quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Astro

O astro Cauã Antunes, de 6 anos, rouba a cena em Rio, eu te amo, que estreia hoje no país. O jovem morador do Vidigal brilha entre os atores Harvey Keitel, Rodrigo Santoro e Wagner Moura


Carolina Braga
Estado de MInas: 11/09/2014



Cauã Antunes e o americano Harvey Keitel contracenam no Rio de Janeiro

 (Agência Febre/divulgação)
Cauã Antunes e o americano Harvey Keitel contracenam no Rio de Janeiro


O elenco pode até ser repleto de figuras ilustres. Mas o espectador de Rio, eu te amo vai se surpreender. Quem são Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Cláudia Abreu, Rodrigo Santoro, Ryan Kwanten, Vanessa Paradis e Vincent Cassel perto de Cauã Antunes? A experiência desses veteranos é inquestionável – e a fama também –, mas a sinceridade com que o garoto de 6 anos, morador da favela carioca do Vidigal, se entrega ao papel do menino de rua que precisa falar com Jesus é tamanha que não sobram dúvidas. Ele é o melhor do filme, que estreia hoje em nove salas da Grande BH.

Cauã Antunes é o astro do episódio “Milagre”, dirigido pela libanesa Nadine Labaki e estrelado por ela e por Harvey Keitel, protagonista de O piano (1993). “Fiz testes com várias crianças, mas não encontramos nenhuma de que a Nadine gostasse. Ela achava que alguns atuavam demais, artificialmente. Queria um garoto com brilho no olhar, com energia. Ela bateu o pé. Aí, falei que o filho de um amigo poderia fazer”, conta Rosa Fernandes, produtora de elenco.

Rosa gravou o teste com Cauã e o enviou pela internet para a cineasta. “Quando eles se encontraram pela primeira vez, o Cauã olhou para a Nadine e soltou: ‘Rosa, a mulher é a maior gata’. Traduzi e ela adorou”, lembra a produtora. O menino tirou a empreitada de letra. “O que mais gostei foi da Nadine. Além de bonita, ela é muito gente boa”, conta ele. A comunicação, obviamente, dependia de tradutor. Para o menino, isso não foi problema. Depois da experiência no set, ele passou a frequentar aulas de artes cênicas em sua comunidade.

Popular


Ao ser perguntado sobre a experiência de se ver na tela, Cauã se limita a dizer: “Gostei”. Mas deixa entender que quer mais. Basta um passeio com o menino pelo Vidigal para constatar o quanto ele é popular, conta a produtora. “Ele conhece a comunidade inteira. Outro dia, enquanto passeava com ele, fui apresentada: ‘Esta é a Rosa, trabalha comigo’”, diverte-se. “A produção ficou um pouco insegura, porque ele é incontrolável”, revela. Deu tudo certo, mas...

O garoto, que tinha 5 anos durante as filmagens, fez além da conta. Alguns de seus cacos e improvisos entraram no filme. Numa cena, o personagem João faz o sinal da cruz e acrescenta: “Valeu?”. “Já estava cansado de gravar quando disse aquilo. Veio dele também a frase ‘esta mulher é bonita, mas é meio maluquinha’”, conta Rosa.

Rio, eu te amo faz parte do projeto Cities of love. A cada filme, uma cidade é escolhida para ser a protagonista do longa dirigido por profissionais de nacionalidades diferentes. Paris e Nova York foram algumas delas. Os diretores convidados para o episódio carioca são Andrucha Waddington (Brasil), Paolo Sorrentino (Itália), Fernando Meirelles (Brasil), Stephan Elliott (Austrália), John Turturro (EUA), Guillermo Arriaga (México), Sang Soo Im (Coreia), Nadine Labaki (Líbano) e os brasileiros Carlos Saldanha, José Padilha e Vicente Amorim.

 Belo e desafinado Ao reunir 10 episódios de 11 cineastas, o longa Rio, eu te amo é irregular. Bons atores não sustentam tramas inconsistentes, com raras exceções. Nadine Labaki surpreende

Carolina Braga
Estado de Minas: 11/09/2014

Vincent Cassel faz o papel de escultor de areia no episódio %u201CA musa%u201D, de Fernando Meirelles

 (Gui Maia Dan Behr/divulgação)
Vincent Cassel faz o papel de escultor de areia no episódio %u201CA musa%u201D, de Fernando Meirelles


É muito difícil que um projeto do naipe de Rio, eu te amo seja uniforme. Isso porque não apenas os resultados podem ser distintos, como também o objetivo de cada diretor convidado. Se há quem aproveite a oportunidade para experimentar linguagens, como Fernando Meirelles, outros optaram por narrativas clássicas, como Carlos Saldanha. Ainda que o especialista em animação explore mares nunca dantes navegados, não fez nada fora do comum em “Pas de deux”.

Rio, eu te amo começa com uma imagem cotidiana: Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer acordando. A beleza natural da cidade é exaustivamente explorada tanto nos episódios quanto nas cenas que costuram as histórias. A reunião dos fragmentos evidencia a liberdade que cada cineasta teve para fazer o que bem quisesse. Todos passaram longe de histórias de amor tradicionais e deixaram a violência de lado, ainda que esses temas apareçam de outras formas ao longo do filme.

Episódios assinados por estrangeiros parecem mais redondos do que os brasileiros. A principal diferença está na minúcia do roteiro. O mexicano Guillermo Arriaga, por exemplo, consegue contar uma história com começo, meio e fim em “Texas”, mas sem abandonar ou exagerar na dose de drama e tensão. É o mesmo êxito alcançado pelo italiano Paolo Sorrentino em “Grumari”.

Entre os brasileiros, vê-se, nitidamente, a vontade de apresentar algo diferente da cinematografia conhecida. José Padilha – consagrado por Tropa de Elite – gerou polêmica ao causar desconforto à Arquidiocese do Rio de Janeiro, que chegou a tentar proibir algumas cenas do longa. No fragmento dirigido por ele, o personagem de Wagner Moura, ao sobrevoar o Cristo Redentor de asa-delta, resolve desabafar com o Todo Poderoso. Não há nada demais, além do cartão-postal em novos ângulos. É a revolta de um cidadão comum.

Em “A musa”, Fernando Meirelles transforma Vincent Cassel em um escultor de areia em Copacabana. O diretor ousa nos ângulos fechados e na fotografia estourada, deixando nítido que não pretende contar uma historinha convencional, e sim provar outras formas narrativas. É válido. Andrucha Waddington, por sua vez, parte de um argumento humanista: uma professora abandona o confortável lar da classe média para viver na rua. Seria algo sem brilho se ela não fosse interpretada por Fernanda Montenegro. Ela sempre arrasa.

Equilibrar diferentes olhares sobre o Brasil, em especial sobre o Rio de Janeiro, era o desafio. Assim, seria inevitável cair na visão que os gringos têm de nós. O australiano Stephen Elliott escolheu o Pão de Açúcar para contar a história de uma estrela de cinema que visita a Cidade Maravilhosa. Como se não bastasse a locação escolhida, ainda escalou Bebel Gilberto para o papel de cupido ao som de Eu preciso dizer que te amo. Ficou clichê demais.

Bem fez a libanesa Nadine Labaki, com sua história simples: um menino precisa falar com Deus, deixa recado com Jesus e aguarda o telefonema no orelhão de uma estação de ônibus. Sem inventar demais e contando com o surpreendente ator mirim Cauã Antunes, ela faz rir, emociona e, ao mesmo tempo, faz uma crítica social do país que não é o dela, mas soube compreender.



Corpo em cena

O Grupo Corpo, de certo modo, faz participação em Rio, eu te amo. Cassi Abranches, ex-bailarina da companhia, assina a coreografia de três minutos dançada por Rodrigo Santoro e Bruna Linzmeyer. Em momentos de sombra, Cassi faz par com Diogo de Lima, integrante do grupo. “Ver o Corpo foi uma das experiências mais bonitas da minha vida. Fui a BH conversar com eles e depois Cassi e o Diogo vieram ao Rio. Treinaram oito horas por dia: cada detalhe de mão, de passos. Deu muito certo”, comemora o diretor Carlos Saldanha. (Helvécio Carlos

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