quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Pequenos gigantes

As cerca de 9 milhões de micro e pequenas empresas já representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 1985, eram 21%


Luiz Barretto
Presidente do Sebrae Nacional
Estado de Minas: 14/08/2014



Ninguém precisa ser empresário para saber da enorme concorrência que existe no mercado. A globalização trouxe para a realidade local o acesso a produtos e serviços de vários países e estimulou um forte processo de fusões empresariais. Competir contra grandes corporações é um desafio, em especial para micro e pequenas empresas. Assim, é uma boa surpresa a revelação de que pequenos negócios ganharam mais espaço na produção de riqueza do Brasil. 

Isso foi o que constatou pesquisa encomendada pelo Sebrae à Fundação Getulio Vargas (FGV), usando a mesma metodologia do IBGE. Os pequenos negócios – aqueles que faturam até R$ 3,6 milhões por ano – já respondem por mais de um quarto de toda a riqueza produzida no Brasil. Juntas, as cerca de 9 milhões de micro e pequenas empresas representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 1985, representavam 21%. 

Essa evolução é importante por várias razões, em especial em uma conjuntura marcada por crescimento econômico em menor ritmo. A última década marcou o ingresso de cerca de 40 milhões de pessoas na classe média. As políticas públicas que estimulam a ascensão social têm sido eficientes: em 10 anos, a renda dos 10% mais pobres subiu cinco vezes mais do que a dos 10% mais ricos no país. 

 Se a renda aumenta, cresce também a capacidade de consumo, o que é um ótimo estimulador da economia. Os pequenos negócios podem contribuir mais para a economia brasileira. Um crescimento mais significativo do PIB, como um todo, não depende apenas das grandes empresas, em especial em um país como o nosso, onde a quase totalidade dos negócios (99%) corresponde a micro e pequenas empresas.

 Mas isso não acontecerá por inércia e muito menos por sorte. A forma de aumentar a participação de pequenos negócios no PIB brasileiro é com muita capacitação. O primeiro aspecto fundamental é conhecer o mercado. Uma ideia pode ser genial no papel, mas é preciso testar o interesse do público em adquirir o produto ou serviço que a empresa pretende comercializar.

 Depois disso, há outros quesitos importantes da gestão. Alguém consegue imaginar um dono de mercadinho que não tenha noção quanto aos produtos estocados? Uma cantina de colégio que não se prepare em vista das férias escolares? Planejamento é essencial, assim como o controle do fluxo de caixa, a profissionalização da gestão, a inovação, a adoção de práticas sustentáveis. 

 Boas práticas de gestão são decisivas diante de uma concorrência cada vez mais acirrada. Os consumidores sempre surgem com novas demandas, com base não só no que compraram na cidade onde vivem, como também no que experimentaram em viagens a outras cidades e outros países.
 O aumento de renda viabiliza mais viagens, sem falar do imenso acesso à informação que todos têm graças à internet. Novos produtos e serviços são lançados o tempo inteiro e a fartura de opções torna mais complexo o processo de decisão do consumidor. 

 Com mais qualificação, as empresas têm maior chance de prosperar no longo prazo. Nossa economia precisa de negócios sustentáveis, que continuem gerando emprego e renda em todas as regiões do país. 

 No Brasil, as micro e pequenas empresas tiveram um incentivo recente, com a ampliação do Supersimples para todas as categorias de serviços antes excluídas do regime especial de tributação. Um ambiente legal, com menos burocracia e menos impostos, aliado à capacitação da gestão nos pequenos negócios, tem tudo para fomentar o aumento da participação dos pequenos negócios no PIB brasileiro – e esse cenário interessa a todos.

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