Idiotice midiática
O mundo tem mudado tanto que acaba de inventar o mel de cobra peçonhenta
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/02/2014
É todo
santo dia na maioria dos jornais que leio e por meio da tevê: a polícia
prende três sujeitos, que confessam um crime, e a imprensa informa que
os três são “suspeitos”. Por quê? Só porque não têm sentença transitada
em julgado? Besteira: aquele porteiro de BH teve sentença transitada em
julgado e passou anos preso, sendo inocente, porque era “parecido” com o
verdadeiro criminoso, o doutor Pedro Meyer Ferreira Guimarães, o
Maníaco do Anchieta, estuprador confesso. Como sou teimoso, procuro o
verbete “suspeito” no Houaiss: 1. que suscita inquietação ou cuidado
(sintomas suspeitos); 2. de cuja existência, exatidão ou legitimidade
não se tem certeza (documento suspeito); 3. que inspira desconfiança ou
suspeitas (seu passado tornava-o um homem suspeito); 4. que se supõe ser
falsificado ou ilegal; duvidoso (mercadoria de procedência suspeita). E
ainda: 5. diz-se de ou indivíduo sobre quem recaem suspeitas de ser o
autor, o culpado de algo (a polícia já tem alguns [indivíduos] suspeitos
do roubo). Ora, em todos os casos a que me refiro ou os ladrões,
assassinos, estupradores, pedófilos, latrocidas foram filmados cometendo
os crimes ou são réus confessos. Portanto, não podem ser suspeitos. E a
mídia continua insistindo nessa besteira. Como também noutra asneira,
que vem sendo repetida por um jornalista televisivo.
Diz ele que
“jornalista não pode deduzir”, como aprendeu na faculdade em que se
formou. Não pode, como? Se o guindaste do Itaquerão cai em cima de um
caminhão e o motorista, que estava na cabine, morre esmagado, é claro
que o jornalista e a humanidade podem deduzir que o chofer foi morto
pelo guindaste. Dedução que independe de perícia. As besteiras não param
por aí. Sabe aquela revista francesa de celebridades, Closer, que
publicou fotos do príncipe William passando protetor solar nas nádegas
de sua linda mulher, a duquesa de Cambridge? Pois a revista publicou
matéria sobre o romance que o presidente François Hollande estaria
mantendo com uma atriz chamada Julie Gayet, com a chamada de capa:
L’Amour secret du président. Foi o bastante para uma apresentadora de
nossa tevê falar da suposta acusação da revista. Ora, suposto é o
romance de François com Julie. A denúncia da revista foi mais que
verdadeira, matéria de capa e sete páginas, com as fotos do presidente e
da atriz, detalhes sobre o apê em que dormem juntos etc. Parece que não
foram fotografados na cama; ainda assim, a matéria nada teve de
suposta.
Gente fina
Apresentou-se à
polícia do Rio de Janeiro um mineiro imbecil, acho que do Triângulo, que
pichou as estátuas do Zózimo Barroso do Amaral e do Carlos Drummond de
Andrade. Disse que é pichador profissional. Sua “assinatura” foi
reconhecida por outros profissionais do ramo. Em seguida, a polícia
identificou a namorada do artista, uma loura que não é loura, July B.
Vasconcellos Reis, com cara de poucos amigos, apelidada Mel, procurada
por homicídio, tentativa de homicídio e outros crimes. O mundo tem
mudado tanto que acaba de inventar o mel de cobra peçonhenta.
Independentemente das penas previstas pela legislação brasileira para os
crimes de homicídio, tentativa etc., penso que as chibatadas em praça
pública seriam utilíssimas para pichadores, desde que aplicadas com
força e às centenas – digamos, 500 – sendo a família do pichador
obrigada a pagar ao executor R$ 1 por chibatada, assim como as famílias
chinesas pagam a munição gasta nos fuzilamentos. Dias antes, um idiota
que faz comentários televisivos criticou o fato de um jornal, do grupo
proprietário do canal de televisão, estampar foto de primeira página da
estátua de Drummond pichada, quando, na mesma noite, um senhor de 81
anos, residente no terceiro pavimento de um prédio situado em uma
favela, morrer de um tiro de bala perdida. Parece-me – e o leitor dirá
se tenho razão – que não é “elegante” criticar o jornal do grupo em que o
crítico azurra suas besteiras num canal de tevê. Sua censura foi de uma
cretinice sem par, porque estátua pichada por imbecil, filmado no ato, é
notícia, enquanto morte por bala perdida deixou de ser notícia de
primeira página, tantos são os óbitos no Brasil inteiro, quase todos os
dias. E a bala perdida não foi encontrada pelo idoso no Copacabana
Palace, mas numa favela em que há tiroteios diários.
O mundo é uma bola
Em
1778, Voltaire é iniciado na Maçonaria. Teria sido uma das cerimônias
mais brilhantes da história da maçonaria mundial. Pudera: era Voltaire.
Agora, um tiquinho de cultura wikipédica: o nome maçonaria vem do
francês maçonnerie, que significa construção, alvenaria, pedreira. Maçom
vem do inglês mason e do francês maçon, isto é, “pedreiro”. Metz, em
alemão, é “cortador de pedra”. Maçom é um aportuguesamento do francês e
maçonaria significa, ainda segundo a Wikipédia, “associação de
pedreiros”. Os Estados Unidos teriam 58% dos maçons, a Inglaterra 20% e o
Brasil 2,7%. Parece que o planeta tem aproximadamente 6 milhões de
maçons. Em 1857 Gustave Flaubert foi absolvido da acusação de ter
escrito um livro imoral, Madame Bovary. Hoje é o Dia do Gráfico.
Ruminanças
“Viva
cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...” (Apparício
Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).
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