terça-feira, 25 de março de 2014

Tereza Cruvinel - É a economia...‏

Tereza Cruvinel - É a economia...

Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem ser mais eficazes que a pretendida CPI da Petrobras
Estado de Minas: 25/03/2014


Depois de dobrar dois recalcitrantes, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador Eduardo Campos, o pré-candidato tucano Aécio Neves deve unificar hoje os partidos de oposição no esforço para garantir a CPI mista da Petrobras. O segundo passo será buscar apoio entre os insatisfeitos da base governista para contornar a barricada que vem sendo montada por PT e aliados. Mas, afora a maioria avassaladora de que o governo dispõe, a oposição enfrenta o fato de que esse não é o tipo de assunto que mobiliza a opinião pública, forçando de fora para dentro a investigação parlamentar. Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem ser mais eficazes que a pretendida CPI.

O potencial de desgaste para a presidente existe. Afinal, pela legislação brasileira, os integrantes dos conselhos de administração das estatais respondem judicialmente e perante os tribunais de Contas pelos atos da diretoria executiva que aprovaram. Dilma não só integrava o conselho da Petrobras como o presidia quando a proposta de compra da refinaria de Passadena foi aprovada, com base em pareceres que, agora, ela classificou de falhos e incompletos. A demissão, por ordem dela, na sexta-feira, do responsável por tais pareceres, Nestor Cerveró, deu mais consistência ao discurso de Aécio de que o governo ficou quieto durante oito anos, só agindo agora, sob pressão da imprensa e da oposição. A nota do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do PSDB, é duríssima. Termina dizendo que, “de forma direta, Dilma Rousseff esteve metida nesses negócios nefastos ao interesse nacional. Agora, tenta imputar a outrem a responsabilidade por eles e a culpa pela lambança. Não é possível. Exercer a Presidência, seja do Conselho de Administração de uma companhia, seja de um país, não é algo que se possa terceirizar”.

Mas, a poucos meses da eleição, a maioria governista montará um palanque para a oposição? Apesar das refregas com o PMDB, não há sinais de que o partido esteja, em sua maioria, disposto a bandear-se para a oposição. Ah, mas tem o grupo de Eduardo Cunha. Tem, mas também ele e seus mais leais seguidores estão querendo dobrar Dilma, não inviabilizar a reeleição com a qual sairão também ganhando. Nesta altura do ano eleitoral, os deputados querem é montar suas campanhas e tratar da reeleição. O escândalo com o mau negócio da Petrobras foi um alento para a oposição, mas as notícias econômicas de ontem, dependendo de seus desdobramentos sobre a vida real, podem ser muito mais eficientes para o desgaste de uma candidata que continua favorita, graças ao sentimento de conforto da maioria, apesar da má vontade do topo da pirâmide social e das estruturas políticas, incluindo parcela do PT. Num só dia, uma importante agência de risco, a Standard & Poors, rebaixou a nota do Brasil como destino de investimento, o Banco Central elevou a previsão de déficit nas contas externas para US$ 80 bilhões e o mercado aumentou para 6,28% a previsão de inflação para este ano, percentual perigosamente próximo do teto da meta, de 6,5%. Os negócios da Petrobras não sensibilizam o eleitorado de Dilma, de baixa renda e baixa escolaridade. Já a inflação mexerá com o bolso dessas camadas que ampliaram seu poder de consumo e não estão dispostas a recuar.

Memória do golpe: A Revolta dos Marinheiros

Hoje faz 50 anos. O golpe já estava planejado, mas ganhou mais munição. Em 25 de março de 1964, os marinheiros se reuniram na sede dos Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, reivindicando o reconhecimento de sua associação, que estava proibida, melhoria da comida a bordo e mudanças no regulamento interno que vedava, inclusive, o casamento antes de 10 anos de serviço ativo. Ao ato, compareceram estudantes, ativistas pró-reformas, o líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido, com mais de 80 anos, e o então deputado Leonel Brizola, “radical” da esquerda petebista. O líder do movimento, porém, se tornaria tristemente famoso, não por sua liderança, mas por uma traição: José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo. O ministro da Marinha, Silvio Motta, mandou prender os cabeças da revolta e enviou ao local um grupamento de fuzileiros navais, que baixou as armas e aderiu ao movimento. O comandante dos fuzileiros, Almirante Aragão, era ligado a Brizola. As Forças Armadas, como todo o Brasil, estavam rachadas entre grupos pró e contra o governo Jango. Do Sul, onde passava a Semana Santa, Jango proibiu a invasão do sindicato, causando a renúncia do ministro da Marinha. De volta ao Rio, nomeou para seu lugar o almirante Paulo Mário, que, horas depois, anistiou os revoltosos, o que irritou a cúpula militar e contribuiu para a detonação antecipada do golpe. Jango foi acusado de estimular a quebra da hierarquia. Na ditadura, depois de militar em organizações de esquerda, Anselmo foi aliciado pelas forças da repressão. Documentos descobertos mais recentemente indicam que ele já era agente infiltrado antes de 1964 – e, portanto, da revolta. Com suas delações, causou a prisão, a tortura e a morte de dezenas de militantes, inclusive a da mulher dele, grávida de quatro meses, a paraguaia Soledad Barret.

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