quinta-feira, 22 de maio de 2014

Eduardo Almeida Reis - Sol e peneira‏

Sol e peneira 
 
Pensei na sorte que tive de criar três filhas virgens de drogas pesadas, sorte que também me sorriu 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 22/05/2014




Que acontece quando alguém tenta tapar a luz do sol com uma peneira? Elementar, meu caro Watson: a luz continua passando através dos furos da peneira. É a sensação que tenho diante do noticiário televisivo: nossa amada pátria fugiu do controle. São tantas as greves que o Brasil virou Grevil, gentílicos grevense ou greveiro.

Queimam-se ônibus e automóveis por qualquer motivo e até sem motivo algum. Matam pessoas, assaltam residências, furtam, roubam, falta água e vai faltar luz. É chato falar dessas coisas, todas gravíssimas, porque esta coluna foi pensada para discorrer sobre amenidades. Pergunto: como ser ameno e divertido no quadro que aí está?

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), nascido em Garanhuns (PE), em 6 de novembro de 1972, onde foi registrado como Randolph Frederich Rodrigues Alves, provável candidato à Presidência da República, vive soltando sua voz maviosa para falar tolices. Quer que os policiais atuem somente com a inteligência, deixando as armas por conta da bandidagem. Foi o que ouvi numa rádio, não acreditei e continuo sem acreditar.

Parece-me evidente que Randolph Frederich não pode ter dito semelhante asneira ou foi mal interpretado. Num Senado presidido pelo alagoano Renan Calheiros tudo é possível. Ainda assim, tenho compromisso com a verdade e me recuso a acreditar na notícia. O só fato de Randolph Frederich estar no Senado e candidatar-se à Presidência da República é de uma gravidade que dispensa outras considerações.

Radiofônicas

No mesmo noticiário matinal, dois casos espantosos. Primeiro foi um chimpanzé do zoológico de BH que atirou uma pedra nos visitantes, ferindo uma criança no crânio e seu pai no rosto. Ambos passam bem, mas a menina chegou a ter uma trinca no osso craniano. Era só o que faltava: chimpanzés varejando pedras talqualmente os seus primos sapiens, que apedrejam por apedrejar.

A segunda notícia foi ainda mais espantosa: “suspeitos” conectaram um notebook nos caixas eletrônicos de um banco, que começaram a soltar notas de 10, 20, 50, 100 reais e já tinham cuspido 25 mil reais quando a polícia chegou e prendeu um deles. Os outros fugiram.

Tudo bem: notebook acoplado ao sistema eletrônico é tecnologia que não entendo, mas uma poderosa emissora de rádio permitir que seus repórteres digam que o “suspeito” foi preso em flagrante praticando o roubo é de uma imbecilidade que não tem mais tamanho
.
Suspeito, adjetivo e substantivo masculino: “diz-se de ou indivíduo sobre quem recaem suspeitas de ser o autor, o culpado de algo”. Sobre o brasileiro preso em BH roubando os caixas eletrônicos não recaem suspeitas: há um ladrão.

Drogas


Engarrafamento é uma droga. Inundação é uma droga. Casamento acabando é uma droga. Poluição é uma droga. Tem droga de montão, até drogas boas nas farmácias, mas sempre que falamos delas pensamos em qualquer produto alucinógeno (ácido lisérgico, heroína etc.) que leve à dependência química e, por extensão, qualquer substância ou produto tóxico (fumo, álcool etc.) de uso excessivo, entorpecente.

Nos últimos anos, a maconha vem sendo deificada por uma porção de gente em diversos países. Há 120 anos, a cocaína era receitada por ninguém menos que o médico austríaco Sigmund Schlomo Freud, hoje conhecido como o pai da psicanálise. Diz-se que o vinho tinto, bebido educadamente, é ótimo para o coração. Em rigor, toda a criminalidade ficou limitada ao tabaco em suas diversas vestimentas. Claro que o fumo faz mal à saúde, até porque viver também faz. Viver é muito perigoso, descobriu outro médico chamado João Guimarães Rosa.


Ontem, pelo café da manhã, pensei na sorte que tive de criar três filhas virgens de drogas pesadas, sorte que também me sorriu. Nunca me ofereceram uma carreirinha, uma injeção de heroína, um baseado – e olhem que na juventude circulei em turmas pesadíssimas. Convivi bem com o álcool, não raras vezes em excesso, porque tive a fortuna de não ser dipsomaníaco, isto é, de sofrer da necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica.

Restam os charutos, mas charuto não é droga, é demonstração de dignidade. Fumantes de charutos eram Freud, Churchill, Kennedy, Burns, Mencken, Napoleão, Byron, Enrico Caruso, Chaplin, Hitchcock, Victor Hugo, Liszt, La Rochefoucauld, Musset e também os há, ilustríssimos, ainda hoje. Obrigado pela parte que me toca.

O mundo é uma bola


22 de maio de 1176: perto de Alepo, os Hashshashin (assassinos) tentam matar Saladino, chefe militar curdo muçulmano que se tornou sultão do Egito e da Síria e liderou a oposição islâmica aos cruzados europeus. A Ordem dos Assassinos foi fundada no século 11 por Hassan ibn Sabbah, conhecido como O velho da montanha. Tinha como objetivo difundir uma nova corrente do ismaelismo, que ele mesmo havia fundado. Sua sede era uma fortaleza situada na região de Alamut, na Pérsia.

A fama do grupo se alastrou até ao mundo cristão, surpreso com a fidelidade e ferocidade dos seus membros, cerca de 60 mil. O ismaelismo é uma das correntes do esoterismo islâmico, que se enquadra no islã xiita.

Hoje é o Dia do Apicultor e o Dia do Abraço.

Ruminanças
“Digam lá o que quiserem Aristóteles e toda a filosofia, não há nada igual ao tabaco: é a paixão das pessoas de bem, e quem vive sem tabaco não é digno de viver” (Molière, 1622-1673).

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