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Identificadas moléculas ligadas à endometriose grave
Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 06/02/2014
Pesquisadores estimam
que 10% das mulheres sofram com a endometriose, uma doença de origem
desconhecida e que causa dores insuportáveis e infertilidade, dependendo
da gravidade. Tanto mistério sobre a origem do problema faz com que os
tratamentos se limitem a duas opções: terapia hormonal e, nos casos mais
avançados, cirurgia. Resultados de estudo publicado na edição de hoje
da revista Science Translational Medicine, porém, sinalizam um primeiro
passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à
possibilidade de terapias personalizadas.
O endométrio reveste a
parede interna do útero e é uma das regiões do sistema reprodutor
feminino mais afetadas pelas alterações no ciclo menstrual. Lá, o óvulo
se aloja após a fertilização e, caso a mulher não engravide, parte dessa
mucosa sai durante a menstruação. Mas isso não ocorre com quem tem a
endometriose. Em vez de serem eliminadas, as células seguem para os
ovários ou a cavidade abdominal, onde se depositam. As duas
possibilidades mais fortes para a ocorrência do problema são a de um
refluxo do sangue pelas trompas.
A doença também se caracteriza
pela inflamação aguda no sistema reprodutor. Por isso, muitas moléculas
que participam desse processo inflamatório têm sido estudadas, uma de
cada vez ou em grupos de tamanho limitado. Os cientistas tentam, com
isso, identificar marcadores que caracterizem a endometriose de forma
mais precisa. Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology
(EUA), no entanto, apostaram na investigação de um grupo maior de
fatores inflamatórios do endométrio, todos ao mesmo tempo.
Para
isso, mediram as concentrações de 50 moléculas presentes no fluido
abdominal de 77 pacientes. Mesmo sabendo que cada mulher sofreria com um
estágio diferente da doença, os pesquisadores preferiram não separá-las
nos níveis 1, 2, 3 e 4 de gravidade, como os médicos costumam fazer.
“Preferimos uma análise multivariada, em que identificamos conjuntos de
moléculas em vez de pacientes, independentemente do grau de doença de
cada uma delas”, explicou Linda Griffith, uma das autoras da pesquisa.
Durante
as análises, os cientistas perceberam que um grupo de mulheres, aquelas
que sentiam mais dores e precisavam ser submetidas a intervenção
cirúrgica, tinha um conjunto de 12 moléculas que se modificava em um
processo em cadeia. Ou seja, o comportamento de uma dependia sempre do
da outra. Essa relação, segundo Linda, é orquestrada pelos macrófagos,
células ligadas à defesa do organismo.
“Os colocamos em cultura e
descobrimos que eles secretavam substâncias semelhantes. Depois,
testamos diversas drogas e descobrimos que os inibidores de quinase
reduziam substancialmente essa produção, o que nunca foi visto antes”,
disse a pesquisadora.
De acordo com Linda Griffith, a análise
multivariada de redes inflamatórias permitiu identificação de subgrupos
de pacientes mais graves. “E também em quais mulheres os tratamentos
hormonais não têm eficácia”, completa.
dor amenizada O
ginecologista e obstetra Jurandir Passos, explica que as quinases são
enzimas envolvidas em diversos processos inflamatórios. “Esses
pesquisadores descobriram que, quando utilizam os inibidores de quinase,
é possível impedir a produção dessas substâncias inflamatórias. Assim,
pode-se acabar com a dor sofrida pelas pacientes”, diz. O especialista
ressalta que o tratamento proposto é para amenizar os sintomas da
endometriose, não para curar o problema.
Segundo Passos, ainda é
cedo para apostar em um novo tratamento, ainda que a pesquisa tenha
aberto o caminho no desenvolvimento de novas possibilidades de
intervenção. “Os pesquisadores, além de proporem uma maneira diferente
de classificar as pacientes, sugerem outro tipo de tratamento. É um
estudo sério e muito promissor, mas ainda precisamos aguardar mais
pesquisas com um grupo maior de mulheres para realmente afirmarmos
alguma coisa”, pondera.
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