Zero Hora - 10/09/2014
Sei que o assunto Patricia Moreira já cansou, mas não dá pra perder a
oportunidade de olhar para o próprio umbigo e perguntar se somos tão
nobres a ponto de nos darmos o direito de atirar pedras no telhado dos
outros. Fazendo uma viagenzinha no tempo, você não consegue lembrar de
nenhuma besteira já cometida? Nunca foi idiota por um dia?
Eu até que não fui das mais torpes, desde cedo desenvolvi um senso
de justiça que me fazia ir contra o rebanho se preciso fosse. Mas isso
não me isenta de também já ter ido a favor do rebanho, com mugido e
tudo. Simplesmente porque fazer coisas sem sentido é típico de quem
ainda não reconheceu seu papel no mundo.
Fecho os olhos e me vejo na estrada, num carro lotado de
adolescentes empunhando latinhas de cerveja. Eu era alguma espécie de
delinquente? Nem perto disso. A mais correta e ajuizada das criaturas,
mas não mandava parar o carro para descer. Eu queria seguir com eles,
que hoje são respeitados advogados, administradores, biólogos. Éramos
jovens desbundados em busca de uma identidade comum.
A garota Patricia, símbolo do caso Aranha x Grêmio, entrou na onda
furada de xingar o goleiro do time adversário porque se sentiu segura
para extravasar e fazer bobagem sob a proteção de um grupo. Quem não?
Certa vez, fui assistir a um jogo do Grêmio contra o Corinthians, quando
o craque do time paulista era Ronaldo, o Fenômeno. Dias antes da
partida, o travesti que Ronaldo levara a um motel havia falecido. Pois
bastava o atacante tocar na bola para o Olímpico inteiro berrar:
vi-ú-vo, vi-ú-vo! Eu não segui o coro, mas se houvesse uma câmera me
focalizando, me flagraria rindo. Era uma chacota.
Chamar alguém de macaco não é chacota, e sim ofensa racista, e
racismo é crime. Patricia será penalizada juntamente com seus
companheiros de imbecilidade e nunca mais repetirá o gesto, tenho
certeza, e nós, de fora, também não. Para isso servem as penalizações:
para educar, alertar, servir de exemplo. A guria, ironicamente, agiu
como macaca de auditório, termo que caiu em desuso por motivos óbvios, e
deu-se mal. Assim é. Sempre há um mártir por trás das mudanças de
comportamento.
Que agora a Justiça tome conta do caso e basta de perseguições
pessoais. A garota não é diferente de nenhum adolescente que já dirigiu
sem carteira, que fez brincadeiras de mau gosto com gays, que praticou
bullying na escola, que passou trotes por telefone, que fez uma prova
chapado, que falsificou carteirinha de estudante, que arranhou o carro
de um desafeto, que roubou a namorada do irmão. Tudo errado, mas dentro
da previsível tacanheza juvenil.
Sou a favor de penalizar. O Brasil é este caldeirão de escândalos por causa da impunidade. Mas pegar para Cristo é hipocrisia.
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