sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis - De mal a pior‏

De mal a pior

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/01/2014




Noticiário e depoimentos nos dão conta de que no Piscinão de Ramos, quando não roubam, falsificam, o que é uma forma de roubar. E-mail de experiente jornalista, meu companheiro de trabalho noutras jornadas, conta o seguinte: “Em cima da hora de fazer um trabalho profissional para a revista que dirijo, troquei as quatro pilhas AA da câmara. Tive todo tipo de problema que você possa imaginar. Estive a ponto de mandar a Canon para revisão em São Paulo até descobrir que as pilhas novas eram falsas. E eram Panasonic”. Em Belô, tive problema idêntico no telefone sem fio Panasonic, o tal que só faltava falar. Comprei vários no Sam’s Club de Contagem e os distribuí pelos parentes. Quando a pilha original pifou, comprei outra Panasonic, que durou pouquíssimo. Aí o japonês da loja de baterias, próxima do jornal, me disse: “Leva esta, que é boa. A Panasonic é falsa”. Pois é: a boa, sem marca, resistiu bravamente às recargas durante largo período. Só agora o idoso telefone pifou: torrou a área responsável pelas recargas. A exemplo do casamento na fase da paixão, foi ótimo enquanto durou.

Hibiscus

Ainda uma vez o leitor pode acreditar no philosopho: de quiabos e estradas entendo à beça e à bessa. Plantei quiabo (Hibiscus esculentus) quando o quilo valia 18 no dinheiro da época. Colhi o quiabo quando o pregado, uma caixa de 40 quilos, valia os mesmíssimos 18. Passei semanas comendo quiabo nas três refeições do dia, além das toneladas que jogava fora. Antes, no estado norte-americano de Louisiana, encarei uma gumbo, sopa feita com okra, nome do quiabo por lá. Tenho milhares de quilômetros rodados em estradas asfaltadas ou de terra. Não digo milhões, mas muitos milhares. Por isso, afirmo: a BR-040 está um quiabo. Não digo que aquilo seja estrada; antes disso, é um crime sem acostamentos, quatro pistas sem muretas ou espaços divisórios, em que os carros da pista esquerda se cruzam com os que vêm de lá a 80, 100, 120 km/h. Encarei outro dia 600 quilômetros de BR-040 em dia de chuva. Na maioria dos trechos o asfalto brilha que nem vidro e escorrega feito quiabo. Carro ótimo, motorista experiente e um philosopho apavorado no banco do carona. Conheço aquele asfalto brilhoso há mais de meio século e sei que é um sabão, como também sei que nossas estradas andam infestadas de barbeiros, muitos deles transitando sobre pneus acômicos. E acomia, sabe o leitor, significa falta de cabelos, careca. Por mal dos pecados, o motorista contratado tem boa memória e viaja citando os nomes e as profissões das pessoas que morreram nos trechos percorridos. Vidros fechados e ar-refrigerado ligado para evitar o embaçamento do para-brisa, como se uma embaçadela pudesse agravar a neblina espessa em largos trechos da aventura. Resumindo: cuidado com a “estrada” que liga Juiz de Fora e Belo Horizonte, e vice-versa ao contrário.

Inveja
Invejo os ficcionistas que se lembram dos textos de seus romances e da forma como foram escritos. Noite dessas apareceu na tevê um escritor e jornalista contando que seu romance levou 18 anos para ficar pronto, período em que publicou seis outros romances, além de trabalhar em jornalismo. É muita memória numa só cabeça, aliás desprovida de pelos. Contou dos diversos personagens do seu romance, cada um descrevendo determinado período, presente ou passado, bem como aqueles que previam os acontecimentos que se confirmaram ou não. É muita memória. Fiquei humilhado, desliguei a tevê e fui dormir. Até hoje publiquei dois pequenos romances, cada um orçando pelas 70 mil palavras, e não me lembro de nada que escrevi. Saíram de um jato, coisa de 15 dias em que escrevi horas a fio, são articulados, gosto deles e houve leitores que os curtiram. Ainda no final do ano passado, um médico me disse que gostou muito e sua mãe adorou, morrendo de rir. Excelente senhora que curte as tolices compostas por um philosopho, romance referto de cenas picantes, picantíssimas, de arrepiar os pelos das cabeças daqueles que os têm. E o melhor da história é que o autor não se lembra de nada. Preciso reler meu romance com uma caneta, pois foi escrito há três ou quatro anos e o autor, ao reler sua obra, é danado para modificar palavras e frases compostas aqui e acolá.

O mundo é uma bola

10 de janeiro de 49 a.C., Júlio César atravessa o Rubicão, na verdade um riacho, iniciando a guerra civil que opôs suas forças às de Pompeu. A Wikipédia informa que foi neste dia que ele pronunciou a famosa frase: alea jacta est (a sorte está lançada). Claro que o leitor de Tiro e Queda não se conforma com essa cultura wikipédica, porque leu em Plutarco que Cesar pronunciou em grego “Lance-se o dado”, frase do comediógrafo Menandro (342-291 a.C.). Em 1403, Jean de Bettencourt (1362–1425) recebe dos reis da Espanha o senhorio das Ilhas Canárias, passando a se intitular rei. Em 1393, Bettencourt casou-se com Jeanne de Fayel, que se queixava do mau tratamento que recebia do marido. Não tiveram filhos, mas o magano fez vários filhos fora do casamento.

Ruminanças


“Não há nada errado com o Congresso em Washington, a não ser o pessoal que lá está” (Booth Tarkington, 1869–1946).

Nenhum comentário:

Postar um comentário