12/2013 


Nada mais divertido do que o Livro V das ordenações filipinas – o mais duradouro código legal português – promulgadas em 1603 por Felipe I, rei de Portugal, que vigoraram plenamente no Brasil ate 1830. Vejamos alguns preceitos: 31. “Que o frade que for achado com alguma mulher logo seja entregue a seu superior.” Mandamos a todas nossas Justiças que não prendam nem mandem prender, nem tenham em nossas prisões clérigo ou frade por ter barregã, salvo sendo-lhes requerido pelo prelado ou vigário ou seus superiores.

E quanto aos frades que forem achados fora do mosteiro com alguma mulher, mandamos que os tomem e tornem logo ao mosteiro, e os entreguem aos seus superiores, sem mais irem à cadeia.”

34. “Do homem que se vestir em trajes de mulher ou mulher em trajes de homem e dos que trazem máscaras.Defendemos que nenhum homem se vista ou ande em trajes de mulher, nem mulher em trajes de homem, nem isso mesmo andem com máscaras, salvo se for para festas ou jogos que se houverem de fazer fora das igrejas e das procissões”.

E quem o contrário das ditas coisas fizer, se for peão, será açoitado publicamente, e se for escudeiro e daí para cima, será degredado dois anos para África, e sendo mulher da dita qualidade, será degredada três anos para Castro-Marim. E mais cada um a que o sobredito for provado, pagará dois mil réis para quem o acusar.”
Vejo na Wikipédia que Castro Marim, no Algarve, foi fundado em 1277 e hoje tem pouco mais de 6 mil castromarinenses. O cartunista Laerte, que não dispensa o cross dressing, ou travestismo no português europeu, curtiria dois anos em África.

Susto
A leitura das divertidíssimas ordenações filipinas – “Qualquer pessoa, assim homem como mulher, que alcovitar mulher casada ou consentir que em sua casa faça maldade de seu corpo, morra por isso e perca todos os seus bens” – suscita o tema deste suelto depois do susto que tomei dia desses, pelas nove da manhã, quando recebi os jornais.

Lida a matéria de um deles, pedi à comadre que fosse à esquina para ver se as coisas continuavam aparentemente normais ou se o mundo já tinha acabado. Sim, porque das janelas aqui do prédio não tenho vista para as ruas. Avisto alguns lagos cheios de peixes e pequena mata onde avoam pombos, jacus e muitas aves passeriformes.

Dez minutos mais tarde, trazendo as laranjas do suco diário, a comadre informou que o mundo continuava normal, se é que existe normalidade num bairro, antes pacato, que deu para ter arrastões noturnos em restaurantes e pizzarias, talqualmente na Praia de Ipanema defronte do Hotel Fazano, às quatro da tarde de um feriado nacional.

A notícia que me espantou e me fez acreditar no fim do mundo foi a seguinte: o siciliano Domenico Dolce e o milanês Stefano Gabbana romperam namoro de 20 anos, mas o carinho não acabou e continuam muito amigos e sócios na grife Dolce & Gabbana, que pretende abrir uma filial no Brasil.

Homessa! Confesso que conhecia a grife de nome, sem saber que pertencia ao casal que já não namora, mas cultiva o carinho e a empresa. O tipo do divórcio que deveria servir de exemplo para aqueles casamentos realizados no tempo de antigamente entre homem e mulher.
Paixão e ódio são sentimentos próximos, mas o casamento do siciliano com o milanês, que durou 20 anos, mostrou ao mundo que o carinho e a grife podem continuar de vento em popa mesmo depois do divórcio.

Risco

Muito admiro os jornalistas que frequentam os meios políticos e continuam isentos, considerando que certos cavalheiros e damas podem ser bandidos sem deixar de ser fascinantes. Aí é que está: muitas pessoas ganham a gente num primeiro contato. São encantadoras, sem que sejam flores que se cheirem.

Ulysses Silveira Guimarães, sendo embora um homem de bem, sempre fez política em partidos que não eram de minha predileção. Conheci-o pessoalmente num almoço rural, na fazenda de amigos, durante o governo Rosane Malta-Fernando Collor. Pois muito bem: saí do almoço amigo de infância e fã do casal Mora e Ulysses. Fosse comentarista político teria que mudar de profissão, porque o casal me deixou encantado. Sentimento que deve ter sido recíproco, porque o dr. Ulysses foi operado um ou dois meses depois e perguntou pelo Eduardo, na reportagem que Jorge Bastos Moreno fez com ele ainda no hospital.

O mundo é uma bola

16 de dezembro de 1773, Boston Tea Party, designação de uma ação de protesto executada por colonos ingleses na América contra o governo inglês, quando destruíram muitos caixotes de chá pertencentes à Companhia Britânica das Índias Orientais, atirando-os às águas do Porto de Boston.

Evento-chave no desenrolar da Revolução Americana, permanece como acontecimento ícone na história dos Estados Unidos. Compete ao leitor de Tiro & Queda apurar se os atuais republicanos do Tea Party, que vivem atenazando a administração Obama, têm relação com o episódio bostoniano de 1773.

Hoje é o Dia do Reservista.

Ruminanças
“Achamos inocente desejar e atroz que outro deseje” (Marcel Proust, 1871–1992).

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