Mestre Solano garante que sua música é variada, alegre e não deixa ninguém parado |
Aos 72 anos e prestes a completar nada menos que seis décadas de carreira, o paraense Mestre Solano quer tocar em Belo Horizonte. “Nunca estive em Minas”, revela o músico, um dos ícones da guitarrada, gênero musical que combina elementos amazônicos e caribenhos, característico do Pará. Com disco recém-lançado (o 17º de sua carreira), O som da Amazônia, ele se orgulha de estar viajando para poder levar essa sonoridade peculiar a outros públicos e agradece pela saúde e disposição que tem.
“Graças a Deus ainda tenho agilidade para fazer esses solos todos na guitarra. Nunca bebi e nunca fumei”, conta Solano. Ele é o autor da maioria das 13 faixas do novo trabalho (que tem só duas cantadas), tendo dividido a produção e os arranjos com outro veterano, Manoel Cordeiro, que lançou nomes como Beto Barbosa e banda Warilou e é apontado como um dos introdutores da lambada no Pará. Já a direção artística ficou a cargo de outra conterrânea de destaque, a cantora e compositora Aíla.
Solano é responsável pela guitarra principal em sua banda, desenvolvendo os temas e fazendo os solos. Procura não ficar restrito ao mesmo ritmo, o que, na sua opinião, ocorre com frequência entre os que gravam discos de guitarras. “Muito disco por aí parece ter uma música só do início até o fim. Meu trabalho é diferenciado. Mudo as levadas, os andamentos, os arranjos. Se não fizer assim, fica tudo muito parecido”, afirma.
Em seus discos anteriores, Solano costuma misturar outros estilos musicais (brega, bolero, lambada, samba), mas no atual ele optou por se focar essencialmente na guitarrada. O artista acredita que o dançante gênero paraense está “invadindo o Brasil”: “Jornalistas de muitos estados têm feito entrevista comigo. A guitarrada é uma música contagiante, alegre, animada. Ela nasceu aqui no Pará e, me desculpem os colegas de outros estados, mas esse jeito que eu toco é algo daqui mesmo”.
A tiragem inicial de mil cópias do disco, patrocinada pelo projeto Natura Musical, já está esgotada e Solano já providenciou outra igual (por sua conta) para levar nos shows que fará a partir do mês que vem na cidade paraense de Abaetetuba (onde nasceu), em Fortaleza e São Paulo. Ano passado, ele tocou em Buenos Aires, na Argentina, ampliando sua lista de países estrangeiros onde já tocou, que inclui Guiana Francesa, Panamá, Suriname e Venezuela.
Banjo
O artista conta que não teve professor de música. O pai era carpinteiro e gostava de tocar violão e banjo. “Ele achava que músico não tinha futuro. Quando ele saía para trabalhar eu pegava o banjo. Fui batalhando sozinho e, quando me viu tocando, fez um pequeno para mim, chamado bandurra. Foi um dom que Deus me deu e, depois, muitas pessoas aprenderam comigo. O Chimbinha, do Calypso, por exemplo, tocou comigo quando veio do interior”, lembra.
Hoje atuando de forma independente, Solano, que foi membro de bandas como Jazz Tupi e Jazz Aabeté, já foi artista contratado das gravadoras Atração, RGE e Inter CD. “Já estou há um bom tempo sem gravadora. A pirataria acabou com elas e desempregou os músicos. Antes, eram elas que vinham até a gente para assinar contrato. Pagavam o que eu pedia na hora e ainda tinha participação nos lucros”, lamenta.
Entretanto, tristeza mesmo ele só sente quando se lembra da primeira guitarra que teve, um instrumento cheio de história e que representa o quão próximo ele está do povo por conta da música que faz. Convidado para tocar com seu conjunto numa penitenciária paraense, décadas atrás, ele conheceu um preso que era bom marceneiro (“autor de um crime horrível”, recorda) e que se ofereceu para construir um instrumento melhor do que o que usava. De cor vinho e com detalhe preto, foi vendida não se lembra para quem.
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