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O ano novo te espera
Regina Teixeira Costa
Estado de Minas: 05/01/2014
Mais um ano começou na quarta-feira e, como
dizemos, é um novo ano. A contagem do tempo nos dá a possibilidade de
controlar passado, presente e futuro, organizando com marcas a nossa
vida. Marcas das construções que fizemos no vivido, do ido e do muito ou
pouco que nele fizemos.
Agora mesmo, estava eu inaugurando a 16ª pasta anual de artigos e me emocionei com a noção do tempo que essa contagem me causou. Dezesseis anos de escrita neste jornal! Faz tempo que conquistei este espaço e nele coloquei tantas letras, palavras, frases, textos e ideias. É quase inacreditável visualizar tantas pastas com artigos de tantos domingos. E tantos leitores que escrevem, participam e também criticam (ainda bem).
A contagem do tempo nos organiza. São marcas necessárias para nos orientar e facilitar o entendimento de um real que poderia, sem isso, ser caótico. Imagine se não soubéssemos diferenciar o antes, o agora, o depois. Ficaríamos soltos no tempo e no espaço e nada ordenaria o tempo de uma vida, de uma gestação, as idades, a duração das coisas que vivemos. Seriam apenas dias e noites contínuas sem qualquer marca simbólica permitindo a nossa localização temporal.
Sim, serão novos dias, um novo tempo e talvez possamos inaugurar novidades. Um gesto novo, palavras novas dirigidas ao outro, novos comportamentos que nos façam melhores, mais gentis e mais polidos. Quem sabe aprendamos a conversar, sem brigar, sobre o que nos desagrada? Quem sabe realizaremos velhos planos? Quem sabe as apostas relançadas possam se concretizar?
Quando desejamos um feliz ano novo, desejamos a continuidade do que já é bom e algo mais além. Nesse além há espaço para alguma inauguração e, nela, nossa figura mais atenta, mais capaz, mais sensível para o novo que nos espera a cada repetição.
A cada volta ao mesmo, a cada despertar de mais um dia, sabemos da impossibilidade de não repetir, nossa estrutura nos engessa de algum modo. Mesmo assim, a cada dia é possível ver e entender por outros ângulos com o entusiasmo de algo de novo, mesmo que pequeno. Uma fagulha de novo no mesmo.
Parafraseando o filósofo Heráclito, ninguém se banha duas vezes com a mesma água do rio. Assim é o novo: está ali, latente, a ser descoberto. Depende de a pessoa fazer diferente, dar uma resposta diferente sem medo das retaliações do outro. Tememos o abandono e a rejeição. Eles podem vir, claro, há pessoas pouco democráticas, absolutistas e caprichosas que exigem satisfação de fonte alheia. Mesmo assim, seguir em frente com dignidade, mesmo tendo perdido algo, significa encarar a vida como ela é.
Disse Lacan que ninguém deve se culpar, senão por abandonar o seu desejo. O desejo é nosso guia, não se trata de capricho fútil, nem manha – é o sentido que se quer para a vida, decidida pelo próprio sujeito, que comanda o seu e não se deixa à sorte que o destino apresentará.
Ninguém ou nada tem valor caso sejamos reféns e aprisionados. A coisa mais preciosa é a pessoa se apropriar do desejo e priorizar as pequenas coisas que a farão satisfeita consigo mesma, equilibrando a disponibilidade ao outro e o que lhe é caro. Se você teme desagradar (ninguém é unanimidade), pode se enganar: o outro agradece por ter alguém decidido, lúcido e satisfeito a seu lado. Faça esta aposta – pelo resultado, virá a certeza do acerto. Mas, primeiro, a aposta. E é sem garantia... Embarque nessa e boa sorte!
Recomeçar com Drummond pode nos trazer a leveza da poesia. Diz ele, em “Receita de ano novo”: “Para ganhar um Ano Novo/ que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo,/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o ano novo/ cochila e espera desde sempre”.
>> reginacosta@uai.com.br
Agora mesmo, estava eu inaugurando a 16ª pasta anual de artigos e me emocionei com a noção do tempo que essa contagem me causou. Dezesseis anos de escrita neste jornal! Faz tempo que conquistei este espaço e nele coloquei tantas letras, palavras, frases, textos e ideias. É quase inacreditável visualizar tantas pastas com artigos de tantos domingos. E tantos leitores que escrevem, participam e também criticam (ainda bem).
A contagem do tempo nos organiza. São marcas necessárias para nos orientar e facilitar o entendimento de um real que poderia, sem isso, ser caótico. Imagine se não soubéssemos diferenciar o antes, o agora, o depois. Ficaríamos soltos no tempo e no espaço e nada ordenaria o tempo de uma vida, de uma gestação, as idades, a duração das coisas que vivemos. Seriam apenas dias e noites contínuas sem qualquer marca simbólica permitindo a nossa localização temporal.
Sim, serão novos dias, um novo tempo e talvez possamos inaugurar novidades. Um gesto novo, palavras novas dirigidas ao outro, novos comportamentos que nos façam melhores, mais gentis e mais polidos. Quem sabe aprendamos a conversar, sem brigar, sobre o que nos desagrada? Quem sabe realizaremos velhos planos? Quem sabe as apostas relançadas possam se concretizar?
Quando desejamos um feliz ano novo, desejamos a continuidade do que já é bom e algo mais além. Nesse além há espaço para alguma inauguração e, nela, nossa figura mais atenta, mais capaz, mais sensível para o novo que nos espera a cada repetição.
A cada volta ao mesmo, a cada despertar de mais um dia, sabemos da impossibilidade de não repetir, nossa estrutura nos engessa de algum modo. Mesmo assim, a cada dia é possível ver e entender por outros ângulos com o entusiasmo de algo de novo, mesmo que pequeno. Uma fagulha de novo no mesmo.
Parafraseando o filósofo Heráclito, ninguém se banha duas vezes com a mesma água do rio. Assim é o novo: está ali, latente, a ser descoberto. Depende de a pessoa fazer diferente, dar uma resposta diferente sem medo das retaliações do outro. Tememos o abandono e a rejeição. Eles podem vir, claro, há pessoas pouco democráticas, absolutistas e caprichosas que exigem satisfação de fonte alheia. Mesmo assim, seguir em frente com dignidade, mesmo tendo perdido algo, significa encarar a vida como ela é.
Disse Lacan que ninguém deve se culpar, senão por abandonar o seu desejo. O desejo é nosso guia, não se trata de capricho fútil, nem manha – é o sentido que se quer para a vida, decidida pelo próprio sujeito, que comanda o seu e não se deixa à sorte que o destino apresentará.
Ninguém ou nada tem valor caso sejamos reféns e aprisionados. A coisa mais preciosa é a pessoa se apropriar do desejo e priorizar as pequenas coisas que a farão satisfeita consigo mesma, equilibrando a disponibilidade ao outro e o que lhe é caro. Se você teme desagradar (ninguém é unanimidade), pode se enganar: o outro agradece por ter alguém decidido, lúcido e satisfeito a seu lado. Faça esta aposta – pelo resultado, virá a certeza do acerto. Mas, primeiro, a aposta. E é sem garantia... Embarque nessa e boa sorte!
Recomeçar com Drummond pode nos trazer a leveza da poesia. Diz ele, em “Receita de ano novo”: “Para ganhar um Ano Novo/ que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo,/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente, experimente, consciente./ É dentro de você que o ano novo/ cochila e espera desde sempre”.
>> reginacosta@uai.com.br
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