Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 03/12/2013
O cuiabano Nicolas Behr diz que a crítica sincera é essencial na formação de um escritor |
No já distante 1977, em plena ditadura militar, um jovem poeta chamado Nicolas Behr surgia no cenário da literatura brasileira com um livreto mimeografado que trazia um título bem estranho: Iogurte com farinha. Vendido de mão em mão em bares e universidades, o pequeno volume logo se tornou best-seller. Estava ali um dos precursores do movimento que ficaria conhecido como literatura marginal, cujos autores produziam e distribuíam por conta própria os exemplares – muitos deles de contestação política.
Nascido em Cuiabá, em 1958, Behr morava em Brasília naqueles anos 1970. Trinta e seis anos depois de Iogurte com farinha, o Brasil mudou, a poesia de Nicolas também, mas a capital federal continua sendo a obsessão do autor. “Ela é uma cidade nova, uma folha em branco, lugar instigante. Ainda há muito o que escrever sobre Brasília, porque não tem o peso da tradição”, diz. Hoje e amanhã, Nicolas estará em BH para ministrar oficina de poesia, no Sesc Palladium, lançar o livro Meio seio e participar de bate-papo sobre literatura com o poeta Bruno Brum.
Tão direto como seus versos – “Os três poderes são um só: o deles”, diz um deles –, Nicolas Behr avisa: nas oficinas que vem realizando pelo Brasil, não costuma passar a mão na cabeça de ninguém. No seu entender, “a porrada é bem mais importante que o elogio”: sincera, ela ajuda a nortear os rumos do candidato a escritor.
SINCERIDADE As oficinas fazem com que o poeta se questione sobre os próprios limites e desafios. “Não sou rude e muito menos grosseiro, mas sincero e franco. Acredito que o aluno valoriza muito mais a crítica sincera sobre seu trabalho que um elogio fácil. O questionamento benfeito faz o poeta crescer e ampliar seus horizontes”, acredita.
Autor dos livros Brasilíada e Laranja seleta, que foi um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom em 2008, Nicolas Behr também se dedica a um antigo hobby: o cultivo de árvores nativas do cerrado. “Já espalhei milhares de mudas por aí”, revela.
Questionado se ainda existe espaço para a literatura marginal, Behr não pensa duas vezes: diz que ela nunca acabou, porque nunca teve um manifesto ou um líder. Além de ser antidogmática por natureza, apesar de ter originado muitas teses. “Todo poeta tem sua fase heroica, que é quando faz seus próprios livros em edições limitadas. Assim foi com Drummond, Bandeira, João Cabral, comigo e muitos outros”, conclui.
VOZES DO CERRADO
brasília!!! brasília!!!
onde estás
que não me respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?
>>Poema de Nicolas Behr
PROJETO
CARO LEITOR
>> Hoje e amanhã, das 19h às 22h. Oficina de poesia com Nicolas Behr. Mezanino do Sesc Palladium
(Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Inscrições gratuitas: acervopalladium@sescmg.com.br
>> Quinta-feira, às 20h. Bate-papo com Nicolas Behr e Bruno Brum. Lançamento do livro Meio seio.
Teatro de Bolso Júlio Mackenzie
(Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada franca, com retirada
de senha uma hora antes.
Informações: (31) 3270-8100.
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