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O mundo é o limite
Brasil investe na internacionalização da ciência e deve conceder, até 2015, mais de 100 mil bolsas para estudantes no exterior. Somente este ano foram 41,6 mil
Brasil investe na internacionalização da ciência e deve conceder, até 2015, mais de 100 mil bolsas para estudantes no exterior. Somente este ano foram 41,6 mil
Carolina Cotta
Estado de Minas: 31/12/2013
Até 2015 serão 101
mil bolsas, sendo 46.950 para pós-graduação no exterior. Com essa meta o
programa brasileiro Ciência sem Fronteiras quer consolidar e expandir a
internacionalização da ciência e tecnologia. O programa de intercâmbio e
mobilidade internacional lançado em 2011 pelos ministérios da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), por meio de suas
respectivas agências de fomento – o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) –, é um marco para um país que corre
atrás do tempo perdido para gerar inovação e promover competitividade.
Mas esse mesmo Brasil, contudo, não sabe quantificar o total de
brasileiros pesquisando atualmente no exterior. Cada órgão,
separadamente, sabe o número de bolsistas que mantém fora, mas é
desconhecido o montante de pessoas estudando fora com outro tipo de
auxílio, como as bolsas de instituições estrangeiras.
As bolsas do CNPq e da Capes são o caminho mais tradicional para os que buscam pós-graduação no exterior. O Ciência sem Fronteiras veio fortalecer as opções e apesar da graduação sanduíche ser seu grande foco, o programa oferece bolsas no exterior também para cursos tecnólogos, de desenvolvimento tecnológico, mestrado profissional, doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado.
Das 41.647 bolsas implementadas pelo programa em 2013 (até 20 de dezembro), apenas 20% são para mestrado, doutorado e pós-doutorado. A oxigenação de ideias proporcionada por esses intercâmbios, a configuração de novas parcerias internacionais e o incremento da produção de artigos de projeção mundial são a cereja do bolo dessa circulação de pesquisadores pelo mundo.
A internacionalização dos programas brasileiros de pós-graduação é condição sem a qual o país não alcançará os níveis de inovação que precisa para continuar crescendo. Tal preocupação aparece na avaliação trienal da Capes, que divulgou recentemente os resultados do período 2010-2012. O ranking da pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) realizado desde 1976 se consolidou como instrumento de grande importância para o Sistema Nacional de Pós-Graduação e para o fomento, tanto por parte das agências brasileiras, setores governamentais e não governamentais, quanto para organismos internacionais. As notas máximas – 6 e 7 – almejadas por qualquer programa só são possíveis para mestrados e doutorados com inserção internacional.
Mas quais são os principais ganhos para o pesquisador que opta por fazer uma pós-graduação ou parte dela no exterior? Qual a contribuição dessa experiência para o desenvolvimento da ciência nacional? Quais as áreas e países mais procurados? E mais: o que buscam os pesquisadores estrangeiros que empreendem pesquisas em nosso país? Para responder essas perguntas, o Estado de Minas começa hoje a série "Passaporte para a pesquisa", em que ouviu pró-reitores de pós-graduação de algumas das principais universidades do país, brasileiros que deixaram o Brasil em busca de uma formação em centros de referência mundiais e também de fora que buscaram nosso país. Afinal, quais serão os impactos de tamanho investimento do governo brasileiro na valorização da ciência, tecnologia e inovação?
IMPULSO O Ministério da Educação, por meio da Capes, investiu R$ 9,63 milhões em bolsas e fomento no exterior em 2011, enquanto em 2001 desembolsou R$ 11,12 milhões. Mas o número de bolsas cresceu 80%. As 2.078 fornecidas em 2001 viraram 3.755 10 anos depois, segundo dados da Geocapes. Procurada pelo EM, a Capes não se pronunciou sobre a política de internacionalização do ensino, da qual é um dos principais órgãos de fomento. A explicação para o aumento das bolsas, entretanto, está em uma mudança de foco: as bolsas de mestrado e doutorado pleno foram reduzidas para dar mais opções de formação no modelo sanduíche, quando o pesquisador passa no máximo um ano no exterior.
Para o pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Ricardo Santiago Gomez, é um modelo acertado. Fazer toda a formação no exterior teria um custo elevado para o governo e na opinião de Gomez deveriam receber esse tipo de bolsa apenas pesquisadores de áreas estratégicas ou que trabalhem com temas de grande importância nacional. O doutorado pleno no exterior seria mais interessante para as universidades estrangeiras, principalmente aquelas que cobram, por se tratar de um bom negócio do ponto de vista financeiro. Para as instituições brasileiras, o sanduíche (parte do curso é feita no exterior, parte na instituição brasileira) tem um custo mais baixo e torna-se uma vantagem por permitir a experiência para um maior número de alunos. "A prioridade do governo tem sido as bolsas sanduíches e considero isso correto", defende o pró-reitor.
A grande oferta de vagas nos programas de pós-graduação brasileiros seria outro motivo para não priorizar as formações plenas no exterior. Além disso, Gomez alerta para o fato da quebra de vínculo de pesquisadores brasileiros que optam pela formação completa em outro país. O modelo sanduíche favorece o intercâmbio. "Nessa modalidade, em que o pesquisador passa no máximo um ano no exterior, ele cria uma parceria entre seu orientador brasileiro e o estrangeiro. O formato sanduíche aproxima grupos de pesquisa. Não diria que as bolsas para doutorado pleno deveriam ser extintas, mas para algumas áreas não há necessidade desse investimento. O doutorado pleno é uma ação mais individual do aluno, que vai para o exterior e muitas vezes não tem vínculo com os programas nacionais", defende.
MEDO Mas na Universidade de Brasília (UnB), apenas um quarto das bolsas da Capes para doutorado sanduíche são preenchidas. Segundo o diretor de Pós-Graduação, Bergmann Morais Ribeiro, cada programa tem direito a duas bolsas anuais, mas só alguns fazem o requerimento. As chamadas áreas de hard science (ciência pesada, em tradução livre) – biologia, tecnologia, engenharia, física e química –, além dos programas de sociologia e economia, são as principais demandantes, até porque são cursos com cooperação internacional mais desenvolvida. Inclusive a UnB costuma remanejar algumas das bolsas não solicitadas para esses cursos. "É tranquilo conseguir uma bolsa para doutorado sanduíche. A demanda não é grande, mas acho que muitos alunos têm medo de sair."
Para Bergmann, o principal entrave ainda é o idioma. "A maioria dos cursos de humanas não publica em inglês e tem pouca cooperação internacional. A ciência básica tem mais contato com centros de pesquisa internacionais, tem costume de publicar em outra língua e assim ganha mais visibilidade. Ainda vai levar mais um tempo para a área de humanas sair do Brasil", defende Bergmann Ribeiro. A língua é também o que impede a universidade de receber mais estrangeiros. "O problema das instituições brasileiras é não ter matérias dadas em inglês, assim recebemos mais pesquisadores de língua espanhola. Acho que investir em cursos em inglês será uma tendência", acredita.
personagem da notícia
Raphael nunes de oliveira
Bolsista de pós-doutorado do ciência sem fronteiras
Oportunidade de avanço científico
A experiência pessoal é inegável, mas nos níveis de pós-graduação strictu sensu o investimento na formação no exterior visa mesmo ao amadurecimento acadêmico e profissional. Graduado em engenharia mecânica, mestre e doutor em calor e fluidos pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raphael Nunes de Oliveira, de 28 anos, chegou à Universidade da Califórnia, em San Diego, Estados Unidos, para sua primeira experiência de pesquisa fora do Brasil. No Departmento de Mecânica e Engenharia Aeroespacial desde agosto, ele trabalha em um dispositivo de aquecimento de água para uso residencial com uma eficiência de seis a sete vezes superior ao chuveiro elétrico. "Meu objetivo é melhorar meu currículo e aumentar meu número de publicações em revistas especializadas, além de vivenciar a maneira como se faz pesquisa aqui no exterior. Dessa forma, pretendo levar boas ideias e novas perspectivas para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil." Para conseguir a bolsa pelo Ciência sem Fronteiras, ele preencheu os formulários e aguardou seis meses pela resposta. "Apesar de não ter tentado outras modalidades de bolsa, pude perceber, pela comparação com meus amigos também recém-doutores, que meu processo foi mais simples", afirma Raphael, que vê como principal ganho para o Brasil o aperfeiçoamento de seus doutores. "Mantê-los em contato com os principais centros de pesquisa do mundo, sem dúvida, a médio e longo prazo, trará um grande avanço no crescimento científico do país." A bolsa é satisfatória para Raphael, que está vivendo com certa tranquilidade em San Diego. Terminado o auxílio, ele tem a opção de renová-lo por um a 12 meses. "Ainda não decidi se vou renovar, vai depender do andamento da minha pesquisa nesses próximos meses."
As bolsas do CNPq e da Capes são o caminho mais tradicional para os que buscam pós-graduação no exterior. O Ciência sem Fronteiras veio fortalecer as opções e apesar da graduação sanduíche ser seu grande foco, o programa oferece bolsas no exterior também para cursos tecnólogos, de desenvolvimento tecnológico, mestrado profissional, doutorado sanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado.
Das 41.647 bolsas implementadas pelo programa em 2013 (até 20 de dezembro), apenas 20% são para mestrado, doutorado e pós-doutorado. A oxigenação de ideias proporcionada por esses intercâmbios, a configuração de novas parcerias internacionais e o incremento da produção de artigos de projeção mundial são a cereja do bolo dessa circulação de pesquisadores pelo mundo.
A internacionalização dos programas brasileiros de pós-graduação é condição sem a qual o país não alcançará os níveis de inovação que precisa para continuar crescendo. Tal preocupação aparece na avaliação trienal da Capes, que divulgou recentemente os resultados do período 2010-2012. O ranking da pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) realizado desde 1976 se consolidou como instrumento de grande importância para o Sistema Nacional de Pós-Graduação e para o fomento, tanto por parte das agências brasileiras, setores governamentais e não governamentais, quanto para organismos internacionais. As notas máximas – 6 e 7 – almejadas por qualquer programa só são possíveis para mestrados e doutorados com inserção internacional.
Mas quais são os principais ganhos para o pesquisador que opta por fazer uma pós-graduação ou parte dela no exterior? Qual a contribuição dessa experiência para o desenvolvimento da ciência nacional? Quais as áreas e países mais procurados? E mais: o que buscam os pesquisadores estrangeiros que empreendem pesquisas em nosso país? Para responder essas perguntas, o Estado de Minas começa hoje a série "Passaporte para a pesquisa", em que ouviu pró-reitores de pós-graduação de algumas das principais universidades do país, brasileiros que deixaram o Brasil em busca de uma formação em centros de referência mundiais e também de fora que buscaram nosso país. Afinal, quais serão os impactos de tamanho investimento do governo brasileiro na valorização da ciência, tecnologia e inovação?
IMPULSO O Ministério da Educação, por meio da Capes, investiu R$ 9,63 milhões em bolsas e fomento no exterior em 2011, enquanto em 2001 desembolsou R$ 11,12 milhões. Mas o número de bolsas cresceu 80%. As 2.078 fornecidas em 2001 viraram 3.755 10 anos depois, segundo dados da Geocapes. Procurada pelo EM, a Capes não se pronunciou sobre a política de internacionalização do ensino, da qual é um dos principais órgãos de fomento. A explicação para o aumento das bolsas, entretanto, está em uma mudança de foco: as bolsas de mestrado e doutorado pleno foram reduzidas para dar mais opções de formação no modelo sanduíche, quando o pesquisador passa no máximo um ano no exterior.
Para o pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Ricardo Santiago Gomez, é um modelo acertado. Fazer toda a formação no exterior teria um custo elevado para o governo e na opinião de Gomez deveriam receber esse tipo de bolsa apenas pesquisadores de áreas estratégicas ou que trabalhem com temas de grande importância nacional. O doutorado pleno no exterior seria mais interessante para as universidades estrangeiras, principalmente aquelas que cobram, por se tratar de um bom negócio do ponto de vista financeiro. Para as instituições brasileiras, o sanduíche (parte do curso é feita no exterior, parte na instituição brasileira) tem um custo mais baixo e torna-se uma vantagem por permitir a experiência para um maior número de alunos. "A prioridade do governo tem sido as bolsas sanduíches e considero isso correto", defende o pró-reitor.
A grande oferta de vagas nos programas de pós-graduação brasileiros seria outro motivo para não priorizar as formações plenas no exterior. Além disso, Gomez alerta para o fato da quebra de vínculo de pesquisadores brasileiros que optam pela formação completa em outro país. O modelo sanduíche favorece o intercâmbio. "Nessa modalidade, em que o pesquisador passa no máximo um ano no exterior, ele cria uma parceria entre seu orientador brasileiro e o estrangeiro. O formato sanduíche aproxima grupos de pesquisa. Não diria que as bolsas para doutorado pleno deveriam ser extintas, mas para algumas áreas não há necessidade desse investimento. O doutorado pleno é uma ação mais individual do aluno, que vai para o exterior e muitas vezes não tem vínculo com os programas nacionais", defende.
MEDO Mas na Universidade de Brasília (UnB), apenas um quarto das bolsas da Capes para doutorado sanduíche são preenchidas. Segundo o diretor de Pós-Graduação, Bergmann Morais Ribeiro, cada programa tem direito a duas bolsas anuais, mas só alguns fazem o requerimento. As chamadas áreas de hard science (ciência pesada, em tradução livre) – biologia, tecnologia, engenharia, física e química –, além dos programas de sociologia e economia, são as principais demandantes, até porque são cursos com cooperação internacional mais desenvolvida. Inclusive a UnB costuma remanejar algumas das bolsas não solicitadas para esses cursos. "É tranquilo conseguir uma bolsa para doutorado sanduíche. A demanda não é grande, mas acho que muitos alunos têm medo de sair."
Para Bergmann, o principal entrave ainda é o idioma. "A maioria dos cursos de humanas não publica em inglês e tem pouca cooperação internacional. A ciência básica tem mais contato com centros de pesquisa internacionais, tem costume de publicar em outra língua e assim ganha mais visibilidade. Ainda vai levar mais um tempo para a área de humanas sair do Brasil", defende Bergmann Ribeiro. A língua é também o que impede a universidade de receber mais estrangeiros. "O problema das instituições brasileiras é não ter matérias dadas em inglês, assim recebemos mais pesquisadores de língua espanhola. Acho que investir em cursos em inglês será uma tendência", acredita.
personagem da notícia
Raphael nunes de oliveira
Bolsista de pós-doutorado do ciência sem fronteiras
Oportunidade de avanço científico
A experiência pessoal é inegável, mas nos níveis de pós-graduação strictu sensu o investimento na formação no exterior visa mesmo ao amadurecimento acadêmico e profissional. Graduado em engenharia mecânica, mestre e doutor em calor e fluidos pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raphael Nunes de Oliveira, de 28 anos, chegou à Universidade da Califórnia, em San Diego, Estados Unidos, para sua primeira experiência de pesquisa fora do Brasil. No Departmento de Mecânica e Engenharia Aeroespacial desde agosto, ele trabalha em um dispositivo de aquecimento de água para uso residencial com uma eficiência de seis a sete vezes superior ao chuveiro elétrico. "Meu objetivo é melhorar meu currículo e aumentar meu número de publicações em revistas especializadas, além de vivenciar a maneira como se faz pesquisa aqui no exterior. Dessa forma, pretendo levar boas ideias e novas perspectivas para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil." Para conseguir a bolsa pelo Ciência sem Fronteiras, ele preencheu os formulários e aguardou seis meses pela resposta. "Apesar de não ter tentado outras modalidades de bolsa, pude perceber, pela comparação com meus amigos também recém-doutores, que meu processo foi mais simples", afirma Raphael, que vê como principal ganho para o Brasil o aperfeiçoamento de seus doutores. "Mantê-los em contato com os principais centros de pesquisa do mundo, sem dúvida, a médio e longo prazo, trará um grande avanço no crescimento científico do país." A bolsa é satisfatória para Raphael, que está vivendo com certa tranquilidade em San Diego. Terminado o auxílio, ele tem a opção de renová-lo por um a 12 meses. "Ainda não decidi se vou renovar, vai depender do andamento da minha pesquisa nesses próximos meses."
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