segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Eduardo Almeida Reis - Deprê‏

Sebastião era rapaz desengonçado, problemático, parece que não se interessava por mulheres

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/08/2014



Cá entre nós, que ninguém nos ouça: névoa é o tipo do negócio deprê. Em julho, manhã nevoada, mesmo sabendo que geralmente precede belo dia ensolarado, o sujeito fica triste até ligar o rádio e ouvir o noticiário sobre o município de Nova Lima.

Campos de Congonhas, Congonhas de Sabará, Villa de Nova Lima e, a partir de 1932, Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte, vem divertindo o planeta e dando emprego a uma porção de gente com os prefeitos que se revezam na administração municipal. Nova-limenses natos ou adotivos, de vários sexos e às voltas com a Justiça Eleitoral, têm proporcionado espetáculo divertidíssimo, que só faz confirmar a inviabilidade deste país grande e bobo.

Tão grande e tão bobo que o estado de São Paulo, o mais rico do Piscinão de Ramos, tem uma lista de candidatos de arromba, o que significa dizer “de espantar”, “assombrosa”. Ao Senado tem o Serra, o Suplicy e o Kassab, o primeiro é pouco simpático, o segundo, muito Suplicy e o terceiro, essencialmente Kassab.

Como candidato ao governo da “locomotiva da nação”, aparece o Pad da Operação Lava a Jato, que também se assina Padilha e é dos políticos mais originais jamais (ais-ais-ais) vistos em qualquer país. Esta choldra, que tem hino, bandeira e constituição, definitivamente não tem jeito. E o que não tem remédio remediado está, já diziam nossos avós.

Por falar neles, um dos meus trisavós, médico, tuberculoso, veio da Inglaterra para se tratar no clima nova-limense, onde trabalhou alguns anos, mudou-se para Diamantina e acabou passando dos 90. Perdeu a alta-rotatividade administrativa do município de 88 mil habitantes e belos condomínios em que residem mineiros ilustres.


Festas juninas

No boom bursátil de 70, isto é, relativo à bolsa de valores na década de 1970, jovens brasileiros enriquecidos no mercado de capitais desandaram a comprar fazendas. Achavam chique a condição de fazendeiro, embora fossem corretores de valores e adotassem, entre eles, o tratamento Malandro: “E aí, Malandro, tudo joia?”. Joia tinha acento no ói, suprimido pelo imbecilíssimo Acordo Ortográfico.

Malandros que tomavam atitudes originais, como comprar cinco automóveis Ford Galaxie iguais. Malandros mais enriquecidos compravam várias Mercedes. Em 20 anos, as fortunas do boom, quase todas, entraram pelo cano.

Contudo, um dos jovens afazendados naquela década era rico de nascença numa família complicada, divertidíssima, precursora de Dona Flor e seus dois Maridos, romance de Jorge Amado. O milionário carioca reformou a casa centenária, botou mordomo de libré, comprou bovinos, cavalos e contratou veterinário residente na cidade mais próxima.

Por mal dos pecados, pouco antes das festas juninas, quando o veterinário, na falta de salões para abrir, abriu o terreiro de sua modesta casa para festejar Santo Antônio, São Pedro e São João. Tive a fortuna de ser convidado e participei de festa inesquecível, noite fresca, convidados em pé sob a mangueira suburbana, gelo de barra, quebrado, no isopor em que o anfitrião transportava vacinas contra aftosa, brucelose e raiva dos herbívoros, uísque suspeito em copos de requeijão.

Copo de requeijão, em si, é um acontecimento. Naquelas circunstâncias, com o bilionário em pé, sob a mangueira, bebendo uísque com gelo tirado do isopor das vacinas, ouso afirmar que nunca vi cena mais divertida. Detesto festas juninas, mas aquela foi inolvidável, o que significa dizer impossível de ser esquecida.


O mundo é uma bola

4 de agosto de 1578: na Batalha de Alcácer-Quibir, o rei de Marrocos derrota o exército português e o rei dom Sebastião de Portugal desaparece. A coroa é herdada pelo seu tio-avô, o cardeal-rei dom Henrique, que morreria sem deixar descendência conhecida como bom cardeal, abrindo caminho a uma crise dinástica e ao domínio espanhol, que duraria até 1640.

Data daí o sebastianismo, crença mística, propagada em Portugal logo após o desaparecimento de dom Sebastião (1554-1578), segundo a qual este rei, como um novo messias, retornaria para levar o país a outros apogeus de glórias e conquistas.

Sebastião era rapaz desengonçado, problemático, parece que não se interessava por mulheres, e foi analisado pelo historiador português Oliveira Martins. No Portugal daqueles idos, não gostar de mulher era fenômeno estranho, tanto assim que os portugueses espalhados pelo mundo depois dos grandes descobrimentos se notabilizaram, entre outras virtudes, por gostar de saias e de tudo que nelas se encerra, pouco importando a cor da pele, muito antes pelo contrário, aliás.

Em 1693, 4 de agosto é a data tradicionalmente citada como aquela em que dom Pérignon inventou o champanhe. Dom Pérignon foi um monge beneditino (Sainte-Menehould, 1639 – Abadia de Saint-Pierre d’Hautvillers, 1715) que inventou o método para fabricação do champanhe denominado Champenoise, inspirado no Método Antigo de Limoux. Não era viticultor nem alquimisma. Descobriu o método de vinificação efervescente numa peregrinação à Abadia de Saint Hillaire. Voltando ao mosteiro de Hautvillers, perto de Épernay, importou o método limouxine e se transformou, na opinião do philosopho, em benfeitor da humanidade.

Em 2005, início da Wikimania, primeiro encontro internacional de wikipedistas em Frankfurt, Alemanha.


Ruminanças


“Quem não tem champanha não solta foguete” (Pedro Bloch, 1914-2004).

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