É tudo muito mágico
A exemplo dos cenários e figurinos, a trilha sonora também ganha vida própria e quase assume status de personagem na onírica novela Meu pedacinho de chão, da Rede Globo
Ailton Magioli
Estado de Minas: 11/05/2014
Tim Rescala, compositor |
Segundo Tim, ao valorizar a música de suas microsséries, minisséries e novelas, Luiz Fernando Carvalho busca algo já na concepção. “Há uma ideia ali, no caso de Meu pedacinho de chão”, acrescenta o compositor, salientando não se tratar da chamada “música sem rosto”, regularmente utilizada por Hollywood. “Não há como tirar a trilha que eu fiz para esta novela e colocar em outra”, explica Tim Rescala, lembrando que trilhas de filmes americanos de aventura são como uma “receita de bolo”, podendo, portanto, ser substituídas uma por outra.
Faz sentido “Quando se busca uma cara específica para a trilha, ela se transforma quase em texto. É como ocorre no teatro, onde se trabalha com elementos tão importantes quanto o texto. Ou seja, a trilha adquire sentido”, observa o compositor, que, anteriormente, havia trabalhado com o mesmo diretor em Hoje é dia de Maria (I e II) e Afinal, o que querem as mulheres?. “Entendo a música para a imagem como sendo o tradutor do que o diretor quer”, afirma Tim, lembrando que a obra de audiovisual é uma obra coletiva.
No caso específico de Meu pedacinho de chão, segundo conta, ele recebeu o pedido de Luiz Fernando Carvalho para que fizesse uma música que fosse encantatória, orquestral (sinfônica). “Em Hoje é dia de Maria já havíamos feito algo do gênero, mas esta agora é essencialmente orquestral. “Ele me pediu um trilha colorida, no conceito dos figurinos e cenário”, acrescenta Tim Rescala, lembrando da abordagem infantil da atual trama das seis, protagonizada por duas crianças.
“É uma fábula, então é uma maneira diferente de fazer novela”, avalia o compositor, recordando-se dos pedidos do diretor, que queria, por exemplo, uma música de fada para a professora Juliana. Há casos, também, como o do personagem Zelão, quando o compositor teve a chance de brincar com o western. “Neste caso, há espaço para citar inclusive Ennio Morricone, via clichês”, repara Tim, salientando, no entanto, que é necessário, sempre, tentar produzir uma coisa nova. Em Meu pedacinho de chão ele teve a oportunidade de contar com a participação da Orquestra Sinfônica de Heliópolis, de São Paulo, incluindo o coro de 30 vozes.
Enquanto o CD com as canções do quarteto norte-americano DeVotchka reúne 13 faixas de música pop, o instrumental vai juntar as 28 músicas incidentais que Tim Rescala compôs especialmente para a trama das seis. “A ideia é promover um diálogo da música sinfônica com o universo pop, que está presente inclusive no figurino”, diz o compositor, que fez a trilha com antecedência. Segundo conta, as composições ficaram prontas em um mês e meio, enquanto as gravações foram feitas em uma semana, dois dias dos quais gravados em São Paulo, na sede da orquestra.
Música feita para ficar
Apesar de ser possível localizar a música sinfônica dentro da história da música clássica, por períodos, Tim Rescala lembra que o estilo possibilita uma dimensão atemporal. “A música sinfônica permite a você não se fixar em uma época”, afirma o compositor, que, não por acaso, batizou uma das faixas da trilha da novela das seis de Adágio atemporal.
“Não há uma época específica na narrativa”, ressalta Tim Rescala, lembrando que Meu pedacinho de chão mistura carro, trem, charrete e cavalo. “A trama não tem necessariamente uma data específica. No caso da música sinfônica, ela pode ir no tempo tanto à frente quanto atrás”, explica o compositor, que também, não por acaso, usa e abusa de referências na trilha de sua autoria, na qual vai do western às composições mais cômicas.
No caso da música da personagem da atriz Juliana Paz, por exemplo, ele adotou um estilo mexicano, que classifica de algo “meio western espagueti italiano”. Já a música da professora é mais encantatória. “Fiz A chegada para quando ela chega na cidade. É a música de fada”, diz, salientando a capacidade maleável da música sinfônica.
No caso do vilão interpretado pelo ator Osmar Prado, o compositor fez duas músicas: Epa, o todo poderoso, que classifica de “mais pesadona”, e A solidão de Epaminondas, que reflete os momentos de tristeza e introspecção do personagem. Segundo revela, depois de uma conversa com o diretor Luiz Fernando Carvalho, ele decidiu colocar as faixas do CD em ordem, como se tivesse contando uma história.
Tim Rescala, que desenvolveu trabalho com o Grupo Galão, de BH, em Um trem chamado desejo, está de volta à capital mineira para participar do FIT – Festival Internacional de Teatro – Palco & Rua com o musical Era uma vez... Grimm, da parceria com José Mauro Brant. Baseado na obra dos irmãos Grimm, o espetáculo tem música original e direção musical de Tim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário