segunda-feira, 14 de abril de 2014

Inteligência em quatro rodas

Pesquisadores da Federal de Ouro Preto desenvolvem recurso para carros, no sistema Android, com menor tempo de inicialização. No futuro, novidade deve ter integração com Twitter para indicar melhor trajeto para fugir do trânsito


Shirley Pacelli
Estado de Minas: 14/04/2014



Equipe no Laboratório iMobilis:  testes de metodologia para integrar cada vez mais recursos como mapas, rotas e informações para quem está guiando um automóvel (Eduardo Maia/Divulgação )
Equipe no Laboratório iMobilis: testes de metodologia para integrar cada vez mais recursos como mapas, rotas e informações para quem está guiando um automóvel
Já pensou se o computador de bordo do carro, por reconhecimento facial, identificasse um padrão de sono ou que a pessoa ingeriu excesso de álcool e emitisse alertas para avisar o motorista? Essa possibilidade não está longe de se tornar real. Por meio do projeto Nexus, pesquisadores do laboratório iMobilis da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) têm estudado o recurso num sistema Android, do Google, adaptado para carros. Até o momento, eles já desenvolveram uma metodologia para fazer com que o sistema se inicie mais rapidamente – a média de 40 segundos caiu para cinco segundos. Assim, as informações chegam de forma mais ágil, dando segurança aos motoristas.

O laboratório fechou parceria com a Seva Engenharia Eletrônica, empresa de desenvolvimento de tecnologias para o mercado automobilístico, para fazer os testes. A companhia forneceu o hardware, enquanto os membros do laboratório personalizaram o software e propuseram a metodologia. Os resultados foram publicados no 3º Simpósio Brasileiro de Engenharia de Sistemas Computacionais, realizado em novembro do ano passado, por Ricardo Augusto Oliveira, coordenador do iMobilis, e o professor Vicente Amorim.

Segundo Ricardo, doutor em ciências da computação e professor da Ufop, as pesquisas na área são realizadas desde 2011, quando o sistema Android, plataforma aberta que ficou famosa em smartphones, ainda não era tão popular quanto hoje. A equipe é formada por quatro professores, cinco mestrandos e 12 graduandos das áreas de engenharia e ciências da computação.

O professor conta que os pesquisadores adaptaram o sistema para as condições de trabalho necessárias a um carro. O item mais básico de mudança foi a inicialização do sistema: no automóvel, ela deve ser quase imediata. Foram implementados níveis de prioridade no carregamento das tarefas, além da remoção de aplicações desnecessárias. “A primeira fase é a interação com o motorista. As regras são diferentes. O sistema não pode ter jogos que distraiam a atenção do condutor. É um utilitário do veículo”, esclarece Ricardo.

O coordenador explica que o computador de bordo em desenvolvimento tem sistema de comunicação, sensores do motor e da temperatura, além de todos as outras funcionalidades que os carros mais modernos trazem. “Por exemplo, a pessoa tem um celular com o aplicativo Waze, para ver o trânsito, mais o GPS e o rádio. A tendência é a integração dos três em uma só plataforma. Nossa proposta é nesse sentido, mas vai além, porque o sistema comunica com o carro”, explica. Supondo que o dispositivo já estivesse funcionando, ao entrar no carro, o motorista acionaria o sistema e teria em tempo real os locais com engarrafamento ou alagamento e opções de desvio para chegar ao seu destino final.

Aplicações futuras O maior desafio, segundo Ricardo Oliveira, foi adaptar o sistema Android aos carros, já que ele não foi criado para isso. “Dentro de veículos há regras em relação ao consumo de bateria, à atenção do motorista... A forma de uso é diferenciada”, diz. Leitura de texto automática, comando de voz, bloqueio de determinados aplicativos com o carro em movimento e envio de dados para uma central são algumas das aplicações em desenvolvimento pelo laboratório da federal de Ouro Preto.

Oliveira conta que o sistema desenvolvido pelo Google já oferece certas funcionalidades, como suporte a ruídos e reconhecimento facial. “Seria possível cruzar os dados de uma freada brusca durante um acidente com a identificação de um padrão facial de alteração de humor, de agressividade. As aplicações são infinitas”, destaca. A equipe está avaliando esse recurso por meio de simuladores. Há uma normatização específica que deve ser levada em consideração: o computador não pode afetar a direção, no máximo emitir alertas.

Outra ferramenta pesquisada pela equipe mineira é a integração com um sistema de cidade inteligente. “Supondo que todas as linhas de ônibus tenham o Android e sensores de chuva, poderíamos fazer uma previsão meteorológica exata”, explica. Um interessante recurso que poderia ser implantado seria a capacidade do computador de bordo consultar postagens no Twitter sobre o trânsito, cruzar com informações da velocidade de deslocamento de outros carros com o sistema que estiverem passando no local, processar os dados e recomendar os melhores trajetos.

De acordo com Ricardo Oliveira, o Google já tem investido nessa área automotiva, a Apple finalizou um sistema integrado com o iPhone e grandes fabricantes de veículos anunciaram produtos próprios. A Ford, segundo ele, tem a proposta mais interessante entre as empresas, porque seu projeto é aberto aos desenvolvedores. Todo o mercado tem estudado quais são as melhores plataformas. “O sistema mais popular, no momento, é o Android, mas as criações ainda são incipientes. Não existe um padrão”, ressalva. Os veículos que poderão receber esse tipo de tecnologia fazem parte da frota de luxo, é claro.

SERVIÇO
Confira o projeto em desenvolvimento na Universidade Federal de Ouro Preto pelo site www.decom.ufop.br/imobilis

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