Hormônio masculino em equilíbrio
Falta de libido, sono irregular, perda de massa muscular e disfunção erétil. Tudo isso pode ser causado pela baixa de testosterona nos homens, mas a reposição deve ser feita de forma cuidadosa e com acompanhamento médico
Celina Aquino
Estado de Minas: 20/07/2014
A reposição de testosterona é a solução para muitos problemas. Desde que seja usada adequadamente. Homens que buscam os medicamentos sem orientação médica para melhorar a libido ou aumentar a massa muscular, ou mesmo aqueles diagnosticados com baixa produção do hormônio que seguem o tratamento sem o devido cuidado, estão sujeitos a sofrer graves consequências. O excesso de testosterona pode interferir na fertilidade masculina, às vezes de maneira irreversível.
A queda da produção de testosterona faz parte do processo de envelhecimento. É normal que o nível do hormônio caia anualmente 1% a partir dos 40 anos. “O homem nos procura reclamando de falta de libido e dificuldade de ereção, mas se a queda estiver dentro do previsto, não adianta receitar hormônio porque não haverá melhora sexual”, destaca o diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e professor de Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandre Hohl. Diabetes, pressão alta e obesidade podem influenciar o apetite sexual, assim como problemas de relacionamento.
Para indicar a reposição de testosterona, deve-se chegar ao diagnóstico de hipogonadismo (baixa produção do hormônio), considerando o resultado dos exames laboratoriais e as queixas do paciente. Há relatos mais raros de homens que, além da queda de libido e disfunção erétil, sofrem com desânimo, cansaço excessivo, piora do sono, perda de massa muscular e de pelos corpóreos, problemas de memória, alteração de humor, fragilidade óssea que pode levar à osteoporose e depósito de gordura no abdômen. “Em pacientes com mais de 40 anos, temos que excluir problemas de próstata antes de começar a reposição hormonal, porque o tratamento acelera a evolução de doenças malignas ou benignas”, alerta.
Os homens saudáveis, principalmente os que ainda planejam ter filhos, devem evitar a ingestão indevida de testosterona. “Quando você ingere o hormônio sem necessidade, bloqueia a hipófise, glândula essencial para a produção de espermatozoides. Nos casos em que se usa por muito tempo, a infertilidade pode não ser reversível”, comenta o diretor da Sbem. Hohl adianta, inclusive, que a testosterona vem sendo estudada como anticoncepcional masculino.
INFERTILIDADE O especialista em reprodução humana assistida Paulo Gallo, diretor do Centro de Fertilidade da Rede D’Or Vida, revela que são comuns os casos de pacientes que chegam ao consultório com a produção de espermatozoides zerada devido ao uso inadequado da reposição de testosterona. A infertilidade é constatada por meio do espermograma, exame de avaliação do sêmen, colhido por meio de masturbação, que analisa número, mobilidade e morfologia das células reprodutoras masculinas. “O medicamento melhora o desejo sexual e dá mais disposição, mas os altos níveis de testosterona inibem os hormônios da hipófise que estimulam a produção de espermatozoides. O comprometimento pode ser tão intenso a ponto de chegar à azoospermia, ausência total de espermatozoides”, relata.
Só este ano, Gallo atendeu dois pacientes que se descobriram totalmente estéreis ao tentar uma gravidez. Geralmente, a infertilidade é revertida com a suspensão do medicamento. Mas nem sempre é possível descartar a reposição, pois há casos em que jovens precisam ser tratados com medicamentos à base de testosterona, em geral quando os testículos ou a hipófise não trabalham adequadamente. Os portadores da síndrome de Klinefelter, por exemplo, normalmente são estéreis porque não produzem espermatozoides. O chefe do Departamento de Reprodução Humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e andrologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Reginaldo Martello, acrescenta: “O vírus da caxumba pode atacar os testículos de maneira agressiva, levando a um hipogonadismo grave. Pacientes que perderam os testículos também precisam fazer a reposição hormonal, na maioria das vezes pelo resto da vida”.
Martello informa que, quando o homem está com a intenção de ter filhos, a alternativa é indicar tratamentos que não interfiram na produção de espermatozoides. Utiliza-se, por exemplo, uma substância administrada em comprimido ou injeção que estimula a hipófise e os testículos a produzirem, simultaneamente, espermatozoide e testosterona. “É o mesmo medicamento indutor de ovulação na mulher. Ele estimula de maneira indireta o aumento da testosterona endógena, sem prejudicar a produção de espermatozoides, mas nem sempre é eficaz”, esclarece o médico da SBU.
Também existe a possibilidade de suspender o tratamento com testosterona para reverter o quadro de infertilidade. “O processo de reversão demora. É preciso suspender o uso do medicamento de seis meses a um ano para obter uma resposta, pois cada ciclo de espermatogênese dura aproximadamente três meses”, explica o andrologista. Nos casos em que a baixa produção de células reprodutoras masculinas persiste, Martello sugere técnicas de reprodução assistida como inseminação artificial e fertilização in vitro.
A REPOSIÇÃO
Existem três tipos de tratamento no Brasil. O mais antigo são as injeções aplicadas mensalmente, que repõem o hormônio, mas não de maneira fisiológica. Isso porque a testosterona aumenta muito rapidamente, acima do normal, e também abaixa em pouco tempo, levando desconforto ao paciente. Apesar de ser mais cara, a aplicação trimestral resolve o problema do efeito “enche e esvazia”, pois as taxas do hormônio se mantêm estáveis por três meses. Mais recentemente, chegou ao Brasil um gel que deve ser aplicado todos os dias nas axilas. É considerado o método mais próximo do processo natural.
POR DENTRO DA TESTOSTERONA
A testosterona é um hormônio sexual masculino, produzido em grande quantidade no homem e em pequena quantidade na mulher.
Dentro da barriga da mãe, enquanto o bebê se forma, o hormônio garante a diferenciação do sexo, estimulando a formação do aparelho reprodutor masculino.
Glândula do tamanho de uma ervilha que fica na base do cérebro, a hipófise produz hormônios que estimulam os testículos a começar a produzir testosterona e espermatozoides.
Na adolescência, a testosterona é responsável pelo crescimento do pênis, ganho de pelo no corpo e aumento da massa muscular.
A testosterona também está relacionada
ao desejo sexual masculino e tem papel
fundamental na manutenção da ereção
do homem.
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