Propaganda
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/05/2014
Num dos intervalos comerciais da ótima entrevista de Michel Legrand, 82 anos, na Semana do Jô, o GNT exibiu chamada do chef Claude Troisgros para o programa Que Marravilha! Programa que foi ótimo quando feito com o jornalista Renato Machado comentando os vinhos selecionados para acompanhar os pratos de Troisgros. Foi ótimo e faz tempo que é uma porcaria, opinião aqui do “assinante” da tevê a cabo.
Renato é jornalista fino, alfabetizado, homem capaz de gestos da maior dignidade, como demonstrou num episódio triste, que prefiro não comentar: Tiro&Queda é coluna amena escrita por um philosopho geralmente alegre e de bem com a vida.
Na chamada para o seu programa, o chef Troisgros enfileirou à sua frente, em indecoroso merchandising, quatro frascos de 500ml do azeite Gallo – Grande Escolha, Azeite Novo, Colheita ao Luar e Colheita Madura –, como, de resto, revistas e jornais brasileiros têm veiculado páginas e mais páginas de propaganda do mesmo azeite. A empresa, que o produz desde 1919, anda empenhadíssima em tentar neutralizar, via propaganda maciça, as análises da Proteste-Associação de Consumidores englobando 19 marcas de azeites supostamente extravirgens para descobrir que 58% delas não são o que dizem ser. As marcas Figueira da Foz, Tradição, Quinta d’Aldeia e Vila Real são de azeites lampantes, palavra que ninguém conhece, mas o Google nos ajuda: “Se denomina aceite de oliva lampante al aceite virgen que se presenta defectuoso por distintos motivos, puede ser un aceite resultante de haber utilizado aceitunas degradadas, problemas o defectos en los procesos de elaboración etc.”
Azeites não virgens, com 0,8% a 2% de acidez, ainda de acordo com a Proteste, são: Borges, Carbonell, Beirão, Gallo, La Espanhola, Pramesa e Serrata. Os extravirgens, com até 0,8% de acidez, são: Olivas do Sul, Carrefour, Cardeal, Cocinero, Andorinha, La Violetera, Vila Flor e Qualitá. Daí a fortuna que a produtora do Gallo está gastando em publicidade para tentar provar que seu azeite é virgem. Inventou uma espécie de himenoplastia industrial, a cirurgia que refaz o hímen, permitindo que a noiva se case “virgem” mesmo sendo muito rodada.
Dizem que a Coca-Cola é outra que se prepara para investir bilhões ou trilhões em propaganda, depois de constatar que suas vendas despencaram nos Estados Unidos e no resto do planeta. Realmente, não existissem a propaganda e o marketing, será que alguém tomaria Coca-Cola?
Exageros
Penso que há certo exagero nas denúncias de bullying e de assédio sexual feitas por aí. Em inglês fica melhor: sexual harassment, acho que de harass, que entrou no idioma de Shakespeare no século 17 através do francês harasser, verbo que significa moer, cansar, estafar, extenuar, esfalfar. Se o sexo extenua é sinal de que foi ótimo.
E tem dado oportunidade, nas chamadas redes sociais, de divulgação de uma tolice chamada after sex selfie, em que o casal hétero ou homo se autorretrata na cama depois de fazer amor, que o mais chato dos gramáticos brasileiros condenava dizendo que o amor não se faz. Não lhe digo o nome porque li no Google que morreu ainda moço.
Volto ao bullying, que sempre existiu e agora virou moda. Por qualquer motivo e até sem motivo algum fala-se em bullying, condena-se o bullying, atribui-se ao bullying tudo de ruim que se vê por aí. Ora bolas, as provocações e as implicâncias infantojuvenis sempre existiram.
Quebrei a perna esquerda numa noite de réveillon, quando tinha 10 anos. Engessado pelo catedrático de ortopedia de famosa faculdade de medicina, passei quase quatro meses na cama, porque o mestre não viu na radiografia que parti dois ossos, tíbia e perônio, hoje fíbula, e só engessou pensando na tíbia, o maior e mais interno dos dois ossos da perna.
Tratado a vela de libra, engordei e manquei durante meses. No curso de admissão do novo colégio convivi com os apelidos Maria Gorda e Mula Manca. Parei de mancar, deixei de ser mula, continuando burro; quando emagreci, voltei a ser o Eduardo. Aparentemente sem marcas do “terrível” bullying sofrido.
O mundo é uma bola
11 de maio de 824: eleição do papa Eugênio II, que morreu três anos depois na flor dos seus 47 aninhos. Nascido em Roma, foi eleito com o apoio dos francos e assinou a Constitutio Romana imposta por Ludovico Pio, que prometo apurar quem foi. Eugênio II reorganizou os Estados Pontifícios e se opôs ao reavivar, na Igreja Oriental da controvérsia dos iconoclastas. Atribui-se a ele a instituição dos seminários. Ao descobrir que muitos presbíteros e bispos ignoravam as verdades básicas da fé, ordenou sua suspensão temporária até que fossem devidamente instruídos. Formou uma comissão para rever os cânones e leis, origem da atual Cúria Romana. Fez coisas à beça num papado de três anos.
Como prometi, Ludovico Pio foi Luís I, o Piedoso (778-840), também conhecido como Louis, o Belo ou Louis, o Débonnaire (Bonachão) – Ludwig der Fromme em alemão) –, foi o segundo filho de Carlos Magno, imperador e rei dos francos de 771 a 814, e de Hildegarda da Alamânia, princesa alemã e segunda mulher de Carlos Magno. E dizer que chegamos a 2014, o leitor e o seu philosopho, sem ter a menor noção de quem foi Hildegarda.
Hoje é o Dia da Inauguração do Telégrafo no Brasil (1852).
Ruminanças
“O telefone serve para transmitir a voz humana de uma amiga a outra” (Sofocleto, 1926-2004).
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/05/2014
Num dos intervalos comerciais da ótima entrevista de Michel Legrand, 82 anos, na Semana do Jô, o GNT exibiu chamada do chef Claude Troisgros para o programa Que Marravilha! Programa que foi ótimo quando feito com o jornalista Renato Machado comentando os vinhos selecionados para acompanhar os pratos de Troisgros. Foi ótimo e faz tempo que é uma porcaria, opinião aqui do “assinante” da tevê a cabo.
Renato é jornalista fino, alfabetizado, homem capaz de gestos da maior dignidade, como demonstrou num episódio triste, que prefiro não comentar: Tiro&Queda é coluna amena escrita por um philosopho geralmente alegre e de bem com a vida.
Na chamada para o seu programa, o chef Troisgros enfileirou à sua frente, em indecoroso merchandising, quatro frascos de 500ml do azeite Gallo – Grande Escolha, Azeite Novo, Colheita ao Luar e Colheita Madura –, como, de resto, revistas e jornais brasileiros têm veiculado páginas e mais páginas de propaganda do mesmo azeite. A empresa, que o produz desde 1919, anda empenhadíssima em tentar neutralizar, via propaganda maciça, as análises da Proteste-Associação de Consumidores englobando 19 marcas de azeites supostamente extravirgens para descobrir que 58% delas não são o que dizem ser. As marcas Figueira da Foz, Tradição, Quinta d’Aldeia e Vila Real são de azeites lampantes, palavra que ninguém conhece, mas o Google nos ajuda: “Se denomina aceite de oliva lampante al aceite virgen que se presenta defectuoso por distintos motivos, puede ser un aceite resultante de haber utilizado aceitunas degradadas, problemas o defectos en los procesos de elaboración etc.”
Azeites não virgens, com 0,8% a 2% de acidez, ainda de acordo com a Proteste, são: Borges, Carbonell, Beirão, Gallo, La Espanhola, Pramesa e Serrata. Os extravirgens, com até 0,8% de acidez, são: Olivas do Sul, Carrefour, Cardeal, Cocinero, Andorinha, La Violetera, Vila Flor e Qualitá. Daí a fortuna que a produtora do Gallo está gastando em publicidade para tentar provar que seu azeite é virgem. Inventou uma espécie de himenoplastia industrial, a cirurgia que refaz o hímen, permitindo que a noiva se case “virgem” mesmo sendo muito rodada.
Dizem que a Coca-Cola é outra que se prepara para investir bilhões ou trilhões em propaganda, depois de constatar que suas vendas despencaram nos Estados Unidos e no resto do planeta. Realmente, não existissem a propaganda e o marketing, será que alguém tomaria Coca-Cola?
Exageros
Penso que há certo exagero nas denúncias de bullying e de assédio sexual feitas por aí. Em inglês fica melhor: sexual harassment, acho que de harass, que entrou no idioma de Shakespeare no século 17 através do francês harasser, verbo que significa moer, cansar, estafar, extenuar, esfalfar. Se o sexo extenua é sinal de que foi ótimo.
E tem dado oportunidade, nas chamadas redes sociais, de divulgação de uma tolice chamada after sex selfie, em que o casal hétero ou homo se autorretrata na cama depois de fazer amor, que o mais chato dos gramáticos brasileiros condenava dizendo que o amor não se faz. Não lhe digo o nome porque li no Google que morreu ainda moço.
Volto ao bullying, que sempre existiu e agora virou moda. Por qualquer motivo e até sem motivo algum fala-se em bullying, condena-se o bullying, atribui-se ao bullying tudo de ruim que se vê por aí. Ora bolas, as provocações e as implicâncias infantojuvenis sempre existiram.
Quebrei a perna esquerda numa noite de réveillon, quando tinha 10 anos. Engessado pelo catedrático de ortopedia de famosa faculdade de medicina, passei quase quatro meses na cama, porque o mestre não viu na radiografia que parti dois ossos, tíbia e perônio, hoje fíbula, e só engessou pensando na tíbia, o maior e mais interno dos dois ossos da perna.
Tratado a vela de libra, engordei e manquei durante meses. No curso de admissão do novo colégio convivi com os apelidos Maria Gorda e Mula Manca. Parei de mancar, deixei de ser mula, continuando burro; quando emagreci, voltei a ser o Eduardo. Aparentemente sem marcas do “terrível” bullying sofrido.
O mundo é uma bola
11 de maio de 824: eleição do papa Eugênio II, que morreu três anos depois na flor dos seus 47 aninhos. Nascido em Roma, foi eleito com o apoio dos francos e assinou a Constitutio Romana imposta por Ludovico Pio, que prometo apurar quem foi. Eugênio II reorganizou os Estados Pontifícios e se opôs ao reavivar, na Igreja Oriental da controvérsia dos iconoclastas. Atribui-se a ele a instituição dos seminários. Ao descobrir que muitos presbíteros e bispos ignoravam as verdades básicas da fé, ordenou sua suspensão temporária até que fossem devidamente instruídos. Formou uma comissão para rever os cânones e leis, origem da atual Cúria Romana. Fez coisas à beça num papado de três anos.
Como prometi, Ludovico Pio foi Luís I, o Piedoso (778-840), também conhecido como Louis, o Belo ou Louis, o Débonnaire (Bonachão) – Ludwig der Fromme em alemão) –, foi o segundo filho de Carlos Magno, imperador e rei dos francos de 771 a 814, e de Hildegarda da Alamânia, princesa alemã e segunda mulher de Carlos Magno. E dizer que chegamos a 2014, o leitor e o seu philosopho, sem ter a menor noção de quem foi Hildegarda.
Hoje é o Dia da Inauguração do Telégrafo no Brasil (1852).
Ruminanças
“O telefone serve para transmitir a voz humana de uma amiga a outra” (Sofocleto, 1926-2004).
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