terça-feira, 17 de dezembro de 2013

MARIA ESTHER MACIEL » A princesa e o mendigo‏


MARIA ESTHER MACIEL » A princesa e o mendigo A rainha a ameaçava com coisas piores caso ela ousasse contar ao pai o que lhe acontecia às escondidas 
 
Maria Esther Maciel
Estado de Minas: 17/12/2013 


Era uma vez um rei, uma rainha e suas três filhas. A mais nova, chamada de Maria Bobinha pela mãe e as irmãs, era delicada e meio ingênua. O rei tinha um especial carinho por ela e a protegia com desvelo, despertando ciúmes na mulher e nas outras filhas. Por causa disso, a rainha – mesmo sendo mãe, e não madrasta – começou a fazer ruindades com a menina na ausência do marido. Batia nela com vara de marmelo, dava-lhe beliscões a toda hora e a punha de joelhos sobre grãos de milho, com os braços abertos e rosto voltado contra a parede. Isso, como castigo por algo que nem a menina sabia muito bem o que era. Além disso, a rainha a ameaçava com coisas piores caso ela ousasse contar ao pai o que lhe acontecia às escondidas. E as irmãs eram cúmplices de tudo.

Um dia, porém, o rei morreu de repente. A rainha e as duas filhas mais velhas, então, expulsaram Maria Bobinha do palácio só para não compartilhar com ela os bens do rei. A moça foi para um povoado vizinho, sem saber o que fazer da vida. Mas como aprendera a bordar, começou a fazer bordados para as mulheres das redondezas. Suas irmãs, logo depois, casaram-se com príncipes estrangeiros e foram embora para outros países. Já a rainha, dissipou em pouco tempo os bens do marido, graças às suas extravagâncias e falta de limites. Perdeu o reino, ficou pobre e cheia de dívidas. Mas ao procurar as duas filhas queridas, não teve delas qualquer amparo. Foi, assim, viver numa casinha modesta, cultivando ela mesma as verduras do almoço e buscando água num poço distante. E, para completar, sem roupas novas para vestir nas missas de domingo.

Foi na véspera do Natal que Maria Bobinha, ao sair para entregar uns bordados, viu um mendigo de olhos tristes na esquina de sua rua, acompanhado de dois cachorros – um preto e outro marrom. O homem pediu-lhe ajuda, nem que fosse apenas uma fruta para enganar o estômago. A moça parou diante dele e, mesmo sem poder, deu-lhe as únicas moedas de que dispunha, dizendo: “Compre comida para o senhor e os cachorros”. Agradecido, o mendigo lhe disse: “Minha filha, você salvou o meu dia e o dos meus cães. Em retribuição, quero lhe dar isto”. Era uma chave. A moça, meio confusa, perguntou para que servia.

E a resposta foi esta: “Vá até o casebre de madeira que fica na terceira estrada à esquerda, a mais ou menos uma légua daqui. Ao chegar, empurre a porta e, lá dentro, encontrará um baú. Pegue a chave e o abra, dizendo três vezes: ‘Lux vivens’. Aí, encontrará seu presente”. A moça agradeceu e seguiu seu caminho. Depois de entregar os bordados, foi até o tal casebre e fez tudo o que o mendigo tinha lhe dito. E qual não foi sua surpresa ao abrir o baú e encontrar um saco cheio de moedas de ouro!
Ao voltar para a casa, tentou reencontrar o mendigo, sem êxito. Mas agradeceu a ele assim mesmo, em silêncio. Dias depois, partiu em busca de sua família. Só encontrou a mãe, que vivia na miséria. Ao vê-la, abraçou-a sem rancor. Deu a ela uma casa para morar, comida boa para comer e roupas novas para vestir. Tudo de coração, sem pedir nada em troca. A mãe ainda achou pouco e quis mais. A filha deu. E, depois, partiu.

Talvez, um dia, Maria Bobinha encontre um príncipe encantado com quem possa viver feliz para sempre. Ou não.

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