quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Obrigados a fumar

Avançamos, mas ainda há muito que se fazer para termos ambientes livres da fumaça do tabaco em todo o país


Bruno Ferrari
Oncologista e presidente do conselho administrativo
da rede Oncoclínicas do Brasil

Estado de Minas: 28/08/2014



Quem não fuma não é obrigado a fumar.” Esse é o tema deste ano da campanha do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o Dia Nacional de Combate ao Fumo, a ser celebrado amanhã, 29/8. Tal data foi criada em 1986, pela Lei Federal 7.488, com o objetivo de reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.

Nesta campanha, além do Inca, estão empenhadas a comunidade médica e a sociedade como um todo. Comemorações de datas como essa e o desenvolvimento de ações nas escolas, unidades de saúde, ambientes de trabalho, estabelecimentos de entretenimento, além de medidas econômicas e legislativas, têm sido muito importantes para uma mudança de comportamento na sociedade brasileira sobre o uso do tabaco. O esforço é para tentar reverter as estatísticas relacionadas ao fumo, que são alarmantes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de mortes que poderiam ser evitadas e um terço da população mundial faz uso de algum tipo de cigarro. Atualmente, o cigarro mata 4,9 milhões de pessoas por ano e a estimativa é de que, em 2030, esse número dobre, chegando a 10 milhões. O Inca estima, para este ano, mais de 27.330 novos casos de câncer no pulmão (16.400 em homens e 10.930 em mulheres) no Brasil.

O ponto mais forte da campanha deste ano é o debate sobre os malefícios da fumaça do tabaco e a existência da Lei Federal nº 9294/96, que proíbe o fumo em recintos coletivos. Observamos grandes avanços quanto à divulgação de informações sobre os riscos do tabagismo passivo, que estimularam a criação de leis estaduais e municipais para proibir a existência de fumódromos em ambientes fechados. Porém, ainda há muito que se fazer para termos ambientes livres da fumaça do tabaco em todo o país.

Lembro que pessoas que fumam têm de 20 a 30 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão. Porém, pelo menos um terço dos diagnósticos da doença pode ser de casos de fumantes passivos, que convivem com a fumaça do cigarro em casa, no trabalho ou em ambientes sociais. O ar poluído contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro. Os não fumantes que se expõem com frequência à fumaça de cigarro têm um risco 30% maior de câncer de pulmão e 24% maior de infarto do que os não fumantes que não se expõem.

Para este Dia de Combate ao Fumo, órgãos de saúde frisam ainda que empresas das áreas de entretenimento e hotelaria estejam atentas à constante exposição de seus funcionários e frequentadores à fumaça de cigarro. Esses estabelecimentos devem assegurar a saúde dos clientes e, principalmente, dos funcionários, já que são responsáveis pela segurança dos profissionais contra riscos ocupacionais, conforme determina a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Se a população se conscientizasse e parasse de fumar, aproximadamente 24 mil novos casos de câncer seriam evitados todo ano. Além do ganho em qualidade de vida, o dinheiro destinado ao tratamento desses pacientes poderia ser revertido para outras áreas e até mesmo em pesquisa.

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