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Maria Ester Maciel - memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 04/02/2014
Durante o voo de
Lisboa a Belo Horizonte na quinta-feira passada, pus-me a folhear três
livros comprados numa pequena livraria portuguesa, todos de um poeta
que, mesmo tendo morrido em 1935, continua publicando livros até hoje:
Fernando Pessoa. Mas não, esses livros não são psicografados do além.
Eles vêm do inesgotável acervo de manuscritos inéditos deixados pelo
poeta, os quais se encontram, atualmente, sob os cuidados da Biblioteca
Nacional de Lisboa. Graças ao trabalho de uma dedicada equipe de
pesquisadores e estudiosos, esse material tem sido transcrito e
publicado em livros, ano após ano. Daí que Pessoa continua(e continuará
por muito tempo ainda) em plena atividade literária.
Pois bem. Os três livros que me acompanharam na viagem incluem escritos desse acervo. O primeiro é só de contos; o segundo reúne contos, fábulas e crônicas; e o terceiro, o mais alentado, inclui escritos de Pessoa sobre a chamada “heteronímia”, ou seja, o conjunto de escritores fictícios que ele inventou e a quem atribuiu a autoria de muitos textos, em diferentes gêneros. Depois de ler alguns contos, detive-me com mais cuidado no terceiro volume, que recebeu o título de Teoria da heteronímia e foi publicado pela Editora Assírio & Alvim, em 2012. Organizada por Fernando Cabral Marins e Richard Zenith, a edição é, no mínimo, espantosa. E para quem admira e curte a obra múltipla de Fernando Pessoa, é uma delícia de livro.
A parte mais interessante do volume está logo do início. Intitula-se “Tábua de heterônimos e outros autores fictícios”. Com um detalhe: os heterônimos listados não são apenas aqueles que todos nós conhecemos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares), mas totalizam nada menos que 106 “autores-personagens” de Pessoa, apresentados um a um na “tábua”, em ordem cronológica. O primeiro, inventado quando o poeta era ainda criança, chama-se Chevalier de Pas. O último (ou última) é Maria José, autora de um único texto, “A carta do corcunda para o serralheiro”, datada de 1929 ou 1930. Entre esses dois há de tudo: Firmino Lopes (tradutor de poemas gregos), Dr. Abílio Quaresma (compilador de contos policiais), Raphael Badaya (astrólogo e estudioso do ocultismo), Dr. Florêncio Gomes (autor de um Tratado de doenças mentais), Joaquim Moura-Costa (poeta satírico, antimonárquico e anticlerical), Jean Seul de Méluret (heterônimo francês, autor de três ensaios sobre os costumes franceses), além de Olga Baker, que teria escrito três livros planejados por Pessoa para ganhar dinheiro: O livro do toilette, O livro da dona de casa e O livro da mãe. Há também tradutores e ensaístas ingleses, charadistas, dois primos de Alberto Caeiro, um irmão de Ricardo Reis e até alguns espíritos astrais que escrevem do além. E muitos, muitos outros.
Se Fernando Pessoa já definiu o poeta como um “fingidor”, podemos dizer que ele “fingiu” todos esses autores. E transformou-os em personagens de um drama: o drama da multiplicidade que marcou sua própria existência como pessoa. Um drama que se apresenta também como um jogo, capaz de divertir e intrigar quem se propõe a entrar nele.
Coisa de gênio.
Pois bem. Os três livros que me acompanharam na viagem incluem escritos desse acervo. O primeiro é só de contos; o segundo reúne contos, fábulas e crônicas; e o terceiro, o mais alentado, inclui escritos de Pessoa sobre a chamada “heteronímia”, ou seja, o conjunto de escritores fictícios que ele inventou e a quem atribuiu a autoria de muitos textos, em diferentes gêneros. Depois de ler alguns contos, detive-me com mais cuidado no terceiro volume, que recebeu o título de Teoria da heteronímia e foi publicado pela Editora Assírio & Alvim, em 2012. Organizada por Fernando Cabral Marins e Richard Zenith, a edição é, no mínimo, espantosa. E para quem admira e curte a obra múltipla de Fernando Pessoa, é uma delícia de livro.
A parte mais interessante do volume está logo do início. Intitula-se “Tábua de heterônimos e outros autores fictícios”. Com um detalhe: os heterônimos listados não são apenas aqueles que todos nós conhecemos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares), mas totalizam nada menos que 106 “autores-personagens” de Pessoa, apresentados um a um na “tábua”, em ordem cronológica. O primeiro, inventado quando o poeta era ainda criança, chama-se Chevalier de Pas. O último (ou última) é Maria José, autora de um único texto, “A carta do corcunda para o serralheiro”, datada de 1929 ou 1930. Entre esses dois há de tudo: Firmino Lopes (tradutor de poemas gregos), Dr. Abílio Quaresma (compilador de contos policiais), Raphael Badaya (astrólogo e estudioso do ocultismo), Dr. Florêncio Gomes (autor de um Tratado de doenças mentais), Joaquim Moura-Costa (poeta satírico, antimonárquico e anticlerical), Jean Seul de Méluret (heterônimo francês, autor de três ensaios sobre os costumes franceses), além de Olga Baker, que teria escrito três livros planejados por Pessoa para ganhar dinheiro: O livro do toilette, O livro da dona de casa e O livro da mãe. Há também tradutores e ensaístas ingleses, charadistas, dois primos de Alberto Caeiro, um irmão de Ricardo Reis e até alguns espíritos astrais que escrevem do além. E muitos, muitos outros.
Se Fernando Pessoa já definiu o poeta como um “fingidor”, podemos dizer que ele “fingiu” todos esses autores. E transformou-os em personagens de um drama: o drama da multiplicidade que marcou sua própria existência como pessoa. Um drama que se apresenta também como um jogo, capaz de divertir e intrigar quem se propõe a entrar nele.
Coisa de gênio.
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