Tereza Cruvinel - É a economia...
Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem ser mais eficazes que a pretendida CPI da Petrobras
Estado de Minas: 25/03/2014
Depois de dobrar
dois recalcitrantes, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador
Eduardo Campos, o pré-candidato tucano Aécio Neves deve unificar hoje os
partidos de oposição no esforço para garantir a CPI mista da Petrobras.
O segundo passo será buscar apoio entre os insatisfeitos da base
governista para contornar a barricada que vem sendo montada por PT e
aliados. Mas, afora a maioria avassaladora de que o governo dispõe, a
oposição enfrenta o fato de que esse não é o tipo de assunto que
mobiliza a opinião pública, forçando de fora para dentro a investigação
parlamentar. Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem
ser mais eficazes que a pretendida CPI.
O potencial de desgaste
para a presidente existe. Afinal, pela legislação brasileira, os
integrantes dos conselhos de administração das estatais respondem
judicialmente e perante os tribunais de Contas pelos atos da diretoria
executiva que aprovaram. Dilma não só integrava o conselho da Petrobras
como o presidia quando a proposta de compra da refinaria de Passadena
foi aprovada, com base em pareceres que, agora, ela classificou de
falhos e incompletos. A demissão, por ordem dela, na sexta-feira, do
responsável por tais pareceres, Nestor Cerveró, deu mais consistência ao
discurso de Aécio de que o governo ficou quieto durante oito anos, só
agindo agora, sob pressão da imprensa e da oposição. A nota do Instituto
Teotônio Vilela, centro de estudos do PSDB, é duríssima. Termina
dizendo que, “de forma direta, Dilma Rousseff esteve metida nesses
negócios nefastos ao interesse nacional. Agora, tenta imputar a outrem a
responsabilidade por eles e a culpa pela lambança. Não é possível.
Exercer a Presidência, seja do Conselho de Administração de uma
companhia, seja de um país, não é algo que se possa terceirizar”.
Mas,
a poucos meses da eleição, a maioria governista montará um palanque
para a oposição? Apesar das refregas com o PMDB, não há sinais de que o
partido esteja, em sua maioria, disposto a bandear-se para a oposição.
Ah, mas tem o grupo de Eduardo Cunha. Tem, mas também ele e seus mais
leais seguidores estão querendo dobrar Dilma, não inviabilizar a
reeleição com a qual sairão também ganhando. Nesta altura do ano
eleitoral, os deputados querem é montar suas campanhas e tratar da
reeleição. O escândalo com o mau negócio da Petrobras foi um alento para
a oposição, mas as notícias econômicas de ontem, dependendo de seus
desdobramentos sobre a vida real, podem ser muito mais eficientes para o
desgaste de uma candidata que continua favorita, graças ao sentimento
de conforto da maioria, apesar da má vontade do topo da pirâmide social e
das estruturas políticas, incluindo parcela do PT. Num só dia, uma
importante agência de risco, a Standard & Poors, rebaixou a nota do
Brasil como destino de investimento, o Banco Central elevou a previsão
de déficit nas contas externas para US$ 80 bilhões e o mercado aumentou
para 6,28% a previsão de inflação para este ano, percentual
perigosamente próximo do teto da meta, de 6,5%. Os negócios da Petrobras
não sensibilizam o eleitorado de Dilma, de baixa renda e baixa
escolaridade. Já a inflação mexerá com o bolso dessas camadas que
ampliaram seu poder de consumo e não estão dispostas a recuar.
Memória do golpe: A Revolta dos Marinheiros
Hoje
faz 50 anos. O golpe já estava planejado, mas ganhou mais munição. Em
25 de março de 1964, os marinheiros se reuniram na sede dos Sindicato
dos Metalúrgicos do Rio, reivindicando o reconhecimento de sua
associação, que estava proibida, melhoria da comida a bordo e mudanças
no regulamento interno que vedava, inclusive, o casamento antes de 10
anos de serviço ativo. Ao ato, compareceram estudantes, ativistas
pró-reformas, o líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido, com
mais de 80 anos, e o então deputado Leonel Brizola, “radical” da
esquerda petebista. O líder do movimento, porém, se tornaria tristemente
famoso, não por sua liderança, mas por uma traição: José Anselmo dos
Santos, o cabo Anselmo. O ministro da Marinha, Silvio Motta, mandou
prender os cabeças da revolta e enviou ao local um grupamento de
fuzileiros navais, que baixou as armas e aderiu ao movimento. O
comandante dos fuzileiros, Almirante Aragão, era ligado a Brizola. As
Forças Armadas, como todo o Brasil, estavam rachadas entre grupos pró e
contra o governo Jango. Do Sul, onde passava a Semana Santa, Jango
proibiu a invasão do sindicato, causando a renúncia do ministro da
Marinha. De volta ao Rio, nomeou para seu lugar o almirante Paulo Mário,
que, horas depois, anistiou os revoltosos, o que irritou a cúpula
militar e contribuiu para a detonação antecipada do golpe. Jango foi
acusado de estimular a quebra da hierarquia. Na ditadura, depois de
militar em organizações de esquerda, Anselmo foi aliciado pelas forças
da repressão. Documentos descobertos mais recentemente indicam que ele
já era agente infiltrado antes de 1964 – e, portanto, da revolta. Com
suas delações, causou a prisão, a tortura e a morte de dezenas de
militantes, inclusive a da mulher dele, grávida de quatro meses, a
paraguaia Soledad Barret.
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