segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Ártico está mais verde, e isso é mau sinal‏

O Ártico está mais verde, e isso é mau sinal
Derretimento do Polo Norte provocado pelo aquecimento global aumenta a cobertura vegetal, mas plantas não conseguem compensar volume de carbono liberado durante a perda do gelo 
 
Estado de Minas: 06/01/2014


Ursos-polares perto da tundra que nasce no Ártico: verões curtos   fazem com que sequestro de CO2 pelas plantas seja pequeno (Steven C. Amstrup/Divulgação - 14/12/10)
Ursos-polares perto da tundra que nasce no Ártico: verões curtos fazem com que sequestro de CO2 pelas plantas seja pequeno

O aquecimento do planeta tem proporcionado um efeito paradoxal no Ártico: a vegetação está florescendo. Contudo, especialistas alertam que o verde que salpica a paisagem branca não deve ser visto como motivo de comemoração nem como um indicativo de que o aumento na temperatura global não é tão ruim quanto se diz. Segundo pesquisadores da Universidade da Flórida, a cobertura vegetal decorrente das mudanças climáticas é insuficiente para compensar a quantidade de carbono liberada com o derretimento do permafrost, a camada congelada abaixo da superfície. Nesse nível do Ártico, há o dobro de CO2 armazenado, comparado com o que circula na atmosfera.

“O que acontecerá quando o permafrost derreter, lançando gases de efeito estufa que podem aumentar ainda mais a temperatura, é uma questão-chave”, diz Ted Schuur, diretor da Rede de Carbono do Permafrost e do Laboratório de Dinâmicas do Ecossistema da Universidade da Flórida. Depois de três anos estudando o primeiro modelo que simula os efeitos do aquecimento global sobre o permafrost, a equipe de Schuur apresentou os resultados da pesquisa em um artigo publicado na revista Ecology.

De acordo com ele, em princípio, o aumento do calor na região parece favorecer o ambiente. “Se você olha para o equilíbrio entre o que as plantas estão fazendo e o que o solo está fazendo, de fato a vegetação compensa tudo o que vem ocorrendo sob a superfície. A vegetação está crescendo mais rapidamente, ficando maior e sequestrando o carbono do ar”, diz. “Sob a perspectiva das mudanças climáticas, essa é uma coisa boa: a tundra compensando qualquer CO2 que seja liberado do solo”, reconhece. O problema, contudo, é que, no Ártico, os verões são muito curtos. O efeito positivo, portanto, passa muito rapidamente e não compensa os estragos que vêm sendo observados no subsolo da região.

Nos extremos polares, o permafrost – que está congelado permanentemente a muitos metros de profundidade há dezenas de milhares de anos – é muito vulnerável ao aquecimento global. “Nós continuamos a medir as emissões de carbono no inverno, e o que acontece é que as plantas perdem as folhas, ficam dormentes, mas os micróbios continuam a consumir o solo, liberando uma quantidade de carbono que anula qualquer benefício obtido no verão”, observa Schuur.
Os cientistas estimam que entre 20% e 90% do depósito de CO2 orgânico no permafrost pode ser decomposto por micróbios, que o convertem para gases de efeito estufa. Estes, por sua vez, aquecem a atmosfera, dando origem a um ciclo: quanto mais quente o planeta, mais gelo derretido. Como a pesquisa continuará nos próximos três anos, o pesquisador diz que está atrás do ponto exato em que as plantas atingem um limite de crescimento e param de absorver carbono, enquanto o permafrost derretido continua a liberar o gás de efeito estufa.

Primavera simulada Para construir o modelo de estudo, a equipe de pesquisadores construiu cercas na neve para criar glaciares que aquecessem, durante o inverno, o solo abaixo da vegetação. “Isso pode parecer estranho, mas o que fizemos foi criar uma espécie de ‘cobertor de neve gigante’, que protegeu o solo do ar frio”, diz Schuur. A neve extra resultou em uma primavera artificial, permitindo aos cientistas observarem, naquele pedaço do Ártico, a estação intermediária do verão e do inverno. “Nós queríamos aquecer a tundra e causar o derretimento do permafrost. Esse foi o primeiro experimento que conseguiu isolar esse efeito em campo. Então, mostramos que é possível simular o que ocorrerá no futuro quando o permafrost se degradar”, afirma o cientista.

Segundo Schuur, apesar do feito, experimentos em laboratório continuam muito importantes. Uma pesquisa recente publicada na revista Nature Climate Change, da qual o biólogo também participou, examinou amostras de permafrost ao longo de 12 anos, uma quantidade de tempo incomum nesse tipo de estudo. Os pesquisadores mostraram que a água nas amostras desempenhou um grande papel sobre a quantidade de carbono liberada para a atmosfera: quanto mais drenado o solo, mais CO2 emitido.

Outra pesquisa citada pelo estudioso da Universidade da Flórida, publicada na Global Change Biology, mostrou que a razão de carbono e nitrogênio no solo do permafrost ajuda a determinar quanto CO2 será liberado em decorrência do derretimento do gelo. “Esses estudos confirmaram que uma significativa quantidade do gás de efeito estufa vai para a atmosfera e ressaltam que há outros fatores além da temperatura que afetam a emissão de carbono. Tudo isso precisa ser bem investigado”, diz o biólogo.

Metano Os efeitos do aquecimento no Ártico também causam preocupação por causa do metano, um gás de efeito estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Um estudo publicado no fim de novembro na revista Nature Geoscience indicou que o mar da Sibéria lança na atmosfera o dobro de metano do que se imaginava – 17 milhões de toneladas por ano. Na terra, esse gás é lançado quando material orgânico congelado se decompõe. Já no leito marinho, ele pode estar estocado em forma gasosa ou de hidrato de metano.

Quando o permafrost submarino se mantém congelado, uma espécie de capa evita que ele escape. Porém, à medida que a camada de gelo é derretida, criam-se buracos pelos quais o metano é lançado. Essas emissões podem ser maiores e mais abruptas do que aquelas resultantes da decomposição.

O Ártico siberiano é uma área rica em metano que compreende mais de 2 milhões de quilômetros quadrados de mar no Oceano Ártico. Trata-se de uma região três vezes maior do que a parte seca da Sibéria, que havia sido considerada, até recentemente, a principal fonte de metano atmosférico do Hemisfério Norte.


Ameaçados

O número de ursos polares no Ártico pode cair, aproximadamente, 66% até 2050 em virtude do aquecimento global, das atividades de caça e da poluição, disse o ministro dos Recursos Naturais e da Ecologia da Rússia, Sergei Donskoi, citado pela rádio Voz da Rússia. Discursando no Fórum Internacional sobre a Conservação do Urso-Polar, em Moscou, ele apontou a recente atividade industrial na região como o principal fator de poluição, o que já vem afetando a vida desses animais de maneira significativa. Atualmente, a população global de ursos-polares está estimada entre
20 mil e 25 mil indivíduos. 

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