sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis - Idiotice midiática‏

Idiotice midiática

O mundo tem mudado tanto que acaba de inventar o mel de cobra peçonhenta

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/02/2014

É todo santo dia na maioria dos jornais que leio e por meio da tevê: a polícia prende três sujeitos, que confessam um crime, e a imprensa informa que os três são “suspeitos”. Por quê? Só porque não têm sentença transitada em julgado? Besteira: aquele porteiro de BH teve sentença transitada em julgado e passou anos preso, sendo inocente, porque era “parecido” com o verdadeiro criminoso, o doutor Pedro Meyer Ferreira Guimarães, o Maníaco do Anchieta, estuprador confesso. Como sou teimoso, procuro o verbete “suspeito” no Houaiss: 1. que suscita inquietação ou cuidado (sintomas suspeitos); 2. de cuja existência, exatidão ou legitimidade não se tem certeza (documento suspeito); 3. que inspira desconfiança ou suspeitas (seu passado tornava-o um homem suspeito); 4. que se supõe ser falsificado ou ilegal; duvidoso (mercadoria de procedência suspeita). E ainda: 5. diz-se de ou indivíduo sobre quem recaem suspeitas de ser o autor, o culpado de algo (a polícia já tem alguns [indivíduos] suspeitos do roubo). Ora, em todos os casos a que me refiro ou os ladrões, assassinos, estupradores, pedófilos, latrocidas foram filmados cometendo os crimes ou são réus confessos. Portanto, não podem ser suspeitos. E a mídia continua insistindo nessa besteira. Como também noutra asneira, que vem sendo repetida por um jornalista televisivo.

Diz ele que “jornalista não pode deduzir”, como aprendeu na faculdade em que se formou. Não pode, como? Se o guindaste do Itaquerão cai em cima de um caminhão e o motorista, que estava na cabine, morre esmagado, é claro que o jornalista e a humanidade podem deduzir que o chofer foi morto pelo guindaste. Dedução que independe de perícia. As besteiras não param por aí. Sabe aquela revista francesa de celebridades, Closer, que publicou fotos do príncipe William passando protetor solar nas nádegas de sua linda mulher, a duquesa de Cambridge? Pois a revista publicou matéria sobre o romance que o presidente François Hollande estaria mantendo com uma atriz chamada Julie Gayet, com a chamada de capa: L’Amour secret du président. Foi o bastante para uma apresentadora de nossa tevê falar da suposta acusação da revista. Ora, suposto é o romance de François com Julie. A denúncia da revista foi mais que verdadeira, matéria de capa e sete páginas, com as fotos do presidente e da atriz, detalhes sobre o apê em que dormem juntos etc. Parece que não foram fotografados na cama; ainda assim, a matéria nada teve de suposta.


Gente fina
Apresentou-se à polícia do Rio de Janeiro um mineiro imbecil, acho que do Triângulo, que pichou as estátuas do Zózimo Barroso do Amaral e do Carlos Drummond de Andrade. Disse que é pichador profissional. Sua “assinatura” foi reconhecida por outros profissionais do ramo. Em seguida, a polícia identificou a namorada do artista, uma loura que não é loura, July B. Vasconcellos Reis, com cara de poucos amigos, apelidada Mel, procurada por homicídio, tentativa de homicídio e outros crimes. O mundo tem mudado tanto que acaba de inventar o mel de cobra peçonhenta. Independentemente das penas previstas pela legislação brasileira para os crimes de homicídio, tentativa etc., penso que as chibatadas em praça pública seriam utilíssimas para pichadores, desde que aplicadas com força e às centenas – digamos, 500 – sendo a família do pichador obrigada a pagar ao executor R$ 1 por chibatada, assim como as famílias chinesas pagam a munição gasta nos fuzilamentos. Dias antes, um idiota que faz comentários televisivos criticou o fato de um jornal, do grupo proprietário do canal de televisão, estampar foto de primeira página da estátua de Drummond pichada, quando, na mesma noite, um senhor de 81 anos, residente no terceiro pavimento de um prédio situado em uma favela, morrer de um tiro de bala perdida. Parece-me – e o leitor dirá se tenho razão – que não é “elegante” criticar o jornal do grupo em que o crítico azurra suas besteiras num canal de tevê. Sua censura foi de uma cretinice sem par, porque estátua pichada por imbecil, filmado no ato, é notícia, enquanto morte por bala perdida deixou de ser notícia de primeira página, tantos são os óbitos no Brasil inteiro, quase todos os dias. E a bala perdida não foi encontrada pelo idoso no Copacabana Palace, mas numa favela em que há tiroteios diários.


O mundo é uma bola
Em 1778, Voltaire é iniciado na Maçonaria. Teria sido uma das cerimônias mais brilhantes da história da maçonaria mundial. Pudera: era Voltaire. Agora, um tiquinho de cultura wikipédica: o nome maçonaria vem do francês maçonnerie, que significa construção, alvenaria, pedreira. Maçom vem do inglês mason e do francês maçon, isto é, “pedreiro”. Metz, em alemão, é “cortador de pedra”. Maçom é um aportuguesamento do francês e maçonaria significa, ainda segundo a Wikipédia, “associação de pedreiros”. Os Estados Unidos teriam 58% dos maçons, a Inglaterra 20% e o Brasil 2,7%. Parece que o planeta tem aproximadamente 6 milhões de maçons. Em 1857 Gustave Flaubert foi absolvido da acusação de ter escrito um livro imoral, Madame Bovary. Hoje é o Dia do Gráfico.


Ruminanças
“Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).

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