quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

MARINA COLASANTI » Considerações pouco modernas‏

MARINA COLASANTI » Considerações pouco modernas 
Estado de Minas: 13/02/2014




Acho que estou envelhecendo. Dizem que é isso que acontece com o passar dos anos e deve ser verdade. Por baixo da tinta os cabelos estão brancos e por baixo dos cabelos surpreendo considerações que suspeito não sejam modernas. Por exemplo, não tenho nenhum interesse nas técnicas ou recursos de que o ator Francisco Cuoco lança mão – sem trocadilho – para satisfazer sexualmente a sua gentil namorada de 27 anos.

Cuoco é pessoa respeitável e delicada. É certo portanto que, se declarou não usar remédios para ereção, mas “filmes eróticos, pornôs mesmo”, o fez em resposta a alguma pergunta objetiva. O espírito jornalístico que gera esse tipo de pergunta é o mesmo que faz com que a resposta – que me recuso a transcrever na íntegra – seja escolhida pelo jornal O Globo para integrar sua seção de domingo “Frases da semana”.

Sendo difícil crer que nada mais digno e útil tenha sido dito na semana passada, a frase deve ter ido para o trono porque tem apelo. Mas apelo para quem? Pessoalmente, não tenho nenhuma curiosidade pela ereção de atores, jogadores de futebol, astros do rock ou modelos. A única ereção que me diz respeito é a daquele que me frequenta os lençóis. E até me incomoda que as outras me sejam atiradas no colo pela mídia.

Sei que uma afirmação dessas pode me garantir o rótulo de conservadora. Mas grandes riscos ajudam a combater a decrepitude comportamental, e meto o pé no acelerador.

Quer saber? Também não gosto do clima de bordel que anima a casa do Grande Irmão. Não vejo, mas sei. Quem fica com quem, quem transa com quem, quem se sacode debaixo do edredom com quem, quem beija quem na piscina, não é nada que eu queira ver, quanto mais acompanhar. Olhei pelo buraco da fechadura aos 5 anos para ver minha mãe nua tomando banho. Foi a única vez. A partir daí, só usei buracos de fechadura para abrir portas. E a porta da curiosidade não entra nessa lista.

Tem mais, a burrice alheia não me diverte. Me entristece. Tenho horror a pegadinhas mentais.

Se tantos gostam, porém, deve ser erro meu, coisa de outra geração. O grave é que não pretendo praticar o desapego. Fico com minha posição mesmo que antiga, pois é com ela que me sinto mais confortável.

E já que estamos em clima de confidência, entrego mais um ponto de vista comprometedor sobre um tema que está sendo discutido nesses dias: quando em viagem de avião, prefiro não ter gente seminua no assento ao meu lado. Isso vale tanto para a dupla alcinha/shortinho quando para a dobradinha viril regata/bermuda curta.

A distância entre os assentos é nenhuma, o braço da poltrona tem que ser partilhado, mesmo não oferecendo mais do que cinco centímetros de largura. Se a exposição epidérmica é bem-vinda na praia, em plena liberdade solar, torna-se opressiva quando, a bordo de um artefato voador e atados ao assento, não podemos nos preservar chegando um tantinho pra lá como faríamos na areia. Roçar em pele alheia e desconhecida não é das minhas sensações favoritas.

Exigir respeito às normas de vestuário está sendo considerado antidemocrático. Mas ninguém vai a enterros com traje de festa, à praia de luto fechado, ou ao trabalho de biquíni. Escolhe-se a roupa de acordo com a conveniência. Ou seria o próprio conceito de conveniência conservador e superado?

>>  marinacolasanti.s@gmail.com

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