quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

FERNANDO BRANT » Nervos à flor da pele‏

FERNANDO BRANT » Nervos à flor da pele

Excesso policial deve ser repelido. Também a violência gratuita de jovens bandidos que escondem os rostos 
 
Fernando Brant
Estado de Minas: 12/02/2014


O mundo anda nervoso e o Brasil também. Sente-se no ar que algo não vai bem. Ou que há um desmoronamento social e individual que tende a crescer e, quando isso ocorrer, não se imagina quando pode parar ou ser contido. São vários pequenos e médios fatos que inundam os noticiários todos os dias. Faíscas de incompreensão e violência nos rodeiam. As pequenas ondas se acumulam e eu temo que elas se juntem e formem um movimento incontrolável. Vivendo sob um governo que exalta as qualidades da intervenção em tudo que nos diz respeito, vemos que ele não é capaz de perceber o perigo que corremos e nem demonstra talento e competência para lidar com o nosso cotidiano nem com o médio e o longo prazos.

Diante da série de assaltos e crimes praticados no Aterro, no Rio, jovens de classe média do bairro do Flamengo se investem na função de justiceiros e prendem com corrente de bicicleta um bandido no poste. Erram na ação, mas escancaram a desproteção do cidadão diante da inércia das autoridades. Motoristas e trocadores denunciam que sofrem, diariamente, uma média de quatro agressões físicas ou verbais da população a que servem.

A polícia, que deveria ser a nossa guarda, tortura e mata um suspeito de traficar drogas e o caso, Amarildo, ganha a ruas e bocas do fino Rio de Janeiro e artistas se movem, protestam, fazem vaquinhas para colaborar com a família da vítima. Há um lado performático, mas tudo estaria muito bom se o mesmo empenho fosse demonstrado com a soldada Alda, assassinada por traficantes. Nenhuma palavra, nenhuma canção, reclama a mãe da moça morta.

Os direitos humanos são gerais, sua busca deve servir a todos, seja qual for a classe social, a ideologia ou a nacionalidade dos que sofrem. O mal cometido nos Estados Unidos ou no Brasil deve ser condenado da mesma forma que aquele praticado na Rússia ou em Cuba. Democracia não pode ser um conceito oco e variável a ser utilizado de acordo com a vontade mental de cada um. Se o black bloc é que jogou o artefato que matou o repórter da rede televisão, não adianta mascarar a verdade e dizer que o que houve foi abuso da polícia. A Ordem dos Advogados do Brasil, tão notável nos tempos da ditadura, tem manifestado opiniões muito partidárias ultimamente. Está fugindo de assumir um papel fundamental próprio das associações profissionais isentas.

Excesso policial deve ser repelido. Também a violência gratuita de jovens bandidos que escondem os rostos para não ser identificados e saem pelas ruas assustando o povo e botando fogo em propriedades particulares e públicas, agredindo a integridade de todos nós.

A sociedade brasileira tem de se mover e exigir que os poderes do Estado ajam, para que as marolinhas não virem um maremoto.

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