Festas no Rio, que reúnem de trezentas a
mil pessoas, com entradas de até R$ 60, terminam com todos os festeiros
nus nas piscinas dos clubes ou nas praias
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/06/2014
As
impressões que hoje nos causam as fotos tiradas nas praias do Rio em
1914, portanto há 100 anos – o ridículo daqueles trajes de banho de mar
–, devem ser parecidas com as impressões, daqui a 10 anos, causadas
pelas fotos atuais. Hoje, ainda se vê muita gente de sunga e de biquíni,
mas já se tem notícia de patrícios que vão às praias inteiramente nus. E
isso no Rio de Janeiro, que nunca foi exemplo de modernidades e
ousadias.
Não me refiro às praias reservadas ao nudismo, que
existem numa porção de países e mesmo no Brasil, mas à Praia do
Arpoador, que fica em Ipanema, point de prédios dos mais valorizados
neste país grande e bobo. Gays e héteros saem das baladas e se dirigem,
completamente nus, para o mar do Arpoador.
Festas no Rio, que
reúnem de trezentas a mil pessoas, com entradas de até R$ 60, terminam
com todos os festeiros nus nas piscinas dos clubes ou nas praias.
Reuniões de grupos Pool Me In, I Hate Mondays e Bunytos de Corpo
ensejaram matéria jornalística tão maluca, que me recuso a tomar o tempo
do leitor com a loucura impressa.
Falemos de coisas sérias. O
Estado de Minas publicou texto muito interessante comparando, em
dólares, os salários mínimos de diversos países. Em rigor, salvam-se
Cuba e Nova Zelândia. Na Ilha, “única democracia ocidental”, o salário
mínimo anual é de US$ 108, qualquer coisa como nove dólares por mês, 20
reais pelo privilégio de viver no paraíso terrestre.
O salário
mínimo neozelandês é de US$ 20.499, ou 1.708 dólares mensais, algo em
torno de R$ 3.928. Não chega a ser uma fortuna, mas é salário mínimo bem
razoável. Resta saber se o neo-zelandês trabalha de carteira assinada,
essa empulhação inventada num país grande e bobo para o trabalhador
morrer de fome com a carteira assinada.
Três pinos
Atraídos
pela Copa das Copas, os milhares de estrangeiros que chegaram ao Brasil
andam às voltas com as tomadas elétricas. Na sem-cerimônia midiática,
quando o assunto é a honra alheia, houve quem dissesse que a “invenção”
do dispositivo elétrico teria rendido R$ 3 bilhões a um grupo de
gatunos. Pura maldade. O invento pode ter rendido mais, como também pode
ter sido fruto da burrice institucional que se instalou nos altos
escalões deste país grande e bobo. Este negócio de acusar sem apresentar
provas e citar os nomes dos larápios não congemina com o philosophar do
autor destas bem traçadas linhas. Por isso, conto o que aconteceu com
as tomadas aqui em casa.
Depois de longos e demorados estudos,
comprei dois aquecedores elétricos de 220v em imensa loja de
departamentos, que tem filiais no Brasil inteiro e vende pela internet.
Em quatro dias úteis os aquecedores foram entregues por uma
transportadora. Tenho certa simpatia pela cadeia de lojas. Numa delas,
em menino, conheci um negócio delicioso chamado waffle (pronúncia uófl)
com manteiga e mel, um tipo de massa de origem belga, mistura de ovos e
farinha, alimento da melhor supimpitude. Anos mais tarde, fui vizinho de
fazenda de uma das herdeiras da cadeia de lojas, fazendeira que, nas
noites de lua cheia, gostava de passear inteiramente nua pelos pastos de
sua propriedade.
Volto aos aquecedores. Na maior alegria,
tentei espetar seus pinos nas tomadas e descobri que não entram. Por
quê? Ora, porque são pinos chineses, mais grossos que os três buracos
das tomadas inventadas em Brasília, DF. Na emergência, um eletricista
anotou a numeração constante da trinca chinesa de pinos, comprou e
substituiu as tomadas brasileiras, que passaram a aceitar as chinesas.
Hydrochaeris hydrochaeris
A
história da administração pública ocidental não registra episódio tão
estranho que chegue aos pés das providências da Prefeitura de Belo
Horizonte relacionadas com as Hydrochaeris hydrochaeris da Pampulha. São
licitações, editais, remanejamentos, orçamentos, capturas, exames de
laboratório, autorizações, manejos, consultas, plaquinhas e o mais que o
leitor possa imaginar, sem exclusão do inimaginável e da destruição dos
jardins projetados por Burle Marx. Bucolismo tem hora. Se a capivara,
através do carrapato-estrela, pode transmitir a febre maculosa, a
solução é acabar com ela pelo mesmo critério que autoriza cidadãos e
administradores a combater o mosquito Aedes aegpty, que pode transmitir a
dengue.
O mundo é uma bola
12 de
junho de 1186: Afonso VIII de Castela funda a cidade de Placencia, que
em 2012 tinha 42 mil habitantes e certamente não tem capivaras. Fica na
Estremadura. O nome da cidade provém do lema que lhe foi dado por Afonso
VIII e consta do brasão: Ut placeat Deo et hominibus (“Para que agrade
[em espanhol: plazca] a Deus e aos homens”). É o que está na Wikipédia e
copio à pressa, porque sei que o leitor deve estar se lixando para
Afonso VIII, Estremadura & Cia. no dia de curtir o exército de
Felipão no Itaquerão, esperando que não faça um papelão. Hoje é o Dia
dos Namorados e o primeiro dia da Copa das Copas.
Ruminanças
“Reinar vale a ambição mesmo que seja no inferno. Melhor reinar no inferno que servir no céu” (Milton, 1608-1674).
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