Num dos banquetes, a
rainha Elizabeth II bagunçou o coreto do Sion e do Sacré Coeur,
palitando os dentes à mesa. Foi um tableau, como se dizia naquele tempo
Estado de Minas: 20/09/2014
Peço ao leitor que não espalhe, mas adoro palitos. Sou do tempo dos portugueses Marquesinhos, hoje anunciados no Google como antiguidades. Na falta deles, não dispenso os nacionais. Nunca me ajeitei com os fios dentais que tanta gente usa. Dia desses, jovem dentista, que me alimpava o tártaro, quis ter a gentileza de observar: “O senhor sempre cuidou muito bem dos seus dentes”. Quase morri de rir, considerando que fumantes de charutos não costumam ser amigos do limpamento dental logo após as refeições próprias para fazer boca de pito. Se o charuteiro escova os dentes depois de comer, tira o prazer do charuto.
Puros de Havana ou da Bahia são lúdicos, no sentido daquilo que se faz por gosto, sem outro objetivo que o próprio prazer de fazê-lo. Confirmei essa verdade outro dia, quando andei escondido na casa de uma filha, desde sempre implicante com o charutear do paizinho. Reduzi consideravelmente o consumo diário porque me sentia agredindo o ambiente em que era um convidado. Frio danado. Janelas fechadas. Dona da casa de nariz torcido e cinzeiro mínimo, incompatível com a dignidade dos puros, o fumante e o fumado. Cinzeiro de charuto tem que ser decente, grande, de cristal, para combinar com o ludismo dos puros.
No Rio de antigamente, os palitos eram malvistos. Moças de classe média alta estudavam no Sion, que as ensinava a comer com o garfo virado para baixo. As ricas estudavam em França ou tinham em casa preceptoras alemãs, francesas, inglesas. Presumo que a implicância com os palitos fosse coisa do Sion ou do Sacré Coeur.
No Sacré Coeur, a pedido de uma namorada, fiz as fotos para um trabalho que as alunas enviariam ao papa. Fui ciceroneado por mère Clarice, um pitéu de freirinha, que abandonou o hábito poucos meses depois. Não digo que tenha sido por causa do fotógrafo de 18 aninhos, mas o certo é que caiu fora. Ainda outro dia, no Rio, a mulher de famoso joalheiro me falava da apostasia de Clarice, bem como de minha ex-namorada, que morou em França e retornou ao Rio solteirona e comuna. Pausa para falar do orgulho que acabo de ter, currente calamo, quando me lembrei do substantivo apostasia: quebra de votos, abandono da vida religiosa ou sacerdotal, sem autorização superior.
Volto aos palitos. Ali por volta de 1968, Elizabeth Alexandra Mary, então na flor dos seus 42 aninhos, visitou o Brasil. Presume-se que sua educação tenha sido tão boa quanto as melhores do mundo a partir de 21 de abril de 1926, data do seu nascimento. Pois muito bem: num dos banquetes que lhe foram oferecidos, a rainha Elizabeth II bagunçou o coreto do Sion e do Sacré Coeur, palitando os dentes à mesa. Foi um tableau, como se dizia naquele tempo.
Futebol
Ainda bem que deixei de ser cronista-Fifa, quando era forçado a escrever sobre o esporte bretão. Sempre tive horror ao senhor Carlos Caetano Bledorn Verri, conhecido como Dunga. Se ainda fosse cronista-Fifa, seria forçado a constatar que o senhor Dunga evoluiu de cômico para acômico. Em 2010, metido nas roupas desenhadas por sua filha, era cômico; hoje, vestido feito gente, ficou acômico pela originalidade de sua acomia, falta ou queda de cabelos, calvície. Nela, o cirurgião plástico de Pernambuco dá jeito, mas é impossível mudar o que existe por dentro da cabeça do referido cidadão.
Fosse cronista-Fifa, seria obrigado a analisar o time do Cruzeiro em 2014. Não digo que tenha assistido a todas as partidas do time, que nossa imprensa diz ser maravilhoso, mas vi uma porção dos jogos cruzeirenses neste Brasileirão. Por mais que me esforce, não consigo ver o esquadrão de ouro que a imprensa vê. O técnico é cavalheiro simpático e educado, o goalkeeper Fábio continua sendo um dos melhores do Brasil, há três ou quatro jogadores entre os melhores deste Brasileirão – e é só. Se o time está vários pontos à frente do segundo colocado e vai ser campeão, a explicação é simples: é o menos ruim dos 20 que disputam a Série A.
O mundo é uma bola
20 de setembro de 331 a.C., Alexandre, o Grande, atravessa o Rio Tigre para combater o Império Aquemênida iraniano, fundado no século VI a.C. por Ciro, o Grande, que derrubou a Confederação Médica. Antes que alguém possa pensar, como pensei, que a Confederação Médica fosse invenção do ex-ministro Padilha para entupir o Brasil de médicos cubanos, é bom explicar que os medos foram uma das tribos arianas que migraram da Ásia Central para o planalto iraniano e no final do século VII a.C. fundaram um reino centrado na cidade de Ecbátana.
Por volta do ano 500 a.C. o império fundado por Ciro dominava boa parte do mundo antigo. Mas Alexandre era valente e teve como preceptor ninguém menos que Aristóteles, filósofo de nomeada. Dizem que Alexandre dormia com os jovens soldados que comandava, mas cabe a pergunta: combatendo o Império Aquemênida, dormiria com Lauren Bacall ou Elizabeth Taylor?
Em 1276, foi eleito João XXI, até hoje o único papa português. Em 1898, Santos Dumont realiza o primeiro voo de balão com propulsão própria.
Ruminanças
“A luz, buscando a luz, desvia a luz da luz” (Shakespeare, 1564-1616).
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