Peitando o PMDB, Dilma pode marcar pontos
com certo eleitorado, mas tal cálculo pode lhe render também grandes
confusões na Câmara
Estado de Minas: 11/03/2014
Numa eleição em
que convivem na alma do eleitorado o desejo de continuidade (dos avanços
de anos recentes) com o de mudança (especialmente das velhas práticas
políticas), conforme já apurado por algumas pesquisas, deve haver mesmo
algum cálculo eleitoral no endurecimento da presidente Dilma Rousseff
com o PMDB e os rebeldes estigmatizados pelo fisiologismo. Alguns pontos
ela pode ganhar com a peitada, mas corre também riscos não
desprezíveis.
Para isolar o líder na Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), Dilma decidiu conversar apenas com os presidentes das duas
Casas do Congresso: Henrique Eduardo Alves (RN), da Câmara, e Renan
Calheiros (AL), do Senado, afora o vice-presidente Michel Temer, graças a
quem a aliança ainda não foi para o vinagre. Mas o PMDB não é um
partido orgânico, com um mínimo de disciplina interna. É um ajuntamento
de caciques, em que cada um manda em sua tribo.
Eduardo Cunha não
é um franco-atirador, tem conexões na cúpula partidária, além de ser
muito ligado ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e ao ministro da
Aviação Civil, Moreira Franco. Mas, uma vez feito líder, tornou-se
cacique da tribo peemedebista na Câmara e, hoje, lidera um pelotão de
insatisfeitos que ultrapassa as fronteiras da própria bancada. Ele
cuspiu fogo, é verdade, e o Planalto está respondendo com artilharia
ainda mais pesada. Quem o conhece sabe ser improvável que ele venha a
recuar das posições, ouvindo apelos de Temer, de Renan ou de Henrique
Alves. Cunha convidou o presidente do partido, Valdir Raupp (RO), para
assistir, hoje, à reunião da bancada, para ouvir de camarote a ladainha
de queixas e críticas dos deputados.
Isolar um adversário é boa
tática quando ele está desarmado. Mas Cunha, no momento, tem bala na
agulha para criar grandes confusões para Dilma na Câmara: aprovar uma
investigação sobre a Petrobras, em momento delicado para a empresa,
derrubar ou inviabilizar a votação do Marco Civil da Internet, convocar
uma penca de ministros e presidentes de bancos oficiais para depoimentos
em comissões e, mais complicado, impedir a aprovação do projeto que o
governo enviará ao Congresso estabelecendo novo marco penal para
protestos e manifestações, com vistas à segurança na Copa.
Nesse
ambiente, a convenção que decidirá sobre a manutenção da aliança
reviverá as velhas escaramuças do passado. Como o PMDB não é de rasgar
dinheiro, mesmo rachado, acabará ficando com ela. Mas o custo terá sido
alto e pode acabar neutralizando os pontos que Dilma espera ganhar agora
dos eleitores que não gostam dos partidos nem da política que eles
fazem.
Tem uma turma que está adorando essa briga: a turma do “Volta, Lula”, com ramificações que vão do empresariado a setores do PT.
Gatos molhados
Reiterando
que não dará mais um ministério ao PMDB, Dilma Rousseff fez ontem, aos
presidentes do Senado e da Câmara, uma oferta que serviu para avivar,
nos peemedebistas, uma lembrança amarga de 2010. Ela prometeu apoiar
candidatos do PMDB em seis estados em que o PT terá candidato próprio ou
apoiará outro aliado. Seriam eles: Maranhão, Paraíba, Rondônia,
Tocantins, Goiás e Alagoas. Em 2010, lembra importante figura do
partido, os presidentes do PT e do PMDB assinaram um documento (do qual
ele tem cópia na gaveta), com o aval dela, estabelecendo que, nos
estados onde os dois partidos tivessem palanques distintos, a candidata
iria aos dois ou não iria a nenhum. Veio a campanha, o compromisso foi
esquecido. Como gosta de lembrar o baiano Geddel Vieira Lima, ministro
da Integração Nacional de Lula, hoje na oposição, ela foi ao comício do
governador Jaques Wagner (PT) de dia e fez uma visita envergonhada ao
peemedebista à noite. Ninguém, é claro, declinou ontem o apoio oferecido
pela candidata favorita, mas ninguém a levou exatamente a sério.
Erros litúrgicos
Riscos
à parte, Dilma pode ter errado também do ponto de vista litúrgico ao
eleger como interlocutores para tratar da crise do PMDB os presidentes
das duas Casas do Congresso. Eles são cardeais do partido, mas ocupam
posições institucionais. Dilma os deixou esperando no domingo, quando
resolveu se reunir apenas com Michel Temer. Ontem, mandou avisar que os
receberia em separado. Na semana passada, pediu a Henrique Alves que
adiasse a votação do pedido de investigação sobre a Petrobras, antes que
o governo fosse derrotado pelo blocão. A leitura externa é a de que,
para enquadrar o PMDB, ela passou a enquadrar o próprio Congresso. O
líder tucano Antonio Imbassahy (BA) não perdeu a deixa: “Ela está
desrespeitando o Congresso e quebrando, de forma descarada, a
independência entre os Poderes, o que só comprova seu perfil arrogante e
tirano”.
Na periferia
Pilotando a
crise com o PMDB, Dilma vai adiando a substituição de ministros de
outros partidos que estão loucos para deixar os cargos e cuidar da
própria vida. A petista Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, não
tratou ainda da substituição com a presidente, mas para o lugar, fala-se
agora, no PT, na transferência de Ideli Salvatti, abrindo espaço para a
reformulação da articulação política palaciana. E Aguinaldo Ribeiro, de
Cidades, cujo partido, o PP, já indicou para a vaga Gilberto Occhi,
vice-presidente da Caixa Econômica Federal.
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