O primeiro crime no Rio
Escritor carioca Alberto Mussa lança seu novo romance policial hoje, em Belo Horizonte, e
conversa com o público. Ficção tem inspiração em um crime misterioso ocorrido em 1567
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 30/09/2014Vencedor de vários prêmios literários, Alberto Mussa dá sequência à série de romances policiais iniciada em 1999 |
A obra integra série de cinco romances policiais ambientados em diferentes períodos da história do Rio. O trono da rainha Jinga, aclamada novela publicada em 1999 (com reedição em 2007), é o primeiro volume e se passa no século 17. O senhor do lado esquerdo, de 2011, é o segundo volume, ambientado no século 20. “Não sigo ordem cronológica porque pode parecer que um é continuação do outro, não é. Além do mais, acho que fica mais elegante”, comenta Mussa.
O autor, que ganhou os prêmios Casa de Las Américas, Machado de Assis e, por duas vezes, o APCA, conta que apesar de muitos críticos ainda tacharem o gênero policial de inferior, sempre se interessou pelo estilo, apesar de não se classificar como um escritor policial. Em 1998, decidiu criar esse projeto, espécie de compêndio mítico do Rio. “Percebia que a literatura brasileira regional era forte em estados como Rio Grande do Sul, com Veríssimo; Minas, com Autran Dourado; o Nordeste, com José de Alencar. E o Rio sempre foi muito machadiano, com ficção centrada no contemporâneo. Por ser carioca e gostar muito da história da cidade, decidi fazer vários romances; cada um focado em um século”, revela.
O livro que marcou a estreia da série, O trono da rainha Jinga, é passado no século 17, época em que uma onda de inexplicável violência aterrorizou a cidade – sequestros, mutilações, assassinatos. A irmandade secreta de escravos africanos levou pânico ao Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, na África, eventos surpreendentes que parecem evocar os crimes no Brasil estão ocorrendo em torno da enigmática rainha reinante Jinga.
Amores clandestinos O senhor do lado esquerdo tem como cenário o Rio de Janeiro de 1913. O secretário da presidência da República do governo Hermes da Fonseca é encontrado morto num dos quartos da antiga casa da Marquesa de Santos, então conhecida como Casa das Trocas – luxuoso bordel e também esconderijo de amores clandestinos, que funcionava sob a fachada de uma clínica ginecológica, cujo proprietário era um médico polonês, obcecado pelas fantasias sexuais femininas.
Durante as investigações, um perito da polícia científica, frequentador da casa, depara-se com um malandro do cais do porto, possivelmente envolvido no crime, com quem começa longo embate para saber qual dos dois é o maior sedutor. “Todos os livros têm temas de que gosto, unem romances históricos, policiais e de aventura, todos de alto nível. E ainda trago muito da mitologia indígena, africana e popular, assuntos pelos quais me interesso demais”, destaca o escritor.
Alberto Mussa não costuma se concentrar muito em documentos históricos; diz que quanto mais consulta, mais complicado fica, já que é, antes de tudo, um ficcionista. “Acabo me confundido. Não sou historiador. Meus livros são ficção, apesar de serem baseados em fatos reais. Em A primeira história do mundo, encontrei poucos dados sobre o crime. Sei do básico, que um homem foi morto a flechadas.; que o crime foi motivado pela esposa dele; que na cidade havia muito mais homens do que mulheres e que existiu um condenado. Mas a construção da maioria dos personagens, dos suspeitos, foi criação minha. Busquei elementos da história, mas não segui à risca”, frisa.
Apesar de ainda estar divulgando A primeira história do mundo, o escritor já pensa no próximo livro, que deve se passar no século 19. “Ainda não tenho muito claro o será, mas estou pensando em retratar as camadas inferiores da sociedade, os escravos, a capoeira, o submundo mesmo, porque sempre que a gente pensa em século 19, pensamos logo nas sinhazinhas”, diz.
Lançamento
A primeira história do mundo
(Editora Record, 240 páginas,
R$ 35).Bate-papo com Alberto Mussa, hoje, às 19h30. Sala Juvenal Dias, Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Informações:
(31) 3261-1501.
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