terça-feira, 9 de setembro de 2014

Leitura e escrita - Capacitação tornou-se essencial - Rafaela Lôbo

Rafaela Lôbo
Mestre em linguística, professora, palestrante e consultora da Scriptus Consultoria Empresarial em Linguagem
Estado de Minas: 09/09/2014 04:00



É frequente ouvir alguém dizer que as pessoas estão lendo pouco e escrevendo mal. Será? Em que se baseiam tais afirmações? O Brasil era, até pouco tempo, um país de analfabetos. Há um século, a maioria das mulheres não sabia ler e mesmo as gerações das décadas de 1980 e de 1990 assistiam à televisão o dia todo, não havia internet e alguém que lia muito era diferente; escrita era destinada aos que precisavam dela para executar um trabalho. Hoje, a web invadiu todos os espaços, desde o momento de trabalho ao de lazer. As pessoas leem o que os colegas publicam e escrevem desde seus relatórios de trabalho a suas mazelas pessoais, ou seja, leem mais e escrevem mais. Esse fato traz vertentes diferentes para análise. Se por um lado lê-se e escreve-se muito mais, por outro, qual é a qualidade dessa leitura, dessa escrita e quanto as pessoas hoje se expõem ao escrever? Quem já não escutou críticas em relação à escrita de um amigo no Facebook e quantos já não foram criticados? Já conheci pessoas que desistiram de um emprego porque não conseguiram fazer os relatórios pedidos.

As redes sociais tornaram a leitura e a escrita necessidades de convivência social. No entanto, é necessário compreender aquilo que se lê, analisar as informações recebidas – compartilhar pensamentos de autores consagrados é fácil, entender exatamente o que se compartilha pode ser difícil. Por isso, é comum ouvir que as pessoas devem ler muito, mas o problema não é a “quantidade” de leitura, mas a “qualidade” dessa. O analfabetismo diminuiu muito. É fato que a maioria dos brasileiros já sabe ler. A questão é que a leitura técnica é algo nada comum, mesmo entre pessoas com alto grau de instrução.

Quando se pensa em escrita, a situação torna-se ainda mais complexa, isso porque não se pode esperar muito conteúdo oriundo de uma população sem leitura técnica. Em muitos textos, a estrutura textual frequentemente está comprometida e a situação não melhorará enquanto houver pessoas que acreditam que “se muda de parágrafo quando se muda o assunto”. Há, ainda, outros acham que “frases curtas são essenciais na escrita”. Outro ponto relevante refere-se à gramática, por mais que eu não acredite que a questão gramatical seja garantia de um bom texto, gostando ou não, o uso de estruturas formais é, muitas vezes, relevante para a manutenção no mercado de trabalho e, além disso, evita críticas de preconceituosos.

Para uma empresa, um texto escrito dentro da norma padrão é credibilidade; para o funcionário, é a necessidade de manter o emprego ou mesmo a possibilidade de ganhos maiores, ou seja, a preocupação com o uso gramatical tem se mantido, apesar de todas as discussões implantadas pelos melhores linguistas. Realidade seja dita, que empresa sobe de cargo um funcionário que não é capaz de entender os textos que recebe? Além disso, quem contrataria uma pessoa incapaz de enviar um simples e-mail sem problemas de sentido? Diante dessa situação, a capacitação tornou-se essencial e uma saída para essa nova realidade. Afinal, ler ou escrever muito não significa ler ou escrever bem.

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