sábado, 20 de setembro de 2014

Gordurinhas com os dias contados

Cura da obesidade com organoterápicos é alvo de pesquisa conduzida por médica da UFMG. Trabalhos anteriores curaram Parkinson e dores crônicas


Junia Oliveira
Estado de Minas: 20/09/2014



As gordurinhas extras, que, muitas vezes, se tornam sinônimo de problemas físicos e mentais, estão com os dias contados. Pesquisa em fase inicial e conduzida por médica de Belo Horizonte usará a homeopatia para curar a obesidade e pode condenar alopáticos e cirurgias a tratamentos do passado. A técnica envolve remédios feitos a partir da matriz sadia de órgãos de carneiro e porco. Muito usados na França, e pouco no Brasil, os organoterápicos (OT) já surtiram efeito para tratar mal de Parkinson e dores crônicas – trabalho publicado em julho de 2012, na Revista de Homeopatia da Associação Paulista de Homeopatia.

Em contato com o órgão doente, os organoterápicos o regeneram. Eles são feitos a partir de micropedaços de órgãos dos animais, diluídos em solução de água e álcool. Usam o princípio da homeopatia, o de similitude: dar estômago a quem tem problema de estômago, artéria para hipertensão, artéria cerebral para quem tem AVC ou demência e assim por diante. No Brasil, um único laboratório, com sede em São Paulo, é autorizado a produzir esses compostos e a revender as matrizes para as farmácias homeopáticas. Em BH, duas comercializam esse medicamento.

A primeira etapa dos estudos da homeopata Isabel de Oliveira Horta é exploratória e vai envolver 10 pacientes voluntários durante três meses. Eles tomarão medicamento que já foi usado num estudo publicado em 2005, no International Journal of Obesity, por um pesquisador da Inglaterra. Ele mostrou que quem tomou o remédio emagreceu sete vezes mais do que quem não o ingeriu. O nome do medicamento não está sendo divulgado ainda por se tratar de estágios iniciais de pesquisa. Isabel quer confirmar ou negar esses resultados. Se positivos, a pesquisa será estendida para quatro outros grupos, para que sejam feitos os testes conhecidos como estudo randomizado e duplo cego.

Nessa etapa, trabalha-se com placebos e remédios. O médico não sabe o que prescreve, o paciente não sabe qual dos dois está tomando e até mesmo o avaliador, quando verifica a melhora dos voluntários, desconhece o que cada um ingeriu. “Há um código aleatório de computador e, por ordem de chegada, o paciente é relacionado àquele número numa planilha. Apenas a secretária, responsável por esse trabalho, sabe quem tomou o quê. No fim do processo, o código é aberto para médicos e pacientes”, afirma Isabel. Na segunda fase, quem tomou placebo será tratado com o remédio correto.

No duplo cego, será usado o medicamento da pesquisa inglesa, um organoterápico de estômago e outro de cérebro. Cada grupo tomará um deles e um quarto grupo tomará os três compostos. Eles serão acompanhados durante três meses. “Estamos muito próximos de descobrir como a homeopatia funciona no DNA, a partir de trabalhos publicados em revistas científicas e grupos internacionais que investigam essa relação.”

VOLUNTÁRIOS Um dos grandes desafios da pesquisa de Isabel é encontrar voluntários. Os 10 primeiros que a procurarem serão indicados para a etapa exploratória. O restante poderá fazer parte das outras fases. A médica esclarece, no entanto, que vai trabalhar com apenas 10 voluntários por mês, o que não impede o atendimento a pacientes em busca desse tratamento no consultório, fora da pesquisa. Ela ressalta que nem todos os candidatos poderão ser selecionados: “Determinados casos têm causa endócrina, que precisa ser resolvida primeiro, e outros deverão ser diagnosticados. Os testes serão feitos, basicamente, em quem faz dieta séria e exercício físico mas não consegue emagrecer”.

A homeopata trabalhará ainda com outras duas hipóteses: uma delas é da existência de um transtorno neuroendócrino numa espécie de termostato cerebral, localizado no hipotálamo, responsável pelo equilíbrio da temperatura interna, sobre o qual atuará o organoterápico de cérebro. A médica acredita que, devido a um distúrbio eletroquímico, ele entende que o corpo tem uma temperatura mais baixa que os normais 36 graus e, por isso, passa a dar ordens erradas para o centro da fome. Indica, assim, que a pessoa precisa comer mais, presumindo que seu metabolismo está baixo. “Ele faz uma leitura errada por um problema neurotransmissor e manda a pessoa que já está gorda comer, em vez de lhe tirar a fome, que é um mecanismo natural do corpo.”

A outra hipótese envolve o hormônio grelina, responsável por estimular a fome. No tratamento homeopático, o organoterápico de estômago será usado para diminuir a produção dela.

Saiba mais

organoterápicos

Os organoterápicos agem por similitude, teoria segundo a qual “semelhante cura o semelhante”. Ela está diretamente ligada à história da descoberta da homeopatia, por Samuel Hahnemann (1755-1843). Químico e médico, não estava satisfeito com os tratamentos da época e, por isso, começou a traduzir livros árabes. A partir disso, resolveu experimentar em si mesmo o princípio da semelhança descrita por aquele povo. Experimentava e anotava o que o remédio provocava nele. Quando atendia um paciente com um sintoma produzido pelo remédio que ele tomou, dava esse medicamento que o havia intoxicado e obtinha a cura. Diante de um quadro de efeitos fortes entre os pacientes, ele começou a diluir as doses e percebeu que, quanto mais o fazia, mais diminuía as reações e mais atingia a parte emocional e mental da pessoa.

Evoluções são comprovadas

As pesquisas com organoterápicos começaram a ser feitas pela homeopata Isabel de Oliveira Horta em 2009 e levaram à cura de dores crônicas e mal de Parkinson. A primeira foi feita com 265 pacientes que já haviam tentado os mais diversos tipos de tratamento, entre eles, cirurgias e corticoides, com pouco sucesso. As dores estavam associadas, normalmente, a várias outras doenças, como artrite reumática, artrites comuns e fibromialgias. “Nos tratamentos homeopáticos, em geral, 60% dos problemas sem lesões graves nos órgãos melhoram. Mas há 38% a 40% que, apesar da melhora, precisam de tratamento complementar”, diz a homeopata.

Os outros estudos envolveram pacientes com mal de Parkinson em grau leve ou grave, que estavam acamados havia de dois a 10 anos, sem falar, engolir, compreender e vivendo com ajuda de traqueostomia e oxigênio. A médica tem 20 vídeos de pessoas antes, durante e depois do tratamento, mostrando a evolução e a cura. Uma desses pacientes relata três anos de melhora. Os depoimentos estão disponíveis no YouTube e no site da médica (www.clinicaveredas.com). Um trabalho sobre esses casos foi aceito pelo 31º Congresso de Reumatologia, que ocorrerá em outubro, na Associação Médica de Minas Gerais. Eles também foram discutidos na Associação Médica Homeopática de Minas Gerais.

Num dos vídeos, mulher e cuidador do paciente relatam as evoluções de quem agora escova os dentes e come sozinho, faz caminhadas e conversa normalmente, atividades que antes estavam inviabilizadas pela doença. Até mesmo os tremores cessaram nos casos tratados com organoterápicos cerebrais. Isabel Horta prepara um livro com 40 casos de dor crônica e 30 de Parkinson. As pesquisas são feitas pelo Instituto Ética e não têm financiamento – a médica espera conseguir aporte financeiro de parceiros. São aceitas doações para ajudar nos estudos. (JO) 

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