quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

FERNANDO BRANT » Sem fuso e confuso‏

FERNANDO BRANT » Sem fuso e confuso 

Estado de Minas: 08/01/2014






O mês de janeiro guardo para ficar quieto na cidade, gozar do trânsito livre nas ruas e, de preferência, não fazer nem programar nada. É o tempo da preguiça. Mesmo aquelas coisas prazerosas que costumo desfrutar – arte, amizade e um pouco de bebida – reservo para horas tardias do dia. Isento-me de compromissos e fico de olho na rede de balançar. Agora que o sol voltou aos céus mineiros, retomo o hábito de caminhar na piscina ouvindo a música que escolhi. Andar dentro d’água é um dos meus esportes favoritos, que o trabalho e as viagens afastaram do meu cotidiano. Fiquei desacostumado, mas essa é uma intenção para o ano que se inicia e pretendo segui-la fielmente. Sei o quanto é bom para a mente e o físico.

Estou lá, andando n’água, e me vejo observado, diria que guardado, por um belíssimo bem-te-vi. Evito movimentos bruscos para não assustá-lo e ele se posta diante de mim durante alguns minutos. Como chegou, vai-se, mas, antes, bica de leve o líquido da piscina. Seu imponente peitoral amarelo me faz crer que a vitória será nossa na Copa. Não tendo hora para dormir, não há hora para acordar. Nem para tomar o café da manhã, almoçar. O calendário, olho às vezes por causa dos impostos a pagar em todo início do ano. Mas o relógio da casa, pois de pulso nunca tive na vida, fica lá no canto, inobservado. A casa está em ordem em pleno 2014, mas os habitantes não querem ser regulados. Deu fome, come. Deu sono, dorme.

Acontece que, por ter descansado muito, procuro na madrugada algo para fazer antes de Morfeu me chamar. A televisão não ajuda muito, pois o controle passeia pelos canais e geralmente não encontro programa interessante. Existem as exceções. O canal de arte, mas que se repete muito. Os canais jornalísticos, também sempre girando sobre o mesmo. Na última noite, a surpresa: um bom programa sobre filmes publicitários. Conversa de gente inteligente, mas cheia de si. Um mar de egos. Pude rever trabalhos que marcaram época no desenvolvimento da criação publicitária do país. No meio da seleção, a curiosidade de ver um filme antigo de Fernando Meirelles para uma marca de sapatos copiado quase integralmente pela campanha de um banco que vem sendo exibida atualmente.

Foi divertido assistir ao elenco com gente de talento, todos, no fundo, considerando-se gênios. Valeu por eles e suas criações de alta qualidade. O que me fez lembrar, na confusão das horas, do tempo remoto em que, por necessidade, trabalhei em agência de publicidade. Nunca gostei de vender sabonete e nem máquina de lavar. Ficava incomodado em ter de criar frases belas para vender objetos e ações em que não acreditava. Pulei fora rapidamente. Desde então, tenho certa desconfiança da profissão. Principalmente dos marqueteiros da política, pois, mesmo que, individualmente, não compremos o seu produto, se muitos o fizerem vamos todos para o brejo.


>>  www.fernandobrant@hotmail.com

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