Comerciais
A maioria dos comerciais não tem a criatividade, o punch, o brilho da publicidade brasileira de outros tempos
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/02/2014
Alguma
coisa existe para que a propaganda brasileira tenha caído tanto nos
últimos anos em termos de criatividade. E uma coisa é certa: é quase um
sacrifício assistir ao horário comercial. As 31 palavras que você acaba
de ler não foram escritas por mim, mas por Agnelo Pacheco, publicitário
famoso, e publicadas na edição de 17 de janeiro do Estado de Minas num
texto intitulado “Difícil ver os comerciais na TV”.
Nele, Agnelo
conta que sempre assiste, uma vez por mês, ao horário chamado
“supernobre” da Rede Globo, que começa com o Jornal Nacional e vai até o
início do Jornal da Globo. E diz que em pleno século 21 é preciso ver
mais de 15 comerciais para encontrar um com linguagem própria, criativo.
“A
publicidade brasileira, definitivamente, passa por um momento ruim”
afirma o conhecido publicitário e não faz mais do que confirmar o que
venho escrevendo nesta coluna. Pergunto sempre se os clientes não têm
funcionários que avaliem os comerciais propostos pelas agências, para
impedir aquelas imbecilidades sob a forma de comerciais.
Agnelo
aventa a hipótese de a imbecilidade partir do cliente e a agência
aceitar para não perder a conta. É possível, porque a maioria dos
comerciais não tem a criatividade, o punch, o brilho da publicidade
brasileira de outros tempos. Não dá para entender que uma agência
associe a marca de um automóvel à capacidade do veículo de escapar dos
tiros de metralhadora disparados de um helicóptero, ou recorra à figura
de um polvo, o tipo do animal nojento, para informar que determinado
automóvel “agarra” bem nas curvas e nos pisos molhados. E aqui as
constatações são minhas, com as credenciais de ex-advogado do Sindicato
dos Padeiros da Guanabara durante quatro longos dias. Nunca fui
publicitário, nada entendo de publicidade, mas sou consumidor.
Importante, no texto de Agnelo Pacheco, é ter sido escrito por
publicitário famoso.
Osteoporose
A
notícia de que os maiorais do regime chinês procuram defender-se
guardando milhões em nome de parentes nos paraísos fiscais, com ênfase
para as Ilhas Virgens Britânicas, cujo lema em latim é Vigilate (Sê
cauteloso), me recorda episódio de que tive notícia há mais de meio
século.
As Ilhas Virgens Britânicas, capital Road Town, são
territórios britânicos ultramarinos nas Caraíbas, correspondentes à
metade oriental das Ilhas Virgens. A Oeste, o território faz fronteira
com as Ilhas Virgens Americanas e a Leste com outro território
britânico: Anguilla.
Área 153 km2, população em torno de 27 mil.
Moeda: dólar americano. Vejo no mapa que lá perto há uma ilha chamada
Virgem Gorda, capital Spanish Town, que deve ter continuado virgem pela
obesidade. A Wikipédia não explica a virgindade das outras ilhas
caribenhas.
Onde a relação entre os depósitos chineses e a
osteoporose, que deve ser a aceleração da osteopenia devida a um
desequilíbrio entre a atividade dos osteoblastos e a dos osteoclastos.
Com essa, vosso philosopho acaba de corrigir o Houaiss, que fala em
“aceleração da osteopenia devido a um desequilíbrio”, que mudei para
aceleração devida, porque me soa melhor. Em matéria de pretensão e água
benta, é sabido que cada um tem quanto quer, mas essa de corrigir o
Houaiss, salvo melhor juízo, passou da conta.
No tal episódio,
um maluco sessentão desconfiou de que estava com osteoporose, com seus
ossos cheios de buraquinhos, e importou comprimidos norte-americanos,
mais que um dólar por comprimido, uma fortuna há 50 anos. Tomou o
primeiro, deitou-se e teve a impressão de que os buraquinhos dos seus
ossos se enchiam dos pés à cabeça. Emocionado, gritou: “É tudo!” e o
grito virou sinônimo de loucura em sua família.
Se os chineses
estão utilizando o paraíso fiscal britânico, é sinal de que a
roubalheira alcançou até o Império do Meio, o que nos permite gritar
feito o maluco da osteoporose: “É tudo!”.
O mundo é uma bola
12
de fevereiro de 881: coroação de Carlos III, o Gordo, como imperador do
Sacro Império Romano-Germânico. O Gordo (839-888) nasceu em Neidingen e
morreu em Reichenau. Casou-se em 862 com Richarda da Suábia (845-900),
que, como sabe o leitor ou devia saber, se perdesse tempo com essas
bobagens, era filha do conde Erchander. Tiveram dois filhos.
Sem-vergonha como todo imperador gordo, Carlos III teve ainda Bernardo
da Germânia, filho bastardo. Desconhecendo a cirurgia bariátrica – e a
bariatria é o ramo da medicina que estuda as causas e consequências da
obesidade e o seu tratamento – o Gordo bateu o pacau aos 49 aninhos.
Em
1541 Pedro de Valdivia, militar e conquistador espanhol, funda Santiago
do Chile. Hoje, o Palmeiras tem um jogador chamado Valdívia, acho que
chileno, muito bom quando não está machucado. Em 1870, as mulheres de
Utah recebem o direito de voto. Utah foi um dos primeiros estados ou
territórios a conceder esse direito às mulheres. Salvo engano, é a
região dos mórmons, que concediam ou concedem ainda às mulheres o
direito de dividir um marido (poliginia). De repente, um marido dividido
por quatro ou mais mulheres fica menos chato do que o deus do lar
monogâmico.
Hoje é o Dia do Orgulho Ateu.
Ruminanças
“Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano” (Voltaire, 1694-1778).
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