segunda-feira, 7 de abril de 2014

Eduardo Almeida Reis - Babás‏

Babás 
 
Encontrei solução mais inteligente, quando expliquei: "Estou mandando você embora porque me apaixonei por você". 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 07/04/2014

A notícia de que há babás brasileiras ganhando por mês R$ 14 mil ou mais, com adicionais expressivos sempre que acompanham seus patrões em viagens internacionais, me lembra uma governanta que pintou na roça trirriense, jovem senhora de bom aspecto, com duas malas novas. Invenção da avó de minhas filhas, com medo de que as netas ficassem muito roceiras.

A governanta se apresentou ao dono da quitanda e foi logo dizendo que pretendia orientar a cozinheira, a excelente Josefa, no sentido de produzir dieta hipocalórica, proteica, nos conformes daquilo que havia aprendido num curso sei lá de quê.

Passam-se os dias e percebi que a governanta estava orientando as meninas contra o pai, que nunca foi o melhor pai do mundo, mas foi e é bem razoável. Chamei a jovem senhora num canto e lhe disse: “Fecha as malas, que você vai embora daqui a cinco minutos”. O diabo é que a fazenda distava uma hora do ponto do ônibus por estrada de terra e a picape já estava com a caçamba cheia de sacos de farelinho, além de um empregado em cima da pilha, que era para abrir as porteiras do caminho. Destino do farelinho: uma invernada próxima do ponto dos ônibus intermunicipais.

Na cabine, o motorista furioso e a governanta emburrada, as duas malas em cima dos sacos de farelinho. Pensei: vou passar uma hora sentado ao lado desta jararaca doido para lhe dar uns cascudos. Encontrei solução mais inteligente, quando expliquei: “Estou mandando você embora porque me apaixonei por você”.

A fera se desmanchou, disse que também estava apaixonada por mim e perguntou por que levei um empregado em cima do farelinho, espiando o que se passava na cabine da picape. Ainda assim, rolou um clima e a morena queria despejar o empregado numa curva da estrada empoeirada, o Pingolim, coitado, que teria seus 16 anos e era filho do Zé Ribeiro.

Cozinhei o love em banho-maria, enquanto ela escrevia num bloquinho seus telefones no Rio. Deixei-a no ponto do ônibus prometendo visitá-la dali a dois dias e não escapei de um beijo furioso, que, a bem da verdade, não foi dos piores. Babás caras e bonitas podem ser problemáticas na vida de um homem sério.

Explotación de ponedoras

O número 700 da revista A Lavoura, editada pela Sociedade Nacional de Agricultura, SNA, tem matéria sobre como vencer os desafios do verão na avicultura. A SNA foi fundada em 1897. Alguns anos depois de 1897, meti-me a explorar galinhas poedeiras na Baixada Fluminense, região quentíssima.

Os galpões recomendados pelos órgãos oficiais deveriam ser de tijolos emboçados e caiados, retangulares, telados na face que dava para o nascente, cobertos de telhas de barro. Coberturas de cimento-amianto exigiam forros de madeira.

Estudei o assunto dias e dias para concluir que em Itaguaí, RJ, as galinhas metidas naqueles galpões morreriam de calor. Ousei, então, abrir janelas de ventilação dando para o poente. Palpiteiros e especialistas disseram que minhas galinhas morreriam de pneumonia ou coisa parecida. Não morreram de frio, mas a produção de ovos era complicada e o negócio nunca foi brilhante.

Poucos anos depois, em toda aquela região e noutras igualmente muito quentes, os galpões passaram a contar com imensos ventiladores e as paredes de tijolos foram substituídas pelas telas. Surgiram também as gaiolas, que os livros espanhóis chamam de explotación de ponedoras en jaulas.

Bom mesmo é criar galinhas no Pantanal, também muito quente, ao ar livre, área com o contorno telado. A cachorrada de caça espanta os predadores que chegam por terra. De vez em quando mata-se um jacaré não muito grande, que é arrastado para o galinheiro e coberto de lenha: churrasco de jacaré. Antes mesmo de o fogo apagar as galinhas se atiram sobre o finado réptil crocodiliano num entusiasmo indescritível. Jacaré torrado deve ter qualquer nutriente que falta às galinhas pantaneiras.

O mundo é uma bola

 7 de abril de 1348: fundação da Universidade de Praga. Repito: em 1348. Em 1795, a convenção francesa estabelece o Sistema Métrico Decimal. Parece que hoje somente três nações não adotam oficialmente o Sistema Internacional de Unidades como sistema principal ou único de medição: Estados Unidos, Mianmar e Libéria. Deve ser por isso que o pote do meu sorvete predileto informa que o conteúdo líquido é One Pint. Pint é quartilho, que pode ser diferente na Inglaterra, nos EUA e no Canadá. No Norte de Portugal é a quarta parte de uma canada, atualmente meio litro.

Em 1831, o imperador Pedro I, do Brasil, abdica em favor de seu filho Pedro de Alcântara, então com 5 anos, e nomeia José Bonifácio de Andrada e Silva tutor do futuro Pedro II.

Em 1943, Albert Hofmann sintetiza o LSD, dietilamida do ácido lisérgico, que andou fazendo sucesso no Brasil. Em 1948, a ONU cria a OMS, Organização Mundial da Saúde.

Ruminanças

 “Está bem pago quem satisfeito está” (Shakespeare, 1564-1616).

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