quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Descaso com o telespectador - Anna Marina

Descaso com o telespectador

Anna Marina
Estado de Minas: 15/01/2014


Fim de semana mortalmente quente sugere que todos fiquem em casa, aproveitando o sossego de ventiladores ou do ar-condicionado. E, de preferência, aproveitando os programas de TV. Os de graça desanimam qualquer um, nunca vi tamanha falta de respeito ao público. Os pagos são outra ofensa, esta mais séria porque o telespectador está pagando para uma programação que deveria, no mínimo, ser mais bem planejada. Já reclamei aqui como é que os filmes são repetidos ad infinitum; passei a acreditar que a repetição torna os filmes mais baratos. E essa repetição agora tornou-se ainda mais agressiva, depois que os canais foram, supostamente, divididos por temas.

Como estamos em férias escolares, dá para entender o número exagerado de filmes de animação (não é assim que os desenhos animados de antigamente são identificados nos dias de hoje?). A história dos pinguins já é enfarosa até para crianças, que se cansaram dela de tanto que é mostrada.

No fim do ano, fiquei mais animada com um canal que peguei no Now, que mostra apenas programas culturais. Vi, como se estivesse em Nova York, o Quebra nozes no dia de ano-novo, com o corpo de baile inglês, um programão. Vi também A bela adormecida, outro balé raro de ser ver por aqui, principalmente inteiro. Quis repetir a dose no último fim de semana. O canal, cujo nome não consigo guardar, é qualquer coisa que começa com "p", agora é pago. Só pode ser acessado por quem paga um valor mensal, além da assinatura normal que é feita na Net. Assinando mensalmente o canal você paga por poucos filmes, porque a programação não muda. Já tinha comentado aqui o alto custo dos jogos de futebol, acessados em canal especial – esse de cultura não fiquei sabendo quanto custa. E outro canal que deve ser pago separadamente é a BBC, o de noticiários, não a BBC HD, de programas normais, alguns até bem interessantes, como os de culinária. Por que será que a rede inglesa foi dividida em dois canais?

Outra descoberta que fiz é que se a revista da Net mostra a função do botão amarelo do controle remoto, que abre a possibilidade de ver os programas com legenda, a realidade é bem diferente. E pode ser coincidência, mas nos fins de semana, 99% dos filmes e programas exibidos são apenas dublados, não existe legenda em nenhum, nem de dia, nem à noite. Fico pensando se os filmes legendados são mais caros do que os dublados, e não consigo entender a razão. Principalmente porque os legendados facilitam ao telespectador assisti-los sem som, para não incomodar outras pessoas.

O canal cujo número agora é 130 – Universal –, que gosto de assistir por causa das séries, apresenta, entre um programa e outro, um What's now, que é repetido até não poder mais. Já sei de cor tudo que será mostrado, os flashs dos filmes são sempre os mesmos (o de biografias aparece todos os dias, em todas as horas), porque a montagem é sempre a mesma. Já decorei até o nome de quem os escolhe, um tal de Diego Gebara. Que bem podia abrir o leque da escolha para outros tópicos.
Desconfio vagamente que esse descaso pelo telespectador pagante só ocorre porque ninguém reclama, ninguém bota a boca no mundo. Fui das primeiras assinantes de TV a cabo da cidade, quando ninguém acreditava muito que sobrevivessem. Sobreviveram – mas não podiam ser melhor?

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