A febre das ruas
baixou, ainda que transitoriamente, mas a semana será de temperaturas
elevadas na superestrutura política, especialmente na relação do governo
com o PMDB e a base parlamentar. Três ministros – da Casa Civil, da
Fazenda e de Relações Institucionais – tiveram uma pajelança no início
da noite com o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que tem nas mãos um
rojão poderoso: a relatoria da Medida Provisória 627, que altera todo o
regime tributário das empresas, encerrando a transição para o modelo
definitivo. Ainda que não contasse com outras armas, como a derrubada de
vetos e de outros projetos de interesse do governo, só com essa granada
ele poderia arrancar as concessões que Dilma Rousseff vem se recusando a
fazer ao partido na reforma ministerial.
Ainda na noite de ontem, o vice-presidente Michel Temer recebeu o candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, e mais uma penca de prefeitos do estado para uma demonstração de que o PMDB pode jogar sozinho nos estados quando for desprezado pelo PT. Dilma foi muito estimulada a enfrentar o apetite ministerial do PMDB, negando-lhe a sexta pasta. Eles berram, mas não rompem, disseram os que aconselharam a presidente a endurecer. Dificilmente romperão mesmo, mas podem fazer com ela, pelo menos em alguns estados, o que fizeram com José Serra em 2002: ignorar a aliança nacional e descarregar votos em outro candidato a presidente.
A MP 627, para a qual o líder Eduardo Cunha indicou-se como relator, envolve grandes interesses das empresas, as mesmas que daqui a uns dias estarão desembolsando recursos para financiar as campanhas. Afeta o Imposto de Renda, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, o PIS/Pasep e outros tributos. E tudo isso, que Eduardo Cunha pode alterar, já deve ter sido acertado com os donos do capital. Tanto é que o próprio ministro Guido Mantega participou da reunião.
Afora isso, hoje, na primeira sessão bilateral do Congresso, serão analisados quatro vetos da presidente, um deles ao projeto que permite a criação de mais de 300 municípios, com tudo que isso representa para as contas públicas, que não andam em boa situação perante os investidores e analistas de mercado. O Marco Civil da Internet, um projeto necessário, que coloca o Brasil na vanguarda da inovação em governança da rede, também pode ser sacrificado pelo PMDB em seu afã de mostrar a Dilma o valor do apoio parlamentar e da aliança eleitoral.
Mesmo sendo a candidata favorita, Dilma concorrerá ao segundo mandato numa conjuntura econômica e política instável, pontuada pela Copa do Mundo e o mau humor das ruas. Mesmo enfrentando adversários que hoje não chegam a ameaçá-la, as condições eleitorais não recomendam a Dilma brigar para valer com o principal aliado. Em alguns estados, a começar por Minas Gerais, parte dos peemedebistas vem se realinhando com o candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves. Se depender do ex-presidente Lula, ela tratará de resolver esta semana as pendências com o PMDB.
Campanha singular
Márcia Cavallari, presidente do Ibope Inteligência, é uma das maiores conhecedoras da alma do eleitorado brasileiro. Em entrevista ao portal El País Brasil, ela resume a sorte de Dilma, ao dizer que “há um desejo de mudança, mas o problema é que, por enquanto, as pessoas não estão vendo na oposição quem possa representar essa mudança. Nas pesquisas que a gente fez, não vemos os candidatos da oposição se apropriando desse sentimento. Dilma ainda tem uma grande vantagem”.
Afora o baixo conhecimento que o eleitorado tem dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, ela aponta a desconcentração eleitoral decorrente da realização da Copa do Mundo aqui. “Vão chegar as delegações, vai estar aquela convivência com outras pessoas e tal, então as pessoas só estarão focadas nas questões eleitorais depois que acabar a Copa, a partir de 13 de julho. A campanha pegará o fim de julho, agosto e setembro. Vai ser uma campanha muito curta, o que dificulta as ações. A partir do horário eleitoral gratuito na televisão, que começa em 19 de agosto, é que todos os candidatos passarão a ser conhecidos de uma forma mais homogênea pela população.”
Hoje, comenta ela, não dá para dizer com certeza que influência terá a Copa: “Vai depender muito do que acontecer. Quero dizer: a gente vai passar vergonha? Tudo vai ser entregue? Vai estar tudo remendado? Não vai? Isso é algo que a gente vê. A população, a opinião pública, não quer passar vergonha com a Copa. E aí há as manifestações, que a gente também não sabe se vão voltar”.
Plenário quente
Em ano eleitoral, mesmo com o quórum baixo, o plenário da Câmara esquenta. Como ontem, quando o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) fez um duro ataque ao PT, seus governos e seus líderes, terminando por acusar o ministro Gilberto Carvalho de ter ajudado a fomentar os protestos e a violência nas manifestações, pois um ex-auxiliar dele estava entre os que queimaram pneus na porta do Estádio Mané Garrincha durante a Copa das Confederações. A defesa do ministro foi feita pelo deputado peemedebista Francisco Escórcio (MA), que batalha para apaziguar os ânimos entre seu partido e o PT. “Não cometa uma calúnia dessa contra o ministro Gilberto, que é do bem e da ordem. Ainda na semana passada, ele desceu do gabinete, de peito aberto, para negociar com os líderes da manifestação do MST, obtendo uma trégua na violência. Enquanto ficarmos repetindo calúnias, uns contra os outros, estaremos servindo aos que trabalham para desqualificar os partidos e a política.”
Se o calor político já está alto agora, imagine-se em setembro, com a ajuda da seca e da disputa eleitoral.
Ainda na noite de ontem, o vice-presidente Michel Temer recebeu o candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, e mais uma penca de prefeitos do estado para uma demonstração de que o PMDB pode jogar sozinho nos estados quando for desprezado pelo PT. Dilma foi muito estimulada a enfrentar o apetite ministerial do PMDB, negando-lhe a sexta pasta. Eles berram, mas não rompem, disseram os que aconselharam a presidente a endurecer. Dificilmente romperão mesmo, mas podem fazer com ela, pelo menos em alguns estados, o que fizeram com José Serra em 2002: ignorar a aliança nacional e descarregar votos em outro candidato a presidente.
A MP 627, para a qual o líder Eduardo Cunha indicou-se como relator, envolve grandes interesses das empresas, as mesmas que daqui a uns dias estarão desembolsando recursos para financiar as campanhas. Afeta o Imposto de Renda, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, o PIS/Pasep e outros tributos. E tudo isso, que Eduardo Cunha pode alterar, já deve ter sido acertado com os donos do capital. Tanto é que o próprio ministro Guido Mantega participou da reunião.
Afora isso, hoje, na primeira sessão bilateral do Congresso, serão analisados quatro vetos da presidente, um deles ao projeto que permite a criação de mais de 300 municípios, com tudo que isso representa para as contas públicas, que não andam em boa situação perante os investidores e analistas de mercado. O Marco Civil da Internet, um projeto necessário, que coloca o Brasil na vanguarda da inovação em governança da rede, também pode ser sacrificado pelo PMDB em seu afã de mostrar a Dilma o valor do apoio parlamentar e da aliança eleitoral.
Mesmo sendo a candidata favorita, Dilma concorrerá ao segundo mandato numa conjuntura econômica e política instável, pontuada pela Copa do Mundo e o mau humor das ruas. Mesmo enfrentando adversários que hoje não chegam a ameaçá-la, as condições eleitorais não recomendam a Dilma brigar para valer com o principal aliado. Em alguns estados, a começar por Minas Gerais, parte dos peemedebistas vem se realinhando com o candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves. Se depender do ex-presidente Lula, ela tratará de resolver esta semana as pendências com o PMDB.
Campanha singular
Márcia Cavallari, presidente do Ibope Inteligência, é uma das maiores conhecedoras da alma do eleitorado brasileiro. Em entrevista ao portal El País Brasil, ela resume a sorte de Dilma, ao dizer que “há um desejo de mudança, mas o problema é que, por enquanto, as pessoas não estão vendo na oposição quem possa representar essa mudança. Nas pesquisas que a gente fez, não vemos os candidatos da oposição se apropriando desse sentimento. Dilma ainda tem uma grande vantagem”.
Afora o baixo conhecimento que o eleitorado tem dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, ela aponta a desconcentração eleitoral decorrente da realização da Copa do Mundo aqui. “Vão chegar as delegações, vai estar aquela convivência com outras pessoas e tal, então as pessoas só estarão focadas nas questões eleitorais depois que acabar a Copa, a partir de 13 de julho. A campanha pegará o fim de julho, agosto e setembro. Vai ser uma campanha muito curta, o que dificulta as ações. A partir do horário eleitoral gratuito na televisão, que começa em 19 de agosto, é que todos os candidatos passarão a ser conhecidos de uma forma mais homogênea pela população.”
Hoje, comenta ela, não dá para dizer com certeza que influência terá a Copa: “Vai depender muito do que acontecer. Quero dizer: a gente vai passar vergonha? Tudo vai ser entregue? Vai estar tudo remendado? Não vai? Isso é algo que a gente vê. A população, a opinião pública, não quer passar vergonha com a Copa. E aí há as manifestações, que a gente também não sabe se vão voltar”.
Plenário quente
Em ano eleitoral, mesmo com o quórum baixo, o plenário da Câmara esquenta. Como ontem, quando o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) fez um duro ataque ao PT, seus governos e seus líderes, terminando por acusar o ministro Gilberto Carvalho de ter ajudado a fomentar os protestos e a violência nas manifestações, pois um ex-auxiliar dele estava entre os que queimaram pneus na porta do Estádio Mané Garrincha durante a Copa das Confederações. A defesa do ministro foi feita pelo deputado peemedebista Francisco Escórcio (MA), que batalha para apaziguar os ânimos entre seu partido e o PT. “Não cometa uma calúnia dessa contra o ministro Gilberto, que é do bem e da ordem. Ainda na semana passada, ele desceu do gabinete, de peito aberto, para negociar com os líderes da manifestação do MST, obtendo uma trégua na violência. Enquanto ficarmos repetindo calúnias, uns contra os outros, estaremos servindo aos que trabalham para desqualificar os partidos e a política.”
Se o calor político já está alto agora, imagine-se em setembro, com a ajuda da seca e da disputa eleitoral.
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