Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/08/2014
Estação mais fria do ano, situada entre o outono e a primavera, que no hemisfério sul se estende do solstício de junho (21) ao equinócio de setembro (23), o inverno submete o mineiro sério e próspero a dois problemas: fondue de namorada e cobertor de motel.
Sério e próspero ele já despachou a família para a Europa, mulher e filhos curtindo o verão espanhol, francês ou lisboeta, mandando selfies e notícias do mundo civilizado. Sério e próspero no frio mineiro, ele continua à frente dos seus negócios e passa os dias nos motéis curtindo a namoradinha neurótica, unhas roídas até aos sabuguinhos, bafo de gim com Campari, ouvidinhos ressumantes de cerume, dizendo palavrões cabeludos, peitinhos bicudos contrariando as forças gravitacionais. Mulheres muito certinhas, muito ajuizadas, querem-se em nossas casas; namorada tem que ser neurótica.
Cobertor de motel é o diabo sob a forma de peça de lã ou de algodão, encorpada e felpuda, que serve de agasalho e que se usa na cama por cima dos lençóis. Enquanto as fronhas e os lençóis costumam ser lavados, os cobertores dos motéis ficam para a Páscoa da Ressurreição. E o mineiro sério e próspero, coitado, debaixo daquela imundície.
Outro problema insolúvel é a fondue de namorada, no dia em que a neurótica fica sozinha em casa. Pais e irmãos da namoradinha curtem o Cabo Frio dos aluguéis baratos no inverno, sempre menos frio que o mineiro. E a jovem resolve fazer uma fondue para o seu amor sincero. Tudo bem: dinheiro ele tem de sobra para comprar a panela importada que fica sobre um fogareiro, o queijo gruyère ou emmenthal e o excelente vinho branco em que o queijo será fundido e temperado com alho e quirche. O pão pode ser comprado pela jovem anfitrioa para ser mergulhado naquele queijo na ponta de lindo espeto. Outro vinho, ainda mais caro que o primeiro, é comprado pelo gostosão – e o resultado da noite é uma tragédia mineira, muito pior do que a tragédia grega porque não envolve helenos, mas empresários nascidos no solo generoso das Minas Gerais.
Oriente Médio
O caro e preclaro leitor conhece, faz tempo, o político Valdemar da Costa Neto (ARENA, PDS, PL, PR), hoje exercendo a função de gerente de um restaurante próximo de Brasília para ficar mais perto da cadeia em que dorme à noite. Logo, logo, estará solto, lépido e fagueiro, no comando de seu partido. O leitor também conhece a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, que foi casada com Valdemar, separou-se e aprontou divórcio divertidíssimo pela ferocidade das acusações de ambos e providências outras que não vêm a pelo numa coluna escrita para ser lida por pessoas de bem e de tino.
Dá para imaginar a dificuldade que seria tentar a coexistência vizinha e pacífica de Maria Christina com Valdemar e vice-versa. Pois muito bem: a vizinhança de israelenses e palestinos não é mil vezes, é um bilhão de vezes mais difícil que a do ex-casal paulista, pouco importa o que digam e façam a ONU, os Estados Unidos e os demais países do Oriente Médio. Brasília tomou partido pró-palestinos, convocou o representante do Itamaraty em Israel, fez o que determinou Marco Aurélio Garcia (Porto Alegre, 22 de junho de 1941), aposentado como professor de história da Unicamp, que comanda de fato a política externa brasileira há muitos anos. Israel respondeu justamente indignado dizendo que o Brasil é um anão diplomático. Melhor diria se falasse dos fantoches, geralmente barbudinhos, movidos por meio de cordéis manipulados pelo gaúcho Garcia.
A coexistência israelense-palestina, se todos os palestinos não forem transmigrados urgentemente do Oriente Médio para uma das regiões em que ainda há terras disponíveis – aqui mesmo na América do Sul há países que comportam milhões de pessoas transmigradas – é infelizmente conhecida. Enquanto dispuserem de foguetinhos fáceis de interceptar pelo estado de Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordância continuam existindo. No dia em que botarem a mão num foguete como aquele russo, que derrubou o avião da Malaysia, a resposta de Israel vai assombrar o planeta.
O mundo é uma bola
27 de agosto de 479 a.C., na Batalha de Plateias, os gregos do espartano Pausânias aniquilam os persas de Mardônio, pondo fim às invasões persas na Hélade. Filho de Cleômbroto, Pausânias foi o general espartano que liderou a batalha nove anos antes de morrer em 470 a.C. Acusado de traição, foi condenado à morte. Nunca se tornou rei como seu filho Plistóanex, que sucedeu a Plistarco. Os gregos daquele tempo adorariam ter conhecido Elvis Presley e Michael Jackson para batizar seus filhinhos. Já pensaram na dificuldade que deve ser lidar com um guri chamado Plistóanex?
Em 1810 explode o estoque de munição da vila de Almeida, em Portugal, destruindo a igreja matriz, o castelo medieval onde estava o paiol, matando mais de 500 soldados portugueses e ingleses, facilitando a invasão das terras lusitanas pelas tropas de Napoleão. Em 1859, perfurado nos Estados Unidos o primeiro poço de petróleo. Em 551 a.C. nasceu Confúcio, filósofo que dispensa considerações. Hoje é o Dia do Psicólogo e do Corretor de Imóveis.
Ruminanças
“O psicólogo gosta de brincar de Deus: ele assume uma posição privilegiada muito acima da loucura humana que estuda. Ilumina o pensamento dos outros e ignora o próprio” (Walter Kaufmann, 1921-1980)
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