ZERO HORA - 08/01/2014
Basta
alguém mencionar a expressão “on the road” para nos seduzir. Cair na
estrada? Nem é preciso chamar duas vezes, convite aceito. Lá vamos nós
de mochila, boné e óculos escuros, em boa companhia, escutando música
vibrante e com um enorme mapa nas mãos – sim, de papel, nada de GPS e
aplicativos, onde fica o romantismo das velhas aventuras?
Sempre
fui fascinada por estradas. As que atravessam cordilheiras, as que
cruzam desertos, as que se avizinham de plantações, as que costeiam o
mar, as que passam em meio a pequenos vilarejos, as de terra, as
asfaltadas, as estreitas, as desafiadoras, as que parecem que vão dar em
lugar nenhum – mas sempre dão.
Estrada é movimento, liberdade,
beleza, poesia. Sem falar no erotismo que ela insinua – não sei se por
causa das curvas ou do quê.
Estamos na temporada mais festejada
do ano: sol, praia, férias, e elas, as estradas. Mas corta! Onde estão o
cenário, as cenas de filme, o charme? Estamos falando de BR-101,
BR-116, RS-040 e demais vias lotadas de veranistas afoitos e
caminhoneiros cansados, de carros velozes e de outros que já deveriam
ter sido aposentados, de gente que corre demais e que, na dúvida, aí
mesmo é que ultrapassa. Dã.
Lembro de escutar uma história sobre
um cara que, ao ver um carro se aproximando na pista contrária bem no
momento em que ele estava ultrapassando, em vez de recuar, acelerava
ainda mais, enquanto berrava para quem vinha: “Vai se ferrar, vai se
ferrar!!” (o verbo não era exatamente ferrar).
Muito engraçado. Mas eu não gostaria de pegar uma carona nessa piada.
Não
importa quem é o imprudente, se o motorista de lá ou de cá, se quem vem
ou quem vai, se quem é defensivo ou agressivo: basta um deslize e todos
se ferram. Todos. Um pneu que estoura de repente, um irresponsável que
bebeu antes de dirigir, um alucinado que pisa fundo para homenagear o
Schumacher, um impulsivo que toma decisões sem pensar, um ansioso que
não tolera perder 10 minutos e segue pelo acostamento, um que acredita
que os outros motoristas têm bola de cristal e por isso não vê
necessidade de acionar o pisca-pisca, outro que mal distingue se o carro
que está 50 metros à frente está indo ou vindo.
Estrada é
movimento, liberdade, beleza e poesia – mas quando vazia, quando estamos
em locais onde a sinalização é espetacular e o asfalto parece um
tapete, quando não há pressa em chegar, quando não há fluxo intenso,
quando não prevalece a cultura da superpotência em quatro rodas, quando
estamos a passeio, e não armados para uma guerra. Não na temporada de
férias num país onde a imprudência ganha as manchetes dos jornais toda
segunda-feira de manhã, depois das ultrapassagens arriscadas do final de
semana.
Pegar a estrada é eletrizante, com certeza. Mas, motoristas, duvidem mais.
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